São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Auxiliares de Freud


O tempo de "três anos e meio" que Lula se dá ignora limite do mandato em vigor e entra pelo próximo mandato

O TERCEIRO mandato, a reforma política e a reforma eleitoral decaíram entre os assuntos prediletos, mas bem no último dia de 2007 reapareceu, de um jeito sorrateiro, uma insinuação que reaviva e une aqueles três temas indefinidos. Foi no último programa de rádio "Café com o Presidente", na manhã do dia 31, logo em seguida, talvez significativamente, a esta referência de Lula à luta "para ganhar" a Presidência: "A única razão pela qual a gente briga para ganhar a Presidência da República é para a gente poder executar algumas coisas em que a gente acreditou a vida inteira". Lembraria as "bravatas" ilusórias, se Lula não citasse logo a idéia de "melhorar o Brasil", "diminuir a pobreza" e chegasse a este fecho muito mais interessante: "melhorar substancialmente a educação neste país, e tenho três anos e meio para fazer".
O subconsciente e os atos falhos são domínios que o doutor Freud precisa dividir, no caso, com José Serra e Aécio Neves, entre outros ainda não oferecidos à mesma citação. O tempo normal de que Lula dispõe são três anos, 2008, 9 e 10. O tempo de "três anos e meio" que Lula se dá ignora a limitação do mandato em vigor e vai pelo próximo mandato presidencial adentro, já a meio de 2011.

Para melhor
Os tumultos nos aeroportos não se repetiram, tanto por medidas preventivas, como por cautelas dos passageiros, além do recurso providencial a outro transporte por usuários habituais dos aviões nos fins de ano. A soma de atrasos e cancelamentos de vôos, porém, continuou absurdamente alta, e não por mau tempo: em torno de um terço, um em cada três vôos da programação/dia. As ameaças às empresas, de multas e até perda da licença de operação por causa de atrasos neste semestre, preferem a aplicação da autoridade às providências apropriadas. O problema está atingindo todas as empresas, o que sugere não decorrer só das respectivas (más?) administrações. O que importa, portanto, é um levantamento minucioso das causas principais, que envolveriam também procedimentos da Anac e condições da infra-estrutura nos aeroportos (para citar um exemplo: com freqüência, os números de guichês para despacho são insuficientes, enquanto outros estão fechados).
Quanto à indicação de horários, objeto de notícia divulgada no final do ano, e aqui comentada, a Infraero não deixará o serviço que faz em complemento às informações dadas pelas companhias. Promete tornar mais rigorosa a cobrança de informações atualizadas e precisas para os painéis, como convém.

A anulação
Repito uma frase da última coluna de 2007: "A Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, não convém acordos conseqüentes com as Farc: é na exploração propagandística de sua linha dura que Uribe, desejoso confesso do terceiro mandato sucessivo, tem feito o seu capital político".
De uma nota emitida pelo comitê parisiense pela libertação de Ingrid Bettancourt, refém das Farc: "Uma ação do exército colombiano seria desastrosa para os reféns, e tememos que os militares tenham uma estratégia sigilosa a respeito". A nota foi anterior à suspensão da entrega de outros três reféns.
Quando Uribe apareceu, sem ser esperado, no aeroporto de Villavicencio onde a comissão internacional esperava pelos prometidos reféns, foi como se dissesse: "Vocês viram que eu estava aqui, não podia ter dado a ordem para o que aconteceu".
Mas nada pôde acontecer.


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