São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2000

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CASO TRT
Imagem de ex-juiz se entregando é questão de honra para o governo
Foto dificulta acordo com Nicolau

MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As negociações entre o governo federal e os advogados de Nicolau dos Santos Neto para a prisão do ex-juiz tiveram novos lances durante os últimos dias, mas emperraram num impasse: a foto. Governo e aliados de Nicolau discordam sobre a possibilidade de o ex-juiz ser fotografado no momento em que se entregar para a Polícia Federal. Até agora, não há acordo.
Para o governo - e principalmente para o ministro José Gregori, da Justiça- , a foto é uma "questão de honra". A prisão resolveria parte do desgaste que o ministro -e a própria PF- vem sofrendo. Para os advogados, representaria uma humilhação.
O governo também teme que, caso concorde com a condição, venha a ser acusado de estar privilegiando o ex-juiz, que é um dos acusados pelo desvio de R$ 169 milhões da obra do TRT paulista.
Outras condições, como não ser algemado, entregar-se à noite e ficar em cela especial, teriam sido bem recebidas. O ministério avalia que não seria privilégio dar esses direitos a Nicolau, que tem mais de 70 anos e curso superior.
A forma cautelosa como a negociação tem sido conduzida faz com que os policiais que investigam o caso não estejam animados com a possibilidade de que o ex-juiz se entregue. Em geral, os contatos são feitos com Gregori e só são discutidos com a cúpula da PF. O advogado do ex-juiz, Alberto Toron, afirmou à Folha que não comentaria o assunto. "Tudo o que eu tenho a dizer está no artigo que já publiquei sobre o caso na própria Folha", disse. No artigo, ele diz que "nem no regime militar se colocaram tantos cartazes com fotos de pessoas procuradas nos aeroportos como se fez agora, em plena democracia".
Também nos últimos dias a PF tem recebido dicas de pessoas próximas a Nicolau, mas teme estar sendo despistada.
Segundo fontes da PF, contas de Nicolau no exterior -principalmente a que alimenta o cartão de crédito com o qual o ex-juiz comprou passagens aéreas em julho- estariam sendo monitoradas e, embora tenham saldo, estão inalteradas.
Um outro problema que estaria levando o ex-juiz a hesitar em se entregar, segundo a Folha apurou, é a possibilidade de ele não conseguir mais nenhum juiz que lhe conceda habeas corpus. O próprio juiz Casem Masloum, que decretou a prisão preventiva do juiz, já afirmou que não deverá revertê-la.
No Ministério Público, cogita-se a hipótese de indiciar, como cúmplice, a mulher de Nicolau, Maria da Glória Bairão, que estaria acompanhando o marido na fuga. Assim, avaliam, aumentaria a pressão entre os familiares para que Nicolau se entregue.


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