São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Oposição terá espaço na TV, diz Cruvinel

Jornalista não descarta pressão do governo e diz que para garantir a independência pesará a vigilância do Conselho Curador

Presidente da TV Brasil promete um jornalismo que se guie pelos fatos, nem para favorecer o governo federal nem para criticá-lo

Alan Marques/Folha Imagem
Tereza Cruvinel posa para fotos na sede da Radiobrás, em Brasília


LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tereza Cruvinel, 51, foi escolhida para chefiar a TV Brasil após 25 anos de carreira no jornalismo político, especialmente no jornal "O Globo", onde mantinha uma coluna diária. Ela assegura que vai levar à emissora o mesmo padrão que aplicava na mídia privada. A TV Brasil estréia hoje de maneira restrita. A partir das 14h, irá ao ar uma programação que mescla conteúdos da TVE do Rio e da Radiobrás, transmitida para o Rio, DF e Maranhão. Ainda não há data para chegada do sinal a outros Estados. Para a jornalista, a emissora não está livre de pressões políticas -o que, segundo ela, não aconteceu até o momento- e só a fiscalização do Conselho Curador e da sociedade vai evitar qualquer desvio de rota. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.  

FOLHA - O Brasil precisa de uma TV Pública?
TEREZA CRUVINEL
- Algumas tarefas de comunicação e informação só podem ser cumpridas por uma TV com esta natureza pública, independente em relação aos poderes econômico e político. Entre estas tarefas, a oferta de uma programação diferenciada, voltada para a formação crítica do cidadão, para o debate das grandes questões nacionais, para a expressão da diversidade regional.

FOLHA - O governo criou a TV pública porque acha que a mídia não gosta dele?
CRUVINEL
- Não. Vi essa informação em uma matéria da Folha, nunca ouvi essa justificativa para a criação da TV pública.

FOLHA - A sra. acha que a mídia não gosta do governo?
CRUVINEL
- Não, nunca falei isso. Minha vinda não tem relação com minha avaliação sobre a imprensa.

FOLHA - A sra. não teme pressões do governo por uma cobertura favorável? Uma dúvida prática. A TV Pública vai usar o termo mensalão?
CRUVINEL
- A Radiobrás fez uma cobertura exemplar do caso mensalão em 2005, que resultou até em reclamações pontuais de áreas do governo e do PT. Isso já expressava a criação de uma cultura de TV pública na Radiobrás na gestão do Eugênio Bucci. Esse mesmo jornalismo que se guia pelos fatos, não briga com os fatos, nem para favorecer o governo nem para criticar o governo, é que será seguido pela TV Brasil.

FOLHA - Lula não terá mesmo qualquer tipo de interferência?
CRUVINEL
- Não posso assegurar que ninguém do governo vá tentar, em algum momento, alguma boa vontade da TV pública. Agora, para garantir a independência dela, mais do que a virtude profissional dos seus dirigentes, pesará a vigilância do Conselho Curador e da própria sociedade.

FOLHA - O conselho tem uma grande gama de perfis, intelectuais, economistas, políticos. Mas nenhum deles é claramente identificado com idéias da oposição. Por quê?
CRUVINEL
- Para isso teríamos de ter representantes partidários e a opção foi por não ter representação de partidos. A diretoria executiva não participou da escolha de conselheiros. Não sugeriu nomes para guardar a distância ética recomendável entre quem vai fazer e o fiscalizador. Quanto mais efetivo for o poder do conselho, quanto mais independente for, melhor para a TV pública.

FOLHA - Além da BBC, a sra. tem por meta um padrão de qualidade?
CRUVINEL
- Eu nem tenho falado em BBC, especificamente. Acho que há muitas experiências bem sucedidas de TV pública mundo afora. Acho a TV canadense muito boa, acho a RTP de Portugal muito boa, acho a TV espanhola muito boa. Na construção da programação renovada, que virá dentro de aproximadamente três, quatro meses, a TV Brasil vai procurar não apenas atender aos objetivos específicos de investir em reflexão, formação do cidadão, oferta de produtos culturais a um país que consome pouca cultura, como também poderá inovar do ponto de vista estético. Inovar a linguagem também é um compromisso.

FOLHA - Os parlamentares da oposição terão espaço na TV Pública?
CRUVINEL
- Certamente, quando houver debates que envolvam questões políticas, problemas nacionais em debate, a pluralidade de opiniões é um compromisso da TV Brasil.

FOLHA - O presidente Fernando Henrique Cardoso também?
CRUVINEL
- Não existe veto.

FOLHA - Entre 2003 e 2004, a sra. prestou serviço à Câmara quando João Paulo Cunha (PT) era presidente. As pessoas a vinculam ao governo por causa desse episódio?
CRUVINEL
- Isso foi uma maldade da Folha de S.Paulo. Vincular um trabalho de pesquisa histórica sobre uma parlamentar do mais alto valor, como foi Cristina Tavares [morta em 1992], à gestão, à prestação de serviços à Câmara. A série perfis parlamentares é antiga e sempre foi feita por historiadores e jornalistas. Muitos outros jornalistas escreveram perfis de outros parlamentares falecidos. Foi uma contribuição intelectual à Câmara por um pagamento irrisório [R$ 15,68 mil, entre 2003 e 2004] pelo valor do trabalho. Mas a Folha de S.Paulo não fez matérias com outros jornalistas que também escreveram perfis.

FOLHA - Qual a relação da sra. com o PSDB?
CRUVINEL
- Muito boa, tenho excelente diálogo com todas as forças políticas.


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