São Paulo, sexta-feira, 02 de dezembro de 2005 |
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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DEPOIS DA QUEDA Ex-deputado diz que agia sob ordens e quer contar em livro "erros e limitações" do governo Dirceu "compartilha" erros com Lula e defende Delúbio
FÁBIO ZANINI SILVIO NAVARRO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nas primeiras declarações públicas como "apenas o Zé Dirceu", o ex-ministro e deputado
cassado disse ontem que na Casa
Civil sempre agiu por ordem do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prometeu contar num livro
quais foram "as limitações e os erros" do governo. PODER - Dirceu afirmou que não tem interesse em voltar ao poder. "Já cumpri meu papel na vida política do país. Eu nunca olho para trás. Tenho que, com humildade, reconstruir a minha vida. Isso vai me custar anos. Vou atuar na vida política do país, dentro das minhas possibilidades. Vou participar do debate, vou apoiar os movimentos sociais. Não sou mais um homem público, sou um cidadão brasileiro. Não tenho mais poder nenhum." DELÚBIO E SILVINHO - O petista
defendeu o ex-tesoureiro Delúbio
Soares e o ex-secretário-geral do
PT Sílvio Pereira, apontados como pivôs da crise. "Os dois [Pereira e Delúbio] continuam meus
amigos. [...] O Delúbio tem uma
vida simples. Ele pode ter cometido grandes erros, mas é uma pessoa honesta. O Delúbio não é uma
pessoa corrupta. Ele cometeu erros e está pagando por eles." OUTRA SITUAÇÃO - Dirceu disse
que, se fosse ministro ou dirigente
petista, não estaria na atual situação. Instado a ser mais claro, não
quis dar detalhes e pediu desculpa. "Infelizmente, não sou mais
nem deputado, nem ministro,
nem presidente do PT. Se eu fosse, a situação seria outra. Com o
perdão da falsa modéstia. [...] Na
verdade, eu não devia ter afirmado isso. Peço desculpas. Foi um
excesso da minha parte, dado o
cansaço e a emoção." A CASSAÇÃO - O ex-ministro afirmou que respeita a decisão da Câmara, mas fez críticas ácidas: "O
Congresso deu um passo que eu
considero arriscado. Espero que
isso não se volte contra o próprio
Congresso e a democracia". DOR PESSOAL - Ao falar da sensação de ser cassado, o ex-homem
forte do governo afirmou que a
"vida é dura". "Para mim, é uma
violência, parece que perdi a minha própria vida." LIVRO - Dirceu afirmou que seu
livro vai conter revelações sobre o
governo, mas que Lula não precisa temê-lo. "Vou fazer um livro
para ajudar o Brasil a repensar o
Brasil. Um livro que não será chapa-branca. Eu não posso revelar
segredos de Estado, mas inconfidência políticas eu posso. Todo
mundo sabe que eu, quando faço
a luta política, faço com lealdade,
com transparência. Ninguém tem
que temer nada. É preciso expor
para o país as limitações e os erros
de um dos melhores governos
que o país teve, inclusive para ter
autoridade para pedir um novo
mandato para o PT." LULA - O deputado cassado declarou que sempre agiu por ordem do presidente. "Não é verdade que algum dia eu exerci qualquer poder que não seja delegado
pelo presidente. Sempre fui leal e
obedeci à hierarquia do governo.
Nunca me sentei antes de o presidente sentar, nunca chamei o presidente de Lula, sempre chamei
de senhor presidente. Eu tenho
consciência da liturgia do cargo." ERROS - Dirceu disse, sem dar
detalhes, que muitos erros que cometeu foram de responsabilidade
também do PT, do governo e de
Lula. "Cometi muitos grandes erros para chegar a essa situação.
Sou de opinião de que eu deveria
ter saído da Casa Civil no fim de
2004. Esse foi um. Outros cometi
junto com o governo, junto com o
presidente, junto com o PT." DIRCEU POR DIRCEU - Tentando
passar uma atitude humilde, Dirceu disse que não quer ser visto
como vítima. "Sou apenas o Zé
Dirceu e me sinto muito bem como Zé Dirceu. [...] Não me sinto
nessa posição de vítima, tem coisa
muito mais grave acontecendo no
país, milhões de brasileiros em situação muito mais grave. Não vamos dramatizar muito isso, não
tem essa importância toda." A CRISE - Em dado momento,
Dirceu afirmou que a crise é artificial. Depois, recuou. "A crise política tem um lado artificial, que é
provocado pela oposição, para
desestabilizar o governo. Vamos
falar as coisas com franqueza. [...]
Não estou dizendo que a crise é
artificial, ela tem razões que precisam ser investigadas." IMPRENSA - Apesar de dizer que
a imprensa tem direito a ter opiniões, Dirceu acusou setores dela
de "noticiário dirigido". "No Brasil, os donos de imprensa têm interesses econômicos. A imprensa
não é neutra, tem os seus problemas, as suas dívidas." O FUTURO - O ex-ministro disse
que sua prioridade no momento é
trabalhar para ganhar dinheiro.
"Eu não tenho dinheiro para pagar a pensão das minhas filhas no
mês que vem. [...] Quem sou eu
para fazer planos para oito anos?
Vou fazer planos para a semana
que vem. Deixa a vida levar, como
disse o Zeca Pagodinho." Negou
guardar mágoa. "Não é uma postura aceitável da minha parte remoer o que passou." |
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