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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR
Comissão evita votar requerimentos de convocação de publicitário e de ex-diretor de estatal
Acordo tira Duda e lista de Furnas do foco da CPI
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acordo entre governo e oposição na CPI dos Correios evitou
ontem a aprovação da convocação do publicitário Duda Mendonça e do ex-diretor de Furnas
Dimas Toledo. A discussão sobre
os requerimentos para levar os
dois a depor ficou para a próxima
semana.
Diante de um jogo de ameaças
veladas entre petistas e tucanos, a
comissão chegou ao entendimento, nos bastidores, que a aprovação das convocações poderia criar
um ambiente perigoso para os
dois lados. A de Duda, pelo fato de
ter trabalhado tanto para petistas
quanto para políticos de outras legendas, incluindo oposicionistas.
A de Toledo, por ser acusado de
coordenar um esquema de caixa 2
em Furnas, em 2002, cujos supostos beneficiários são políticos hoje
em sua maioria na oposição.
O quórum da sessão administrativa da CPI estava alto ontem,
tanto que foram aprovadas 17
quebras de sigilo bancário pedidas pela sub-relatoria de contratos. "Há um requerimento da CPI
solicitando à Polícia Federal o resultado dessa investigação, para a
gente não cair daqui a pouco em
um festival de listas que podem
ser montadas unicamente para
prejudicar os trabalhos. Temos de
ter equilíbrio", disse o presidente
da CPI, senador Delcídio Amaral
(PT-MS), referindo-se à convocação de Dimas Toledo.
O suposto caixa dois em Furnas
foi colocado em evidência novamente nesta semana por causa do
depoimento do deputado cassado
Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Polícia Federal. Uma lista sem autenticidade comprovada, com a
suposta assinatura de Dimas
-que ele renega-, relaciona 156
políticos que teriam recebido dinheiro nas eleições de 2002, a
maioria do PSDB e do PFL. Jefferson confirmou ter recebido R$ 75
mil do ex-diretor de Furnas, que
nega tudo. A Polícia Federal investiga a autenticidade da lista.
A CPI também adiou a votação
do requerimento de convocação
do diretor de investimentos do
Real Grandeza (fundo de pensão
dos funcionários de Furnas), Carlos Guerra de Figueiredo. O mesmo aconteceu com o dono do
Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, por pressões como a do senador José Sarney (PMDB-AP).
O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) cobrou a marcação do depoimento do lobista Nilton Monteiro, que revelou a lista de Furnas. A
convocação foi aprovada em
agosto. Na seqüência o sub-relator de movimentação financeira
da CPI, deputado Gustavo Fruet
(PSDB-PR), pediu a palavra e cobrou o agendamento dos depoimentos de Solange Pereira, funcionária do departamento financeiro do PT, e de Soraya Garcia,
ex-assessora financeira da campanha do PT de Londrina nas
eleições de 2004.
O discurso oficial para não votar
a convocação de Toledo, Duda e
Edemar Cid Ferreira foi a ausência do relator, deputado Osmar
Serraglio (PMDB-PR), que estava
nos Estados Unidos em missão
oficial da CPI. As negociações políticas da comissão, no entanto,
são feitas por Delcídio.
O publicitário admitiu à comissão, em agosto, ter recebido recursos de caixa dois do PT, depositados nas Bahamas, por conta
da campanha de 2002.
"Tem que ver o que estão trazendo dos Estados Unidos para
ver se ouvir de novo o Duda contribui. De repente não vai acrescentar nada. Para fazer espetáculo
não adianta", afirmou a senadora
Ideli Salvatti (PT-SC).
Integrantes da CPI afirmaram
que Duda está mandando recados
para o governo de que não teria
estrutura emocional para prestar
novo depoimento. Nos bastidores, Duda ameaça contar tudo o
que sabe sobre caixa dois de todas
as campanhas que fez.
Quanto a Edemar Cid Ferreira,
o sub-relator de fundos de pensão, Antônio Carlos Magalhães
Neto (PFL-BA), propôs sua convocação devido a aplicações financeiras de fundos de pensão
patrocinados por estatais no Banco Santos, liquidado em abril do
ano passado.
O Ministério Público de São
Paulo investiga se o banqueiro
privilegiou Sarney ao liberar cerca
de R$ 2 milhões que ele tinha em
investimentos no Santos. A liberação ocorreu em 11 de novembro
de 2004, um dia antes da intervenção do Banco Central. A assessoria de imprensa do senador negou
a interferência. Afirmou que ele
nem sabia que havia requerimento de convocação do banqueiro.
Tucanos
O prefeito de São Paulo, José
Serra (PSDB), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) voltaram
ontem a desqualificar a lista de
Furnas, na qual aparecem como
beneficiários de recursos. Para
Serra, trata-se de um dossiê "vagabundo e maldoso, uma verdadeira palhaçada". Alckmin disse
que o papel é uma "falsificação
grosseira".
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