|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAPAI NOEL
Ex-prefeito enfeita pinheiro em casa, nega estar deprimido e pede menos ortodoxia a Lula
Maluf entrevista a si mesmo e diz que "ninguém atira em árvore sem frutos"
JORGE ARAUJO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
"Ninguém atira pedras em árvore que não tem frutos", diz
Paulo Maluf, 73. Um dia após a
Justiça rejeitar o seu pedido de
prisão, mas acolher a denúncia
que o transforma em réu, sob a
acusação de evasão de divisas,
entre outros crimes, o ex-prefeito diz se sentir "perseguido".
A metáfora da "árvore, das pedras e dos frutos" foi usada por
Maluf no momento em que cuidava de enfeitar, ele mesmo,
uma outra árvore -de Natal.
Quando chegou em casa, nos
Jardins, por volta das 12h20, o
ex-prefeito deparou com duas
funcionárias instalando na sala a
árvore de Natal da família Maluf
-um enfeite com 5.000 lâmpadas. Ele havia aceitado fazer uma
sessão de fotos da rotina familiar
a convite da Folha. "Eu vou colocar aqui um Papai Noel e você
fotografa", disse ao repórter-fotográfico, enquanto começava a
mexer nos arbustos.
Efusivo, Maluf negou estar deprimido: "A saúde vai muito
bem. Isso foram rumores que inventaram pelos jornais".
Enquanto era fotografado,
Maluf foi observado pelo neto,
Otávio, 19, que carregava cinco
gravatas na mão. Almoçou a seguir com o neto e a mulher,
Sylvia, que questionou, contrariada, a necessidade de serem fotografados à mesa.
Maluf se recusou a conceder
entrevista. "Não combinamos
isso", reagiu. Aceitou, porém, logo em seguida, simular uma entrevista, fazendo ao mesmo tempo o papel de entrevistador e de
entrevistado. Pegou o gravador
na mão, sentou-se numa cadeira
no corredor e começou a falar.
Deteve-se por quase 15 segundos
em silêncio antes de responder a
uma questão que havia formulado a si mesmo. Leia trechos da
auto-entrevista de Maluf:
Paulo Maluf perguntaria para
Paulo Maluf: como é que você
acha que deve ser o Natal dos brasileiros e o que Papai Noel devia
dar de presente ao Brasil?
Paulo Maluf responde - O Natal
dos brasileiros deveria ser comemorado com amor, com espiritualidade, com Deus e Jesus no
coração. O presente que eu gostaria que Papai Noel desse para
os brasileiros seria não como se
apregoa hoje -grande 13º,
grande PIB, crescimento, exportação-, mas que essa magnitude de crescimento fosse, antes de
tudo, um presente de Papai Noel
para o coração dos brasileiros,
onde, cada vez mais, a qualidade
de vida seja medida por uma
unidade que é Deus e Jesus no
coração das pessoas.
A segunda pergunta que eu faria: o que você espera para o Ano
Novo brasileiro?
Maluf responde - O brasileiro é,
antes de tudo, um bravo, um forte, acorda cedo, dorme tarde,
quer trabalhar, quer construir o
progresso do nosso país. Mesmo
o brasileiro que infelizmente não
encontra emprego em nosso
país emigra. Se nega a ser um
bandido aqui para ser um trabalhador lá fora. De maneira que o
que eu desejo no Ano Novo é
que menos brasileiros emigrem
para trabalhar. Que mais brasileiros encontrem emprego aqui.
A terceira pergunta que eu faria
para Paulo Maluf: o que você sugere ao governo para melhorar a
taxa de emprego?
Maluf responde - [pausa] Eu estou respondendo como um espectador de futebol que está na
arquibancada e está vendo o Pelé jogar. Eu posso até jogar muito menos futebol do que o Pelé
-e jogo mesmo, muito menos-, mas, se o Pelé chuta fora
e não faz um gol, eu tenho discernimento suficiente para poder criticar o Pelé. Então, o que
eu diria é que o governo Lula
veio com uma esperança e não
pode falhar. O que eu desejo ao
governo Lula é que tenha a coragem de sair um pouco do monetarismo do FMI e resolva, através de uma política econômica
menos ortodoxa, os grandes
problemas sociais que temos.
Quando a gente vê que o Exército é obrigado a ocupar Vitória;
quando vejo os tiroteios no Rio;
quando vejo os assaltos nos condomínios em São Paulo, estou
vendo a conseqüência, mas não
adianta combater a conseqüência, nós temos que combater a
causa, que é o desemprego.
A última pergunta para Paulo
Maluf é a seguinte: como melhorar, em São Paulo, o trânsito, o
transporte coletivo e a movimentação das pessoas?
Maluf responde - A eleição acabou, não há terceiro turno. Que
algumas das soluções, como o
Passa-Rápido, continuem, o
que, aliás, nada mais são do que
os corredores de ônibus implantados na gestão de Paulo Maluf.
Que continue a integração ônibus-metrô. Que continue a
construção do metrô. A eleição
acabou. Nós, que amamos São
Paulo, desejamos tudo de bom
para as administrações federal,
estadual e municipal. A nossa
camisa é a camisa do Brasil.
Texto Anterior: Eleições 2004: Fornecedores da prefeitura doaram R$ 4 mi a Marta Próximo Texto: Ex-prefeito prepara depoimento Índice
|