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Mídia criminalizou as doações, diz ministro
Paulo Bernardo afirma que imprensa induz o eleitor a acreditar que o caixa dois das empresas existe por causa das eleições
Ministro do Planejamento sustenta que doação direta para as legendas é prevista em lei e ajuda a fortalecer o sistema partidário no Brasil
Alan Marques - 17.nov.2009/Folha Imagem
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O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) na pré-estreia do filme ‘Lula, o Filho do Brasil’, no DF
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O caixa dois não existe por causa de campanhas eleitorais.
A afirmação é do ministro Paulo Bernardo (Planejamento):
"As empresas dão dinheiro de
caixa dois porque tem caixa
dois. E o caixa dois contamina as eleições. Vamos ser francos".
Para o ministro, o maior problema hoje no financiamento
das campanhas eleitorais é que
"criminalizaram as doações legais". "As empresas fazem doação legal. Na hora da prestação
de contas, falam que elas têm
conluio com esse e aquele candidato, deu dinheiro porque tinha interesse", afirma.
Em sua opinião, a doação direta para os partidos deveria
ser incentivada como forma de fortalecer o sistema partidário.
Ele observa ainda que o candidato que está na frente nas pesquisas eleitorais recebe mais
dinheiro, mas que é muito comum o fenômeno das empresas que doam para os dois lados: "Digamos, para ficar bem com todo mundo". Leia a seguir
os principais trechos da entrevista.
(VALDO CRUZ)
FOLHA - Qual a sua expectativa sobre o financiamento de campanha
na eleição deste ano?
PAULO BERNARDO - Está ruim e vai continuar ruim.
Folha - Por quê?
PAULO BERNARDO - Porque visivelmente o Congresso não consegue reunir maioria para votar
projetos de reforma política,
profunda mesmo. Temos um
sistema que induz a absurdos,
como as doações de caixa dois.
As pessoas são induzidas pela
mídia a achar que caixa dois
existe por causa de eleições,
mas não é verdade. As empresas dão dinheiro de caixa dois
porque tem caixa dois. E o caixa
dois contamina as eleições. Vamos ser francos.
E tem um problema adicional. A lei prevê doações legais,
feitas formalmente para candidatos e partidos. Quando sai a
prestação de contas, é tratado
como se fosse um absurdo, uma
irregularidade.
FOLHA - A sua avaliação é que criminalizaram o caixa um?
PAULO BERNARDO - Está criminalizado, a eleição está criminalizada. Então, se uma empresa
faz uma doação para um candidato ou se faz por partido, que é
legal também, na hora que sai a
prestação de contas, falam que
ela tem conluio com esse e
aquele candidato, deu dinheiro
porque tinha interesse.
FOLHA - Isso estimula a doação pelo caixa dois, na sua opinião?
PAULO BERNARDO - Acho que inibe a doação legal. Tem as doações para os partidos, o que é legal, mas é tratado como se fosse
bandalheira.
FOLHA - A doação oculta...
PAULO BERNARDO - Mas a doação
não é oculta. O cara faz um cheque, deposita na conta e o partido distribui para quem quiser.
FOLHA - Conversei com empresários e eles estão dizendo que vão
priorizar a doação aos partidos, porque avaliam que a contribuição para
os candidatos ficou criminalizada.
PAULO BERNARDO - Quem doa dinheiro oficialmente, faz a doação legal, vai para o jornal como
participante de algum conluio,
como se ele estivesse querendo
fazer alguma irregularidade.
Agora, repetindo, não é verdade que caixa dois exista só na
eleição.
FOLHA - Mas o sr. não acha que, pela doação aos partidos, a empresa
não está tentando dissimular para
quem doou?
PAULO BERNARDO - Eu acho que,
diferentemente do que os jornais têm propagado, penso que
a doação para um partido é uma
forma digna de fazer a contribuição. Faz para o partido, tem
vínculo com aquele programa
daquele partido. Isso fortalece
os partidos.
FOLHA - Reservadamente, alguns
empresários disseram que, junto
com a doação para os partidos, segue uma lista de quem deve receber
o dinheiro, uma prova de que eles
estão querendo fugir da identificação com esse e aquele candidato.
PAULO BERNARDO - Parece que é
verdade. Agora, de qualquer
forma, cria um vínculo com o
partido, porque o tesoureiro
desse partido pode passar ou
não esse dinheiro, não é verdade? Essa é uma doação legal. Eu
não entendo por que essas pessoas criminalizam isso.
FOLHA - O sr. acha que a ministra
Dilma vai ter mais facilidade de arrecadar dinheiro no ano que vem por
ser do governo, que controla o
BNDES, os fundos de pensão?
PAULO BERNARDO - Olha, a gente
tem observado é que o candidato que está na frente nas pesquisas costuma receber mais
recursos. A história é essa.
FOLHA - O Serra?
PAULO BERNARDO - Não, eu não
disse que é o Serra. Estou dizendo que, normalmente, o
candidato que está na frente
nas pesquisas recebe mais dinheiro e é muito comum o fenômeno da empresa que doa
para os dois lados. Digamos, para ficar bem com todo mundo.
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