São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO

Vigiado pelo tráfico, Exército faz sua maior operação no Rio

Traficantes debocham de militares mobilizados para dar segurança às eleições

Exército e Marinha utilizam 20 blindados, 200 veículos, seis helicópteros e 4.300 homens durante a ocupação do Complexo do Alemão


Rafael Andrade/Folha Imagem
Soldados tomam posição de tiro no alto do Complexo do Alemão, em Ramos, zona norte do Rio


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes do Complexo do Alemão monitoraram de perto e por rádio as atividades de 4.300 militares, agentes do Tribunal Regional Eleitoral e profissionais da imprensa, ontem, na maior mobilização de tropas da Operação Guanabara, criada para dar segurança ao processo eleitoral no Rio de Janeiro. Em algumas conversas ouvidas pela Folha, através de um rádio, o tom era de deboche em relação ao trabalho dos militares.
A equipe da Folha esteve na favela Nova Brasília e apurou que, apesar da concentração de militares, os criminosos se misturaram à população, acompanhando os movimentos de soldados e jornalistas, enquanto outros mantinham contatos por rádio sobre as posições do Exército e dos repórteres.
Pelo rádio, os traficantes zombavam dos militares: "Ô cu verde! O negócio de vocês é arrancar pauzinho [propaganda] pendurado em poste! Vocês estão aí, no sol quente, cheios de peso nas costas, e a gente está aqui em cima com a mulherada!", disse um deles. Eles estavam em alerta desde a chegada das tropas: "Não precisa soltar fogos [aviso de presença da repressão], não! Tá cheio de bico espalhado. Tá tudo controlado!", disse um homem ao rádio.
O presidente interino do TRE, Alberto Motta Moraes, reconhece que todos eram observados. "Ouviu-se muita conversa das radiocomunicações deles, relativa até ao helicóptero que estava chegando e que eles confundiram com o da polícia. A gente sabe que está sendo observado não só pela imprensa, mas também por outros", afirmou Moraes.

Maior operação
Para ocupar cinco pontos do mais armado conjunto de favelas do Rio -de acordo com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame-, as Forças Armadas montaram a maior mobilização militar desde o início da Operação Guanabara, em 11 de setembro.
Além dos 3.500 soldados de unidades do Exército e 800 da Marinha, foram usados 200 veículos, sendo 20 blindados Urutus e seis helicópteros. Conduziam as tropas o comandante da 1ª Divisão de Exército, general-de-divisão Rui Monarca da Silveira, e os generais das duas brigadas. Mais mil soldados da Artilharia Divisionária ficaram de prontidão.
Pela primeira vez na operação, foram usados 200 homens da Brigada de Operações Especiais, tropa de elite do Exército baseada em Goiás. O destacamento Mascarenhas foi o primeiro a entrar, de madrugada, e assumiu posição dominante, no alto do morro do Alemão. Eles hastearam uma bandeira do Brasil. Depois, a banda da Brigada Paraquedista entrou tocando "Cidade Maravilhosa", hinos de clubes de futebol e a música "Será", da banda Legião Urbana.


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