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Jobim e militares abortam crise sobre tortura
Defesa e Exército combinaram evitar discussão originada por livro que trata de mortes na ditadura
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Planalto, a Defesa e o Exército combinaram não alimentar a crise aberta pelo lançamento do livro-relatório sobre
torturas e mortes no regime
militar e considerar como "episódio isolado" a dura nota do
Exército rechaçando a hipótese
de revisão da Lei de Anistia para permitir o julgamento de militares envolvidos na repressão,
como no Chile e na Argentina.
O Comando do Exército avaliou que o efeito da nota foi "excelente", pois foram obtidos resultados esperados: responder
ao ministro da Defesa, Nelson
Jobim, atender à pressão das
tropas por uma posição de autoridade da Força e não gerar
na mídia e na opinião pública a
sensação de atitude golpista.
Apesar de setores da reserva
terem considerado a nota "moderada", a reação na ativa foi
positiva, pois oficiais queriam
uma manifestação do comando
e acharam o tom adequado.
"Episódio isolado"
Agora, a ordem do comandante, general Enzo Peri, é de
recuo. A nota, orientou ele, é
um "episódio isolado" e não o
início de uma queda-de-braço
com Jobim e a autoridade civil.
Apesar da irritação com Jobim, os militares o consideram
um ministro mais forte junto
ao Planalto do que seus antecessores e comemoravam ontem o aumento de 54% do Orçamento com Defesa, com R$ 1,8 bi para reaparelhamento.
Já o clima entre quarta e sexta foi muito tenso no Exército
por causa do livro sobre tortura, "Direito à Memória e à Verdade", que foi assumido como
documento oficial pelo governo e lançado no Planalto com a
presença de Lula. Na solenidade, Jobim fez uma advertência
contra a possibilidade de reações militares contra a obra, dizendo: "Não haverá indivíduo
que possa reagir e, se houver,
terá resposta". Nos bastidores,
o Exército considerou uma
"afronta desnecessária".
O comandante Enzo estava
em Buenos Aires e recebeu
uma fita com os discursos ao
desembarcar no Brasil. Não
gostou. Ele foi à Defesa entregar a nota a Jobim, que já tinha
sido advertido por Lula para
não botar lenha na fogueira.
A primeira versão do texto
era mais dura, mas foi enxugada até se concentrar em três
pontos: contra a revisão da Lei
da Anistia; a manifestação de
que o Exército é um só, desde o
regime militar até agora; e a de
que "todo fato histórico tem diferentes interpretações".
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