|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO ITAMAR
Empresários e sindicalistas criticaram o então ministro
Ciro teve gestão turbulenta no Ministério da Fazenda
da Sucursal de Brasília
O presidenciável Ciro Gomes teve uma passagem turbulenta pelo
Ministério da Fazenda, o cargo de
maior projeção nacional que já
ocupou.
Ciro foi ministro por menos de
quatro meses, no final da gestão
Itamar Franco, em 94. Desgastou-se nesse curto período e foi
descartado como opção para a
mesma pasta no governo Fernando Henrique Cardoso, o que ajuda
a entender por que deixou os tucanos e se filiou ao PPS.
Ele começou sua vida de ministro chancelando uma radical abertura do país às importações, revista depois por FHC, e terminou
com uma intervenção federal no
Banespa e no Banerj, no último dia
útil do ano.
Nesse meio tempo, recomendou
"porradas" para combater a inflação, chamou consumidores de
"otários" e classificou de "canalhice" uma suposta intenção das
empresas de aumentar preços
após as eleições.
A enxurrada de importações pôs
o empresariado, especialmente o
paulista, contra Ciro. Interferências em greves dos petroleiros e
dos metalúrgicos fizeram o então
ministro ser atacado pelo PT.
Lepra e catapora
Ciro Gomes chegou à Fazenda
por um acidente -o que pôs no
ar, por meio de antenas parabólicas, declarações desastrosas do
ex-ministro Rubens Ricupero sobre seu apoio ao candidato oficial
à Presidência, FHC.
Com a queda de Ricupero, Itamar quis um político de sua confiança à frente da equipe econômica, na qual não confiava.
Ciro, que governava o Ceará, foi
alçado ao cargo com fama de bom
administrador e, sobretudo, de
bom comunicador.
Sem intimidade com temas econômicos, foi o papel de comunicador que Ciro tratou de priorizar.
"Com umas quatro porradas, a
gente faz a inflação cair", declarou
um dia depois de anunciado ministro da Fazenda.
Defendeu o Plano Real -que, na
época, ainda estava em fase de
ajustes- em locais tão inusitados
como Belford Roxo (região metropolitana do Rio), Mossoró (RN),
Caruaru (PE) e Maringá (PR).
A primeira crítica à indicação de
Ciro deveu-se a sua filiação partidária: depois do episódio Ricupero, temia-se que um ministro tucano usasse seu cargo para favorecer Fernando Henrique Cardoso.
"Ser do PSDB não é lepra nem catapora", disse Ciro na época.
Apoio no PFL
O primeiro partido a declarar
apoio à permanência de Ciro na
Fazenda foi o PFL.
Logo após a escolha de Ciro, caciques pefelistas como Antonio
Carlos Magalhães (BA) e Marco
Maciel o definiram como o nome
ideal para a pasta no governo Fernando Henrique.
"Ciro Gomes já era um ministro
certo na equipe de FHC. Agora, se
tiver êxito, terá lugar certo na pasta", disse ACM.
O destempero verbal de Ciro,
porém, começou a fazer a atuação
do ministro ser questionada por
políticos e empresários -sem falar na própria equipe que comandava.
Em outubro, às vésperas do lançamento de um pacote de contenção do consumo, Ciro disse que
poderia elevar os juros "lá para o
céu" e restringir o crediário para
"salvar o Plano Real".
Até então, não passava pela cabeça de ninguém que o Real precisasse ser salvo.
Cresciam as reclamações de empresários contra as importações e
o arrocho ao crédito.
Ciro não evitava o tom de confronto. "Estou pouco ligando se a
Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) me apóia ou
não", afirmou.
Ministério FHC
Em dezembro, o já eleito Fernando Henrique começa a anunciar nomes para seu ministério.
O primeiro nome divulgado é
justamente o da Fazenda, que ficaria com o então presidente do
Banco Central, Pedro Malan, de
estilo oposto ao de Ciro Gomes.
Antes do anúncio oficial, Ciro já
sabia da escolha de FHC. O futuro
presidente da República reservava
para ele um outro lugar em sua
equipe: o Ministério da Saúde,
pasta que Ciro recusou.
Esvaziamento
Esvaziado na Fazenda -Malan
já dava as cartas da política econômica- e no final de sua gestão,
Ciro trombou ainda com José Serra, escolhido ministro do Planejamento, e Henrique Santillo, ministro da Saúde do governo Itamar
Franco.
Cobrou publicamente de Serra
apoio à política de câmbio, criticada pelo futuro ministro, e disse haver irregularidades na Saúde.
Henrique Santillo divulgou nota
cobrando provas, e Serra foi aconselhado a não polemizar com o
ministro que saía.
(GUSTAVO PATÚ)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|