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Clientelismo resiste no subúrbio
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Que polícia, que nada. O Jardim
Ângela -o distrito mais violento
de São Paulo, com 222 assassinatos registrados no ano passado-
está mais preocupado com água
encanada, esgoto e asfalto. Como
não há nem nesga de prefeitura
por perto, está montado o cenário
perfeito para o escambo.
No dia da eleição, a a dona-de-casa Francisca Fátima de Souza,
42, exibe a mais recente conquista
de sua favela -vielas de concreto:
"Nós vivíamos no meio dos ratos,
as crianças viviam com doença de
rato, e o Milton Leite nos salvou".
Salvou, segundo ela, porque deu
o material para a concretagem de
uma dezena de vielas do Jardim
Caiçara, uma das favelas do Jardim Ângela, na zona sul. Fátima
retribuiu votando nele.
Ratos
Os ratos já não invadem as casas; ficam nos córregos. "Votei no
Milton Leite porque ele fez essa
obra aqui. O Maluf só faz concreto
lá na cidade", diz o catador de sucata Edson de Oliveira, 30.
Leite é o vereador do PMDB que
foi relator da CPI da máfia dos fiscais e é candidato à reeleição. "As
pessoas têm a impressão de que
fui eu que fiz a obra, mas não fiz
nada. Entidades próximas a mim
doaram o material e a população
concretou a viela em mutirão.
Não tem crime nisso. Foi tudo feito antes de 5 de julho e não pedi
um voto", rebate.
Não é só com Leite que os eleitores supostamente se confundem.
A líder comunitária Elza de Lima
Souza, 51, que trabalha para o
candidato a vereador Alan Lopes
(PTB), também foi vista distribuindo cestas básicas nas vésperas da eleição, mas diz que não há
clientelismo: "Não distribuo cesta
básica no comitê do vereador.
Distribuo na comunidade. São
cestas do governo do Estado. Não
discrimino. Há pessoas que pegam cesta comigo e trabalham para o Milton Leite. Não há troca
por votos", relata.
Bangue-bangue
O Jardim Ângela ganhou fama
por causa da violência. Os 222 homicídios do ano passado foram
registrados num universo de
221.424 moradores. É mais do que
o dobro de assassinatos contados
em Nova York, cuja população é
de cerca de 7 milhões.
A impressão de que ali se vive
um bangue-bangue parece ser
mais alienígena. "Prefiro asfalto
do que segurança. Para mim, aqui
não é perigoso", diz o mecânico
Cleber Rodrigues, 27, que mora
numa rua em que as promessas
de pavimentação têm 15 anos.
Ele votou em Romeu Tuma não
porque o candidato do PFL foi
policial, mas "porque ele prometeu descentralizar as administrações regionais".
O discurso de Paulo Maluf de
colocar a polícia nas ruas já não
convence, segundo o candidato a
vereador Zé Auto Peças (PSC),
apelido de José Andrade Rodrigues, 55. Ex-cabo eleitoral de Maluf, Zé diz que os homicídios são
só um sintoma: "O problema aqui
é lazer. Os jovens precisam de
ocupação e só sobrou uma quadra. Os policiais não são preparados para combater a violência".
Lucila Pizani Gonçalves, 42,
candidata a vereadora pelo PT,
concorda com Zé Auto Peças na
avaliação. Mas sua proposta para
combater os assassinatos vai além
do esporte: "A escola deveria ser
um centro de referência contra a
violência. Não basta ensinar a ler e
a fazer contas. Tem de ensinar a
valorizar a vida".
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