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Ministro devolve R$ 31 mil gastos com cartão
Anúncio foi feito um dia após a ministra Matilde Ribeiro ter pedido demissão pelo uso irregular de cartões corporativos
Se os órgãos de fiscalização confirmarem a correção dos pagamentos, Orlando Silva pedirá ressarcimento pelos valores devolvidos à União
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro dos Esportes, Orlando Silva, anunciou ontem a
devolução de R$ 30.870,38 aos
cofres públicos. O valor, afirmou, é o total gasto por ele com
o cartão corporativo do governo durante 2006 e 2007.
"A devolução é um ato refletido, mas também um ato de indignação, porque me vi diante
de uma situação em que toda a
trajetória política passou a ser
questionada em função de um
debate sobre se pode ou não
[usar o cartão]. Nas entrelinhas, isso pode sugerir benefício pessoal, o que eu não admito", disse o ministro.
O anúncio da devolução foi
feito um dia depois da renúncia
da ministra Matilde Ribeiro, da
Igualdade Racial. Ela caiu porque usou indevidamente o cartão corporativo. Em 2007, a ministra gastou R$ 171 mil do cartão que é destinado somente a
situações de emergência.
Depois de Matilde, com uma
grande diferença, o ministro foi
um dos que mais gastaram com
o cartão corporativo. Em 2007,
foram R$ 20,1 mil.
"No meu caso, cada gasto que
fiz está fundamentado numa
convicção de que foi dentro da
legalidade. Há interpretações
diferentes sobre o que pode e o
que não pode [ser pago com o
cartão]. A questão dos cartões
corporativos ainda está em desenvolvimento no Brasil. Por
isso a minha decisão de recolher aos cofres públicos tudo o
que foi utilizado. Agora vou
aguardar uma avaliação dos órgãos de controle sobre cada
centavo gasto", disse.
Silva acrescentou que, quando o TCU (Tribunal de Contas
da União), a CGU (Controladoria Geral da União) e o Ministério Público Federal atestarem a
correção no uso do cartão, irá
pleitear o ressarcimento de todos os valores.
Aos jornalistas, o ministro
apresentou duas Guias de Recolhimento da União (GRU),
no total de R$ 30.870,38, de 1º
de fevereiro, e um comunicado
do chefe de gabinete do ministério ao Banco do Brasil, onde
Silva tem conta pessoal, autorizando o débito dos valores. "Sei
que foi uma decisão dura, radical, mas acho que assim essa
questão poderá ser discutida
com mais racionalidade."
A decisão de devolver a verba
pública, disse, foi unilateral.
Ele afirmou não ter se aconselhado com o governo federal
nem ter sido influenciado por
uma eventual CPI.
O ministro defendeu o uso
dos cartões corporativos, pois,
segundo ele, garantem uma
maior transparência nos gastos
públicos. Afirmou que continuará a usar o cartão, porém,
obedecendo às regras do último
decreto, publicado pelo governo em 2 de fevereiro.
Tapioca
Sobre o uso do cartão numa
tapiocaria de Brasília, onde gastou R$ 8,30, o ministro disse
que, em outubro do ano passado, descobriu o "equívoco" e
devolveu o dinheiro à União,
"antes de qualquer divulgação
pela imprensa".
"A compra da tapioca foi um
gasto feito por engano. Eu trouxe até os dois cartões, o corporativo e o pessoal, para mostrar
que é possível confundi-los."
Os dois são parecidos, ambos
do Banco do Brasil e dourados.
O ministro afirmou que, fora
o caso da tapioca, todos os demais gastos foram feitos em
momentos em que havia uma
agenda oficial. "Nenhum centavo foi gasto durante férias. E
também o volume de saque em
dinheiro foi zero."
Segundo o ministro, houve
um desencontro de informações divulgadas pela Transparência. Ele afirmou que dois
gastos realizados nos dias 19 e
20 de outubro aparecem como
se tivessem sido feitos no dia
22. Ele não especificou quais
foram esses gastos.
Imprensa
O ministro responsabilizou a
imprensa pela irracionalidade
que, segundo ele, tem pautado a
discussão sobre uso de cartões
corporativos do governo.
"Eu reivindico que haja um
rigor maior na notícia que é publicada sobre o risco de levar a
opinião pública a interpretações que maculem a integridade de alguém."
A entrevista ocorreu numa
sala de reuniões do luxuoso hotel Renaissance, em São Paulo.
O ministro afirmou que todas
as despesas decorrentes saíram
do "próprio bolso".
Segundo a assessoria do Ministério dos Esportes, o aluguel
da sala de reuniões ficou em
R$ 2.154,50 -sendo R$ 1.500
pela sala, R$ 94,5 por dezenas
de garrafinhas de água, R$ 60
pelo café e, finalmente, R$ 500
pelo sistema de som.
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