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ELEIÇÕES 2008 / LEGISLATIVO
Vícios travam Câmara, dizem candidatos
Em debate promovido pela Folha, postulantes ao cargo de vereador em São Paulo criticam "submissão" ao Executivo
Interesses paroquiais, falta de discussão de projetos e inexistência de técnicos mais qualificados dificultam atuação, afirmam políticos
DA REPORTAGEM LOCAL
A defesa de interesses paroquiais, a relação promíscua
com o Executivo e a falta de um
corpo técnico qualificado são
alguns dos problemas crônicos
da Câmara Municipal apontados pelos candidatos a vereador que participaram, a convite
da Folha, de um debate sobre
Legislativo paulistano, anteontem, na sede no jornal.
Mediado pelo colunista Gilberto Dimenstein, o encontro
teve a presença de Nabil Bonduki (PT), Marcos Cintra (PR),
Mara Gabrilli (PSDB) e Fauzi
Hamuche (PP), cada um deles
ligado a um dos quatro candidatos à prefeitura que mais
pontuaram até agora, segundo
as pesquisas do Datafolha.
Para Bonduki, arquiteto que
já ocupou assento na Câmara
no governo Marta Suplicy
(2001-2004) e apóia a candidatura da ex-prefeita, os vereadores abriram mão de seu poder
de legisladores, como definir o
Orçamento e discutir o mérito
de projetos, para abraçar outro
poder, o de indicar cargos no
Executivo e liberar verbas para
obras localizadas em suas bases
eleitorais.
"O plenário da Câmara é um
cenário e as comissões são inúteis. Os projetos são aprovados
sem discussão", disse o petista.
Ele cita, porém, uma exceção, a
aprovação do Plano Diretor, na
qual desempenhou papel central durante a gestão de Marta.
Cintra, vice-presidente da
FGV-SP (Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo) e apoiador da candidatura reeleitoral
de Gilberto Kassab (DEM), segue linha parecida. "Não podemos dar uma de avestruz e
achar que isso não existe", disse, a respeito da cooptação de
parlamentares. O economista,
que foi vereador na gestão de
Paulo Maluf (1993-1996), classificou como "suborno" a indicação de cargos, a troca de favores e a promiscuidade do Legislativo com o Executivo.
Para Cintra, a linha entre tais
práticas e a compra direta do
voto do vereador "é tênue".
Gabrilli, que está na Câmara
desde meados da atual legislatura (era suplente) e integra o
mesmo partido do candidato
Geraldo Alckmin (PSDB), demonstra certa frustração com
os trabalhos em plenário.
"O mérito do projeto é o que
menos conta e isso é o que dói,
é o que arrasa", afirmou a candidata à reeleição. "Nunca vi
acontecer discussão aprofundada de projeto", completou.
Hamuche, médico e empresário que tenta chegar à Câmara com o apoio de Paulo Maluf
(PP), disse ser um "novato" no
assunto. Ele destoou dos demais sobre o que entende ser o
papel de um vereador.
"É preciso estar próximo do
povo, criar uma linha direta
com quem, por exemplo, não
encontra um médico para ser
atendido", disse. "Se essa pessoa tiver como chegar num vereador que possa ajudar, eu garanto que isso será resolvido."
Questionado sobre se concorda com as práticas de seu
colega de partido, o vereador
Wadih Mutran, que disponibiliza uma ambulância para seus
eleitores, ele respondeu: "Tem
que ter muita ambulância por
aí, mas não concordo com relação de submissão", disse.
"Centrão"
Os quatro postulantes à Câmara também discutiram o papel do "centrão", um grupo de
cerca de 20 vereadores de várias legendas que atua como
uma bancada e tem como principal objetivo aumentar seu poder de negociação com o Executivo, seja ele do PT, do PSDB
ou do DEM.
"Não há nada que una esse
grupo, a não ser interesses pessoais", avaliou Cintra. "É uma
entidade poderosa que comanda as negociações da Câmara",
disse Gabrilli. "Com partidos
mais fortes, o "centrão" acaba",
sugeriu Hamuche. "Esse grupo
não será superado sem uma reforma política", disse Bonduki,
para quem, em outros graus, o
fenômeno é repetido em Assembléias Legislativas e no
Congresso Nacional.
Sobraram críticas também
para "a atuação política" do
TCM (Tribunal de Contas do
Município) e os gastos do órgão, R$ 163 milhões anuais que,
segundo Bonduki, poderiam
ser usados para melhorar o corpo técnico da Câmara.
Gabrilli também reclamou
da qualidade dos quadros permanentes da Casa e citou outra
dificuldade: o processo demorado para obter dados da administração com o Executivo.
Os candidatos também discutiram temas da cidade: todos
são contra novas taxas e o pedágio urbano; Hamuche defende
a tarifa zero para os ônibus subsidiada com o corte de pessoal
da prefeitura; Bonduki vê a tarifa zero com bons olhos, mas
acha difícil implementá-la;
Cintra considera a idéia economicamente inviável; Gabrilli
critica o fato de o peso da gratuidade para alguns passageiros recair sobre outros usuários
do sistema de transporte.
Leia o perfil de todos os
candidatos a vereador em
São Paulo
www.folha.com.br/082572
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