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"O tribunal de opinião pública é importantíssimo", diz ministro
Ele fez a ressalva de que, no entanto, ele não pode comprometer a isenção
DA COLUNISTA DA FOLHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Carlos Alberto
Menezes Direito, que passará a
ocupar uma cadeira no STF
(Supremo Tribunal Federal) a
partir desta quarta-feira, disse
que "o tribunal da opinião pública é importantíssimo", desde
que não comprometa a isenção
dos julgamentos do Poder Judiciário, que devem ser com base na razão, não na emoção.
Direito fez essa afirmação ao
ser indagado sobre a decisão do
STF de abrir o processo do
mensalão, marcada pela troca
de e-mails entre os ministros
Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia Antunes Rocha e pelo telefonema de Lewandowski, testemunhado pela Folha, em que ele diz que o tribunal
julgou "com a faca no pescoço",
por pressão da mídia. Ele acredita que as decisões do Supremo no caso do mensalão foram
exclusivamente técnicas e dentro das provas dos autos.
Sétimo ministro nomeado
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro escolhido dentre os integrantes do
STJ (Superior Tribunal de Justiça) após 16 anos, Direito sucederá Sepúlveda Pertence, que
se aposentou.
Na entrevista, ele criticou a lentidão do processo judicial e
defendeu uma profunda reforma na legislação, para simplificar o sistema, que permite dezenas de recursos.
FOLHA - Os 40 denunciados do
mensalão se tornaram réus, mas a
Justiça é acusada de impunidade
quando trata de poderosos.
DIREITO - Não concordo com a
afirmação. Acredito que o sistema processual brasileiro tem
inúmeras dificuldades, pela
grande quantidade de recursos
existentes. É uma lentidão do
processo judicial, não é culpa
dos juízes. Se uma pessoa entra
com uma ação de indenização
por danos morais, por exemplo,
pode haver 15 recursos só na
preliminar [antes do exame do
mérito].
FOLHA - O foro privilegiado não é
fator de impunidade, até mesmo
por eventual falta de vocação dos
tribunais superiores, o STJ e o STF,
para ações penais?
DIREITO - Não tenho opinião sobre o foro privilegiado, mas
concordo que os tribunais não
têm estrutura para manter processos penais originários sem
criar alguns mecanismos que
aliviem a carga. Um ministro
do STJ recebe por mês 1.200
processos. Então a dificuldade
não é o foro privilegiado, mas a
estrutura disponível.
FOLHA - No julgamento do STF, o
tribunal agiu tecnicamente ou jogou um pouco para a platéia?
DIREITO - Tenho a mais firme
convicção de que o STF julgou
de acordo com a prova dos autos, dentro de uma perspectiva
exclusivamente técnica.
FOLHA - Mas a opinião não influenciou o resultado?
DIREITO - A nossa liberdade depende muito da nossa capacidade de separar o tribunal da
opinião pública do tribunal institucional. No momento em
que nos deixarmos levar apenas pelo tribunal da opinião
pública, perderemos a condição de julgar com isenção. O tribunal da opinião pública é importantíssimo, mas ele deve ser subordinado ao tribunal institucional formal. Não se pode
vincular a razão à emoção.
Quando se julga, deve-se julgar
de acordo com a lei, só com a razão.
FOLHA - Quando o ministro Ricardo Lewandowski afirma que o STF
julgou a denúncia do mensalão com
"a faca no pescoço", ele está confessando uma enorme dose de emoção.
DIREITO - Todo juiz é apenas um
ser humano. Temos nossos
sentimentos, emoções, medos,
angústias, dificuldades. Nenhuma dessas reações humanas pode ser interpretada para
o mal. São apenas reações humanas. Todos nós somos
iguais, na mesma natureza,
com a mesma essência.
FOLHA - O nome do senhor foi citado em e-mails sugerindo que haveria uma troca: ministros rejeitariam a denúncia, e o senhor seria indicado. Essa comunicação entre dois ministros também revelou que o Supremo estaria dividido em grupos.
DIREITO - Eu não acredito nenhum minuto que tenha havido divisão em grupo do STF.
Falei com todos os meus colegas, quero bem a todos eles. Eu
li hoje [sexta], no jornal, uma
afirmação do ministro Lewandowski de que ele não se referiu
a uma troca de voto por nomeação, que se referiu a mudança
de voto, de convicção pessoal, o
que pode acontecer com todos
nós, juízes.
FOLHA - Como o senhor vê o papel
da imprensa nos dois episódios: a divulgação dos e-mails e do telefonema no restaurante?
DIREITO - Não posso responder
sobre caso concreto, porque
amanhã pode ser necessário
que eu venha a julgá-lo. Em tese, a liberdade de imprensa como ação humana está subordinada à responsabilidade civil.
Todo aquele que se sente lesado vai ao Judiciário, que vai
examinar se houve ou não a lesão. Isso é o princípio da ponderação entre os direitos e garantias individuais e a liberdade de informação.
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