São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR

Comissão evita votar requerimentos de convocação de publicitário e de ex-diretor de estatal

Acordo tira Duda e lista de Furnas do foco da CPI

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acordo entre governo e oposição na CPI dos Correios evitou ontem a aprovação da convocação do publicitário Duda Mendonça e do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo. A discussão sobre os requerimentos para levar os dois a depor ficou para a próxima semana.
Diante de um jogo de ameaças veladas entre petistas e tucanos, a comissão chegou ao entendimento, nos bastidores, que a aprovação das convocações poderia criar um ambiente perigoso para os dois lados. A de Duda, pelo fato de ter trabalhado tanto para petistas quanto para políticos de outras legendas, incluindo oposicionistas. A de Toledo, por ser acusado de coordenar um esquema de caixa 2 em Furnas, em 2002, cujos supostos beneficiários são políticos hoje em sua maioria na oposição.
O quórum da sessão administrativa da CPI estava alto ontem, tanto que foram aprovadas 17 quebras de sigilo bancário pedidas pela sub-relatoria de contratos. "Há um requerimento da CPI solicitando à Polícia Federal o resultado dessa investigação, para a gente não cair daqui a pouco em um festival de listas que podem ser montadas unicamente para prejudicar os trabalhos. Temos de ter equilíbrio", disse o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), referindo-se à convocação de Dimas Toledo.
O suposto caixa dois em Furnas foi colocado em evidência novamente nesta semana por causa do depoimento do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Polícia Federal. Uma lista sem autenticidade comprovada, com a suposta assinatura de Dimas -que ele renega-, relaciona 156 políticos que teriam recebido dinheiro nas eleições de 2002, a maioria do PSDB e do PFL. Jefferson confirmou ter recebido R$ 75 mil do ex-diretor de Furnas, que nega tudo. A Polícia Federal investiga a autenticidade da lista.
A CPI também adiou a votação do requerimento de convocação do diretor de investimentos do Real Grandeza (fundo de pensão dos funcionários de Furnas), Carlos Guerra de Figueiredo. O mesmo aconteceu com o dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, por pressões como a do senador José Sarney (PMDB-AP).
O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) cobrou a marcação do depoimento do lobista Nilton Monteiro, que revelou a lista de Furnas. A convocação foi aprovada em agosto. Na seqüência o sub-relator de movimentação financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), pediu a palavra e cobrou o agendamento dos depoimentos de Solange Pereira, funcionária do departamento financeiro do PT, e de Soraya Garcia, ex-assessora financeira da campanha do PT de Londrina nas eleições de 2004.
O discurso oficial para não votar a convocação de Toledo, Duda e Edemar Cid Ferreira foi a ausência do relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que estava nos Estados Unidos em missão oficial da CPI. As negociações políticas da comissão, no entanto, são feitas por Delcídio.
O publicitário admitiu à comissão, em agosto, ter recebido recursos de caixa dois do PT, depositados nas Bahamas, por conta da campanha de 2002.
"Tem que ver o que estão trazendo dos Estados Unidos para ver se ouvir de novo o Duda contribui. De repente não vai acrescentar nada. Para fazer espetáculo não adianta", afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Integrantes da CPI afirmaram que Duda está mandando recados para o governo de que não teria estrutura emocional para prestar novo depoimento. Nos bastidores, Duda ameaça contar tudo o que sabe sobre caixa dois de todas as campanhas que fez.
Quanto a Edemar Cid Ferreira, o sub-relator de fundos de pensão, Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), propôs sua convocação devido a aplicações financeiras de fundos de pensão patrocinados por estatais no Banco Santos, liquidado em abril do ano passado.
O Ministério Público de São Paulo investiga se o banqueiro privilegiou Sarney ao liberar cerca de R$ 2 milhões que ele tinha em investimentos no Santos. A liberação ocorreu em 11 de novembro de 2004, um dia antes da intervenção do Banco Central. A assessoria de imprensa do senador negou a interferência. Afirmou que ele nem sabia que havia requerimento de convocação do banqueiro.

Tucanos
O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) voltaram ontem a desqualificar a lista de Furnas, na qual aparecem como beneficiários de recursos. Para Serra, trata-se de um dossiê "vagabundo e maldoso, uma verdadeira palhaçada". Alckmin disse que o papel é uma "falsificação grosseira".


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