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Senadores assediam Petrobras por verbas
Levantamento da estatal revela que 8 dos 18 integrantes de CPI que a investiga pediram patrocínio entre 2000 e 2004
Foram feitas solicitações de ajuda para filme, escola de samba e prova de motocross, entre outros; interferência em investigação é negada
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Alvo de uma fracassada CPI
no Senado, a Petrobras é assediada com frequência por senadores atrás de verbas para custear todo tipo de evento, de patrocínios a filmes e provas de
motocross a renovação de contratos com rádios do interior.
Há dois meses, logo após a
criação da Comissão Parlamentar de Inquérito que deveria investigá-la, a Petrobras fez,
em sigilo, um levantamento
dos pedidos encaminhados pelos senadores desde 2000. A
Folha teve acesso aos dados
que vão até o ano de 2004. São
50 páginas de tabelas que registram a data, o objeto do pedido
e o nome do congressista.
O levantamento registra que
pelo menos oito, dos 18 senadores que integram a CPI -incluindo o relator, Romero Jucá
(PMDB-RR), e o vice-presidente da comissão, Marcelo Crivella (PRB-RJ)-, fizeram algum
tipo de pedido à petroleira. Os
líderes dos principais partidos
e o presidente da Casa, José
Sarney (PMDB-AP), também
buscaram na companhia apoio
financeiro a projetos diversos.
Instalada em julho, a CPI ficou sob comando do bloco governista e pouco investigou.
Sob protesto da oposição, que
ameaça abandoná-la, a comissão deverá isentar de qualquer
irregularidade os principais
gestores da estatal.
Ao todo, 32 senadores fizeram pedidos à petroleira entre
2000 e 2004. A mais insistente
foi Ideli Salvatti (PT-SC), com
dez pleitos. Ela pediu recursos
para uma escola de samba de
Florianópolis e um projeto de
coleta de lixo e a instalação de
ar condicionado numa biblioteca pública. Procurada, a assessoria não se manifestou.
Os líderes têm papel fundamental nos acordos em torno
da CPI. Osmar Dias (PR), líder
do PDT, formulou sete pedidos
até 2004. Ele queria recursos
para custear a festa de Nossa
Senhora do Rocio em Paranaguá (PR) e encaminhou uma
"proposta de parceria formulada pela rádio Timburi FM, da
cidade de Andirá (PR)".
Dias afirmou que se sente
desconfortável em pedir os recursos. "Acho um horror. Às
vezes, eu me sinto um despachante, mas não posso me negar a atender um pedido."
O senador afirmou que ser
procurado por pessoas que
querem patrocínio da Petrobras "não é comum, é [de fato]
a regra". "Ninguém consegue
acesso à Petrobras a não ser
com interlocução política."
Líder do PRB, além de vice-presidente na CPI, Crivella
queria apoio da Petrobras a um
festival nacional de cantadores
repentistas e ao "Projeto Nordeste", que funciona na Fazenda Nova Canaã, ligada à Igreja
Universal do Reino de Deus em
Irecê (BA). O senador disse que
não recebeu resposta da estatal
sobre seus pedidos, e que, "portanto, não foram atendidos".
Crivella não vê problema na
CPI: "Como vice-presidente da
CPI, estou satisfeito, pois todos
os questionamentos, até agora,
foram respondidos".
Delcídio Amaral (PT-MS)
aceitou dar à Folha acesso a todos os seus pedidos, incluindo
os do período 2004-2009. Endereçou 39 pleitos à Petrobras,
e disse ter tido apenas um atendido -a transferência de um
funcionário da companhia, a
pedido do próprio servidor.
O senador Arthur Virgílio
(PSDB-AM) pediu patrocínio
para três projetos entre 2001 e
2003: o filme "Parusia, a Ira do
Juízo", o 30º Congresso Nacional dos Jornalistas e um projeto da Escola Superior de Magistratura do Amazonas.
"Não vejo crime nem pecado
no fato de o político enviar um
pedido à estatal, para que, dentro da lei, e se for da conveniência dela, ajude um projeto. Outra coisa é criar uma Oscip [espécie de ONG] para ficar rico.
O que fiz não interessaria a CPI
nenhuma, mas o que alguns fizeram tanto interessa que eles
não deixam apurar", disse.
A reportagem pediu à Petrobras acesso a todos os pedidos
de congressistas entre 2000 e
2009, mas a estatal não os forneceu, sob alegação de que não
tem os dados consolidados.
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