São Paulo, sábado, 02 de dezembro de 2000

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CRISE NO CARLISMO
Senador convence Benito Gama a não deixar o PFL por enquanto; outros pefelistas estão insatisfeitos
ACM tenta abafar crise em seu reduto

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), foi pessoalmente a Salvador tentar contornar a mais grave crise do carlismo na Bahia, detonada pela transferência de três deputados federais do PFL para o PMDB e pela demissão, ontem, do secretário da Indústria e Comércio, Benito Gama.
"ACM é individualmente muito forte, e a estrutura carlista, no momento, ainda é estável. No futuro, não dá para avaliar", disse Benito à Folha, deixando no ar que não descarta sair do PFL. Depende de seu espaço no partido.
A crise abre um processo de divisão interna no PFL baiano em função da sucessão estadual em 2002, num momento em que ACM está envolvido num conflito nacional: a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado, que divide a base governista. O PFL de um lado, o PMDB e o PSDB de outro.
Além de Benito, outros políticos de expressão -como o senador e ex-governador Paulo Souto e o deputado federal José Carlos Aleluia- estão insatisfeitos com suas posições no esquema de poder do grupo. Eles não falam em sair do PFL, mas reservadamente têm criticado outros carlistas.
Benito Gama foi preterido como candidato a governador em 1994 para o hoje senador Paulo Souto, e em 1998, para o deputado Luís Eduardo Magalhães. Com a morte deste, ACM preferiu bancar o nome de Cesar Borges, atual governador. ACM se reuniu de manhã a sós com Benito. De tarde, houve novo encontro, no Palácio de Ondina, com a presença do governador. O principal líder pefelista convenceu Benito a ficar, por enquanto, no PFL.
O deputado, porém, condicionou sua decisão final à identificação do autor de uma carta anônima que circula fartamente em Salvador dizendo que ele está envolvido em grilagem de terra, recebeu propina da Ford da Bahia e teria um helicóptero de US$ 2 milhões.
Ele nega tudo e desconfia que o autor seja do próprio PFL: "Vamos aguardar. Se for do partido, vamos ter problema", disse. Conforme a Folha apurou, uma das suspeitas recai sobre o secretário de Fazenda, Albérico Mascarenhas, ligado ao ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, homem de confiança de ACM.
Ficou decidido entre ACM, Borges e Benito que a saída seria justificada como uma decisão pessoal do secretário. Oficialmente, Benito passa o cargo a outro deputado federal, Aroldo Cedraz (PFL-BA), para voltar à Câmara: "Já havia falado com o governador que tinha essa idéia e resolvi agora".
Além da saída do secretário, da insatisfação de outros carlistas de primeiro time e da mudança de partido de três deputados federais pefelistas, há outros sinais de que a crise é feia. O deputado pefelista José Lourenço está indeciso entre o PMDB e o PSDB. E o pepebista Yvonílton Gonçalves está com um pé no PMDB.
Na guerra parlamentar com o PMDB, ACM tentou dar o troco. Anunciou ontem que dois deputados federais peemedebistas vão ingressar no PFL: Pedro Irujo (com quem já trocou graves acusações no passado) e Franscistônio Pinto.
Para ACM, a única solução poderá ser ele próprio se candidatar ao governo da Bahia em 2002, porque seria o único a não ser contestado. Se não for ele, estará deflagrada a disputa pelo seu espólio político, um dos maiores do país.


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