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Arruda diz ter recebido dinheiro só uma vez
Segundo governador, episódio em que Barbosa lhe entregou dinheiro diretamente ocorreu antes de ele assumir o Distrito Federal
Arruda afirma não ter visto R$ 400 mil que ex-secretário carregava em mala quando se encontrou com ele no último dia 21 de outubro
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda
(DEM), disse ontem que só recebeu dinheiro uma vez diretamente de Durval Barbosa, seu
ex-secretário de Relações Institucionais -no vídeo já mostrado amplamente na mídia.
Recebeu outras contribuições de Barbosa, mas por meio
de "outras pessoas". Arruda faz
sempre questão de mencionar
que os vídeos agora divulgados
foram gravados quando ele ainda não era governador de Brasília. Ele considera tudo uma trama engendrada por seu adversário político local, Joaquim
Roriz (PSC).
Em 21 de outubro, quando
recebeu Barbosa portando uma
mala com R$ 400 mil, disse não
ter visto o dinheiro. Recusa-se a
explicar o conteúdo do diálogo,
gravado em áudio e monitorado pela Polícia Federal.
FOLHA - O episódio gravado em vídeo em que o sr. recebe R$ 50 mil de
Durval foi o único no qual o sr. recebeu dinheiro diretamente dele?
JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Não sei se
foram R$ 50 mil. Acho que foram R$ 20 mil ou R$ 30 mil.
Não sei. Que recebi diretamente, foi [a única vez]. Nos outros
anos -2003, 2004, 2005 e
2006- ele também ajudou.
FOLHA - E como ele dava o dinheiro?
ARRUDA - A outras pessoas.
Não diretamente a mim.
FOLHA - Como o sr. declarava esses
recursos?
ARRUDA - Não declarava. Eu
pegava apenas os recibos das
instituições. Fazia a festa, distribuía os cartões de Natal.
FOLHA - Não teria sido mais prudente registrar obedecendo o que
manda a Receita Federal?
ARRUDA - Eu nunca me perguntei isso. Não sei te dizer. A
verdade é que fiz uns dez anos.
Mas nunca teve nada escondido. O Carrefour, por exemplo,
me doava oficialmente.
FOLHA - Como um político, governador do Distrito Federal, sabendo
com quem tratava, manteve Durval
Barbosa no cargo de secretário de
Relações Institucionais?
ARRUDA - Respondo em duas
partes. Primeiro, grande parte,
se não todos esses vídeos que
estão sendo divulgados dele
dando dinheiro para quem
quer que seja, referem-se ao período do governo anterior ao
meu. Inclusive o meu próprio
[vídeo], que foi em 2004 ou
2005. Eu não sei precisar. Segundo, até próximo à minha
posse nem eu nem ninguém em
Brasília tinha essa imagem. Ele
foi útil na campanha.
FOLHA - No encontro do dia 21 de
outubro entre o sr. e Barbosa ele
portava uma mala com dinheiro...
ARRUDA - Eu não sei. Ele estava
com uma pasta.
FOLHA - Ele mostrou o dinheiro para o sr.?
ARRUDA - Não. Nem disse que
estava com ele. Disse que o empresário queria fazer doação.
Eu disse que não estava em
campanha. O ano que vem eu
vou ver isso. Agora, tem várias
pessoas em campanha. Ajude
os aliados. Isso eu falei.
FOLHA - O sr. está seguro que ele
não mostrou o dinheiro?
ARRUDA - Estou seguro. Mas
está no inquérito que o equipamento de filmagem superaqueceu. Eu me pergunto, se ele tivesse aberto a mala de dinheiro, será que teria dado o mesmo
defeito no equipamento?
FOLHA - O que o sr. está sugerindo?
ARRUDA - Nada. Acho esquisito.
FOLHA - Mas, nesse diálogo do dia
21 de outubro, o sr. fala várias vezes
despesas mensais com políticos, diz
ser necessário unificar. O que é isso?
ARRUDA - Tem coisas misturadas. Tem pedaços que tenho
certeza de que a gente falava de
um sujeito que indicou cargos
numa administração e estava
duplicando cargos numa outra.
FOLHA - Como assim?
ARRUDA - Há um exemplo do
deputado Pedro do Ovo [PRP],
que tinha indicado pessoas para 12 cargos, num valor total de
R$ 15 mil de salários somados.
E pedia outros 15. Aí disse não.
FOLHA - Nesse diálogo do dia 21 há
outros trechos que indicam sua participação numa conversa sobre divisão de dinheiro...
ARRUDA - Sobre esse diálogo eu
não vou mais fazer comentários por uma razão: os meus advogados estão estudando isso.
Essas supostas falhas técnicas
precisam ser estudadas. Filme
de bandido e mocinho, muitas
vezes, no meio a gente acha que
o bandido é o mocinho. No final, as coisas ficam claras.
FOLHA - Apesar de todos os indícios o sr. está dizendo que não cometeu erros?
ARRUDA - Posso ter me equivocado ao manter no governo
pessoas como essa [Barbosa].
FOLHA - Mas governador, são tantos vídeos com Barbosa dando dinheiro para tanta gente, inclusive
para o sr., e mesmo assim o sr. está
dizendo que nunca soube de nada?
ARRUDA - Sinceramente, não.
Nos últimos meses, começaram a surgir esses boatos. Coincidiu com a saída de Roriz do
PMDB. Roriz saiu no dia 16 de
setembro. No dia 15, ele [Barbosa] recebeu uma condenação. No dia 17, fez a denúncia.
A íntegra da entrevista pode ser acessada em
www.folha.com.br/0933518
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