São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2007

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ELIO GASPARI

Agora, falta o homem trabalhar

Lula não precisa reformar o país. Basta que tenha disposição para pegar no batente, de oito às cinco

RECOMEÇOU o lero-lero das reformas. Nosso Guia assumiu o segundo mandato no ano em que se celebra o 43º aniversário do Comício das Reformas de João Goulart e prometeu reformar as instituições nacionais. Um garoto que foi ao comício de 1964 com 18 anos, completará 61 em algum dia de 2007, tendo vivido sob sete moedas e quatro constituições. Passou seis anos sem direito a habeas corpus e outros 28 sem votar para presidente. Pode-se dizer que penou cinco reformas tributárias e outras cinco da Previdência. Reformas, teve-as todas.
O maior êxito do governo de Lula foi o programa Bolsa Família. Não decorreu de reforma alguma. O mesmo se deu com o Prouni. A expansão do mercado de computadores para o andar de baixo resultou de uma medida provisória. Foram iniciativas que demandaram vontade, trabalho, caneta e tinta.
Olhando-se a questão no sentido inverso, nenhum fracasso do comissariado decorreu da falta de reformas. Pelo contrário. O apagão aéreo foi antecedido pela criação da Agência Nacional de Aviação Civil, transformada em porta-malas de petistas pedestres. As estradas esburacadas foram precedidas pela voracidade tucana, que mudou a Constituição para impor um imposto adicional sobre o consumo de combustíveis. Em 2005, esse tributo custou aos contribuintes R$ 7,7 bilhões. Não foi por falta de reformas, mas por falta de princípios, que o comissariado petista encheu as arcas delúbias em 2002. Tendo havido uma reforma da lei eleitoral, os aloprados do PT paulista mercadejaram dossiês com malas de dinheiro.
O que falta ao governo de Lula não é vontade de reformar o país. É disposição e competência para pegar no batente, a sério, de oito da manhã às cinco da tarde.
A parolagem de Nosso Guia em relação à segurança pública, por exemplo, é cópia do lero-lero tucano. Pode-se dar o nome que se queira às ações da bandidagem no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tanto faz chamá-las de "terrorismo" como de "Maria Deocleciana". Não é nas palavras que estão o problema ou sua solução. No Rio, por exemplo, achou-se o ex-chefe da Polícia Civil no subúrbio da criminalidade. Ele foi eleito deputado estadual na bancada governista. Em São Paulo, a Polícia Federal, depois de uns poucos dias, apaga as fitas com as imagens do que ocorre nos corredores de sua carceragem.
Falar em "terrorismo", como fez Lula no improviso da praça dos Três Poderes, pode afagar almas indignadas, mas nada além disso. Em 2000, quando o bandido Chuvisco barbarizou no Morro da Congonha, o general Alberto Cardoso, ministro da Segurança Institucional, classificou o episódio de "terrorismo". Mais: quando o MST invadiu a fazenda de FFHH, o ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, disse que se praticara um "ato de terrorismo".
Subir o tom da parolagem não assusta bandido. A defesa da lei e da ordem depende de dois fatores que estão na alçada dos poderes Executivo e Judiciário estaduais. A saber:
1) O encarceramento de todos aqueles que violam artigos do Código Penal que determinam a prisão dos infratores.
2) A manutenção, na cadeia, de todos aqueles que a ela foram remetidos por violar a lei.
Fora daí, há espaço para conversa fiada, mas não há resultado para quem paga impostos.
Lula pediu que se votasse nele com um slogan simples: "Deixa o homem trabalhar".
Tudo bem: agora falta só trabalhar, depois das férias.


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