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MÍDIA X PLANALTO
Questionado sobre novas denúncias, presidente se irrita, não responde e critica "perguntas aos gritos"
Lula reclama de "má educação" de repórteres
PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No momento em que mantém
seguidas críticas à imprensa, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva colocou ontem mais combustível na turbulenta relação
entre mídia e Palácio do Planalto. No Itamaraty, primeiro falou
em "falta de educação" dos jornalistas que lhe dirigiram perguntas. Depois, pediu que um
assessor levasse aos repórteres o
recado de que "está ficando insuportável" o hábito de o questionarem aos gritos.
O presidente ficou irritado ao
ser abordado por jornalistas no
saguão do Itamaraty, quando,
ao lado do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores),
aguardava a chegada do primeiro-ministro da Jamaica, Percival
Patterson. Como em todas as
vezes que o presidente vai ao local, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas estavam confinados
em um canto do salão, em espaço delimitado por fitas e protegido por seguranças, a cinco metros de Lula.
Ontem, o presidente fez um
comentário ríspido aos repórteres quando questionado sobre
as denúncias de que campanhas
petistas teriam sido financiadas
por Cuba: "Mas que falta de
educação". Ante a insistência
das perguntas, questionou: "Vocês não querem falar da Jamaica?". O presidente disse que depois faria uma "declaração".
Quando o premiê jamaicano
chegou, não houve nenhuma
pergunta ou interrupção.
Depois da declaração conjunta -sem direito a perguntas-
e de um almoço a portas fechadas, Lula conduziu o jamaicano
até a saída.
Quando o primeiro-ministro
saiu, recomeçaram os pedidos
para que o presidente falasse
com a imprensa. À medida que
Lula se afastava, sem olhar para
os jornalistas, o tom dos repórteres aumentava.
Depois que o presidente sumiu de vista, um assessor apareceu para reclamar do comportamento dos jornalistas. Dizia trazer um recado de Lula, que teria
se incomodado com os "gritos"
dos repórteres: "Essa tentativa
de fazer com que ele fale aos gritos é contraproducente", falou.
Em quase três anos de governo, Lula deu uma única entrevista coletiva, com regras rígidas
que na prática impediam questionamentos mais incisivos.
Desde que assumiu a Presidência, Lula protagoniza relação
tensa com a imprensa. Um
exemplo foi a tentativa de expulsar o jornalista Larry Rohter, do
"New York Times", após ele ter
publicado reportagem na qual
acusava Lula de supostos abusos
alcoólicos.
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