São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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SÃO PAULO

Prefeito eleito diz esperar de Marta a mesma "altivez" na transição de FHC a Lula

PT agora propõe fim das taxas; Serra critica via do 'terrorismo'

Jorge Araujo/Folha Imagem
O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), durante pronunciamento e entrevista coletiva no Hotel Crowne Plaza, ontem à tarde


RICARDO BRANDT E
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em sua primeira entrevista como prefeito eleito de São Paulo, o tucano José Serra cobrou ontem que o PT repita a "altivez" do PSDB em 2002 e proporcione uma transição pacífica na cidade.
Frisando que o "PSDB sabe separar os interesses do partido e os interesses do povo", Serra lembrou o processo de transmissão iniciado por Fernando Henrique Cardoso em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu a eleição para a Presidência.
O tucano reafirmou "a expectativa de governar a cidade sem a oposição do quanto pior melhor, que prejudica o interesse público". Serra fez o discurso depois de o presidente da Câmara, o petista Arselino Tatto, propor a extinção das taxas já para o ano que vem, num sinal de que o clima pode esquentar nos próximos dias.
"Não acredito que o PT optasse por esse caminho, porque o caminho do terrorismo, da chantagem, o caminho das agressões, dos 1.500 comerciais, dos senadores dedicando três ou quatro programas a ataques, este caminho foi derrotado na eleição. Seria uma ironia se voltassem agora sob a forma dessas represálias".
Para Serra, o eleitor escolheu a "forma republicana de governar". "Nosso partido, PSDB, é comprometido com a causa republicana. Não mistura interesse de partido com o do governo. O eleitor vem nos lembrar que o dinheiro público é do povo. Essa foi uma eleição baseada em valores", disse.
Serra afirmou que o PSDB "não hesitou em votar a agenda de reformas defendidas pelo governo [federal]" e disse esperar que o PT "jogue pela cidade". Ele afirma crer que "o PT tem valores melhores que os que se manifestaram na campanha".
Sobre o risco de tratamento diferenciado a São Paulo por parte do governo federal devido a sua vitória -como chegou a ser cogitado pela campanha petista-, Serra se mostrou incrédulo. "A confiança venceu o medo", disse ele. "A confiança nas instituições venceu porque a população votou apesar de ameaças infundadas de que, caso não ganhasse a candidatura situacionista, o governo federal se afastaria de suas obrigações em relação a São Paulo".
Ao mesmo tempo em que critica a conduta do PT municipal, Serra ressalta o espírito democrático do presidente Lula: "Temos certeza de que o governo do presidente Lula continuará sua relação com São Paulo em função do interesse público, em função dos interesses da população da maior cidade brasileira".
Serra deixou claro que só aguarda um sinal do PT para colocar sua equipe de transição em trabalho. "A expectativa é termos um mecanismo de transição que foi tão bem sucedido no caso federal, quando o governo do presidente Fernando Henrique abriu todas as informações, inclusive de medidas que estavam tomando depois das eleições."
Mas, segundo o tucanato, se até a próxima semana não houver qualquer iniciativa por parte da prefeita Marta Suplicy (PT), o partido convocará uma reunião para iniciar a transição.
O aceno foi dado porque os tucanos temem retaliação petista. Um indicativo seria a ameaça de Tatto. Outro, o movimento dos aliados de Marta para redução da margem de remanejamento do orçamento de 15% para 1%. Além disso, o PSDB cita a dificuldade de obtenção de dados da administração -o que foi classificado por Serra como "caixa-preta" - durante a campanha.
Segundo o deputado Alberto Goldman, "os petistas saíram enlameados da disputa". Agora, espera-se "dignidade na transição". O vereador eleito José Anibal chamou de "infantil" a ameaça de Arselino Tatto. Mais comedido, o deputado federal Aloysio Nunes Ferreira disse que essa foi uma declaração feita de "cabeça quente". O deputado evocou a maturidade política de Lula.
Por isso, em seu discurso, baseado em rascunhos, Serra afirmou que o "PSDB foi altivo na derrota em 2002 e vai saber ser humilde na vitória em 2004".
Ele, no entanto, foi evasivo quando questionado sobre o que faria com as informações obtidas na transição. Em 2002, Lula deixou claro que não exporia as mazelas do governo anterior. Serra, por sua vez, não respondeu.
O tucano deve viajar nos próximos dias.


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