São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Jobim e militares abortam crise sobre tortura

Defesa e Exército combinaram evitar discussão originada por livro que trata de mortes na ditadura

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Planalto, a Defesa e o Exército combinaram não alimentar a crise aberta pelo lançamento do livro-relatório sobre torturas e mortes no regime militar e considerar como "episódio isolado" a dura nota do Exército rechaçando a hipótese de revisão da Lei de Anistia para permitir o julgamento de militares envolvidos na repressão, como no Chile e na Argentina.
O Comando do Exército avaliou que o efeito da nota foi "excelente", pois foram obtidos resultados esperados: responder ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, atender à pressão das tropas por uma posição de autoridade da Força e não gerar na mídia e na opinião pública a sensação de atitude golpista.
Apesar de setores da reserva terem considerado a nota "moderada", a reação na ativa foi positiva, pois oficiais queriam uma manifestação do comando e acharam o tom adequado.

"Episódio isolado"
Agora, a ordem do comandante, general Enzo Peri, é de recuo. A nota, orientou ele, é um "episódio isolado" e não o início de uma queda-de-braço com Jobim e a autoridade civil.
Apesar da irritação com Jobim, os militares o consideram um ministro mais forte junto ao Planalto do que seus antecessores e comemoravam ontem o aumento de 54% do Orçamento com Defesa, com R$ 1,8 bi para reaparelhamento.
Já o clima entre quarta e sexta foi muito tenso no Exército por causa do livro sobre tortura, "Direito à Memória e à Verdade", que foi assumido como documento oficial pelo governo e lançado no Planalto com a presença de Lula. Na solenidade, Jobim fez uma advertência contra a possibilidade de reações militares contra a obra, dizendo: "Não haverá indivíduo que possa reagir e, se houver, terá resposta". Nos bastidores, o Exército considerou uma "afronta desnecessária".
O comandante Enzo estava em Buenos Aires e recebeu uma fita com os discursos ao desembarcar no Brasil. Não gostou. Ele foi à Defesa entregar a nota a Jobim, que já tinha sido advertido por Lula para não botar lenha na fogueira.
A primeira versão do texto era mais dura, mas foi enxugada até se concentrar em três pontos: contra a revisão da Lei da Anistia; a manifestação de que o Exército é um só, desde o regime militar até agora; e a de que "todo fato histórico tem diferentes interpretações".


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