São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAPAI NOEL

Ex-prefeito enfeita pinheiro em casa, nega estar deprimido e pede menos ortodoxia a Lula

Maluf entrevista a si mesmo e diz que "ninguém atira em árvore sem frutos"

JORGE ARAUJO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

"Ninguém atira pedras em árvore que não tem frutos", diz Paulo Maluf, 73. Um dia após a Justiça rejeitar o seu pedido de prisão, mas acolher a denúncia que o transforma em réu, sob a acusação de evasão de divisas, entre outros crimes, o ex-prefeito diz se sentir "perseguido".
A metáfora da "árvore, das pedras e dos frutos" foi usada por Maluf no momento em que cuidava de enfeitar, ele mesmo, uma outra árvore -de Natal.
Quando chegou em casa, nos Jardins, por volta das 12h20, o ex-prefeito deparou com duas funcionárias instalando na sala a árvore de Natal da família Maluf -um enfeite com 5.000 lâmpadas. Ele havia aceitado fazer uma sessão de fotos da rotina familiar a convite da Folha. "Eu vou colocar aqui um Papai Noel e você fotografa", disse ao repórter-fotográfico, enquanto começava a mexer nos arbustos.
Efusivo, Maluf negou estar deprimido: "A saúde vai muito bem. Isso foram rumores que inventaram pelos jornais".
Enquanto era fotografado, Maluf foi observado pelo neto, Otávio, 19, que carregava cinco gravatas na mão. Almoçou a seguir com o neto e a mulher, Sylvia, que questionou, contrariada, a necessidade de serem fotografados à mesa.
Maluf se recusou a conceder entrevista. "Não combinamos isso", reagiu. Aceitou, porém, logo em seguida, simular uma entrevista, fazendo ao mesmo tempo o papel de entrevistador e de entrevistado. Pegou o gravador na mão, sentou-se numa cadeira no corredor e começou a falar. Deteve-se por quase 15 segundos em silêncio antes de responder a uma questão que havia formulado a si mesmo. Leia trechos da auto-entrevista de Maluf:
 

Paulo Maluf perguntaria para Paulo Maluf: como é que você acha que deve ser o Natal dos brasileiros e o que Papai Noel devia dar de presente ao Brasil?
Paulo Maluf responde -
O Natal dos brasileiros deveria ser comemorado com amor, com espiritualidade, com Deus e Jesus no coração. O presente que eu gostaria que Papai Noel desse para os brasileiros seria não como se apregoa hoje -grande 13º, grande PIB, crescimento, exportação-, mas que essa magnitude de crescimento fosse, antes de tudo, um presente de Papai Noel para o coração dos brasileiros, onde, cada vez mais, a qualidade de vida seja medida por uma unidade que é Deus e Jesus no coração das pessoas.

A segunda pergunta que eu faria: o que você espera para o Ano Novo brasileiro?
Maluf responde -
O brasileiro é, antes de tudo, um bravo, um forte, acorda cedo, dorme tarde, quer trabalhar, quer construir o progresso do nosso país. Mesmo o brasileiro que infelizmente não encontra emprego em nosso país emigra. Se nega a ser um bandido aqui para ser um trabalhador lá fora. De maneira que o que eu desejo no Ano Novo é que menos brasileiros emigrem para trabalhar. Que mais brasileiros encontrem emprego aqui.

A terceira pergunta que eu faria para Paulo Maluf: o que você sugere ao governo para melhorar a taxa de emprego?
Maluf responde -
[pausa] Eu estou respondendo como um espectador de futebol que está na arquibancada e está vendo o Pelé jogar. Eu posso até jogar muito menos futebol do que o Pelé -e jogo mesmo, muito menos-, mas, se o Pelé chuta fora e não faz um gol, eu tenho discernimento suficiente para poder criticar o Pelé. Então, o que eu diria é que o governo Lula veio com uma esperança e não pode falhar. O que eu desejo ao governo Lula é que tenha a coragem de sair um pouco do monetarismo do FMI e resolva, através de uma política econômica menos ortodoxa, os grandes problemas sociais que temos.
Quando a gente vê que o Exército é obrigado a ocupar Vitória; quando vejo os tiroteios no Rio; quando vejo os assaltos nos condomínios em São Paulo, estou vendo a conseqüência, mas não adianta combater a conseqüência, nós temos que combater a causa, que é o desemprego.

A última pergunta para Paulo Maluf é a seguinte: como melhorar, em São Paulo, o trânsito, o transporte coletivo e a movimentação das pessoas?
Maluf responde -
A eleição acabou, não há terceiro turno. Que algumas das soluções, como o Passa-Rápido, continuem, o que, aliás, nada mais são do que os corredores de ônibus implantados na gestão de Paulo Maluf. Que continue a integração ônibus-metrô. Que continue a construção do metrô. A eleição acabou. Nós, que amamos São Paulo, desejamos tudo de bom para as administrações federal, estadual e municipal. A nossa camisa é a camisa do Brasil.


Texto Anterior: Eleições 2004: Fornecedores da prefeitura doaram R$ 4 mi a Marta
Próximo Texto: Ex-prefeito prepara depoimento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.