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Oposição terá espaço na TV, diz Cruvinel
Jornalista não descarta pressão do governo e diz que para garantir a independência pesará a vigilância do Conselho Curador
Presidente da TV Brasil promete um jornalismo que se guie pelos fatos, nem para favorecer o governo federal nem para criticá-lo
Alan Marques/Folha Imagem
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Tereza Cruvinel posa para fotos na sede da Radiobrás, em Brasília |
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Tereza Cruvinel, 51, foi escolhida para chefiar a TV Brasil
após 25 anos de carreira no jornalismo político, especialmente no jornal "O Globo", onde
mantinha uma coluna diária.
Ela assegura que vai levar à
emissora o mesmo padrão que
aplicava na mídia privada.
A TV Brasil estréia hoje de
maneira restrita. A partir das
14h, irá ao ar uma programação
que mescla conteúdos da TVE
do Rio e da Radiobrás, transmitida para o Rio, DF e Maranhão.
Ainda não há data para chegada
do sinal a outros Estados.
Para a jornalista, a emissora
não está livre de pressões políticas -o que, segundo ela, não
aconteceu até o momento- e
só a fiscalização do Conselho
Curador e da sociedade vai evitar qualquer desvio de rota.
Confira abaixo os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - O Brasil precisa de uma TV
Pública?
TEREZA CRUVINEL - Algumas tarefas de comunicação e informação só podem ser cumpridas
por uma TV com esta natureza
pública, independente em relação aos poderes econômico e
político. Entre estas tarefas, a
oferta de uma programação diferenciada, voltada para a formação crítica do cidadão, para
o debate das grandes questões
nacionais, para a expressão da
diversidade regional.
FOLHA - O governo criou a TV pública porque acha que a mídia não
gosta dele?
CRUVINEL - Não. Vi essa informação em uma matéria da Folha, nunca ouvi essa justificativa para a criação da TV pública.
FOLHA - A sra. acha que a mídia
não gosta do governo?
CRUVINEL - Não, nunca falei isso. Minha vinda não tem relação com minha avaliação sobre
a imprensa.
FOLHA - A sra. não teme pressões
do governo por uma cobertura favorável? Uma dúvida prática. A TV Pública vai usar o termo mensalão?
CRUVINEL - A Radiobrás fez uma
cobertura exemplar do caso
mensalão em 2005, que resultou até em reclamações pontuais de áreas do governo e do
PT. Isso já expressava a criação
de uma cultura de TV pública
na Radiobrás na gestão do Eugênio Bucci. Esse mesmo jornalismo que se guia pelos fatos,
não briga com os fatos, nem para favorecer o governo nem para criticar o governo, é que será
seguido pela TV Brasil.
FOLHA - Lula não terá mesmo qualquer tipo de interferência?
CRUVINEL - Não posso assegurar
que ninguém do governo vá
tentar, em algum momento, alguma boa vontade da TV pública. Agora, para garantir a independência dela, mais do que a
virtude profissional dos seus
dirigentes, pesará a vigilância
do Conselho Curador e da própria sociedade.
FOLHA - O conselho tem uma grande gama de perfis, intelectuais, economistas, políticos. Mas nenhum deles é claramente identificado com
idéias da oposição. Por quê?
CRUVINEL - Para isso teríamos
de ter representantes partidários e a opção foi por não ter representação de partidos. A diretoria executiva não participou da escolha de conselheiros.
Não sugeriu nomes para guardar a distância ética recomendável entre quem vai fazer e o
fiscalizador. Quanto mais efetivo for o poder do conselho,
quanto mais independente for,
melhor para a TV pública.
FOLHA - Além da BBC, a sra. tem
por meta um padrão de qualidade?
CRUVINEL - Eu nem tenho falado em BBC, especificamente.
Acho que há muitas experiências bem sucedidas de TV pública mundo afora. Acho a TV
canadense muito boa, acho a
RTP de Portugal muito boa,
acho a TV espanhola muito
boa. Na construção da programação renovada, que virá dentro de aproximadamente três,
quatro meses, a TV Brasil vai
procurar não apenas atender
aos objetivos específicos de investir em reflexão, formação do
cidadão, oferta de produtos culturais a um país que consome
pouca cultura, como também
poderá inovar do ponto de vista
estético. Inovar a linguagem
também é um compromisso.
FOLHA - Os parlamentares da oposição terão espaço na TV Pública?
CRUVINEL - Certamente, quando houver debates que envolvam questões políticas, problemas nacionais em debate, a pluralidade de opiniões é um compromisso da TV Brasil.
FOLHA - O presidente Fernando
Henrique Cardoso também?
CRUVINEL - Não existe veto.
FOLHA - Entre 2003 e 2004, a sra.
prestou serviço à Câmara quando
João Paulo Cunha (PT) era presidente. As pessoas a vinculam ao governo por causa desse episódio?
CRUVINEL - Isso foi uma maldade da Folha de S.Paulo. Vincular um trabalho de pesquisa
histórica sobre uma parlamentar do mais alto valor, como foi
Cristina Tavares [morta em
1992], à gestão, à prestação de
serviços à Câmara. A série perfis parlamentares é antiga e
sempre foi feita por historiadores e jornalistas. Muitos outros
jornalistas escreveram perfis
de outros parlamentares falecidos. Foi uma contribuição intelectual à Câmara por um pagamento irrisório [R$ 15,68 mil,
entre 2003 e 2004] pelo valor
do trabalho. Mas a Folha de
S.Paulo não fez matérias com
outros jornalistas que também
escreveram perfis.
FOLHA - Qual a relação da sra. com
o PSDB?
CRUVINEL - Muito boa, tenho
excelente diálogo com todas as
forças políticas.
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