São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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TCE-SP pagou funcionários para presidente

Ainda hoje vinculado ao tribunal, nutricionista cuidava do pai de Eduardo Bittencourt, investigado por supostas contas ilegais nos EUA

Outro funcionário recebia pelo TCE, mas atuava como secretário particular de Bittencourt, que não quis comentar o assunto

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Eduardo Bittencourt Carvalho, investigado por supostas contas bancárias ilegais nos EUA, usou o órgão para pagar funcionários particulares. Um deles, ainda hoje vinculado ao TCE, cuidava do pai do conselheiro.
Em 1995, o nutricionista Petrúcio Gomes da Silva, 55, foi nomeado como agente de segurança e fiscalização do tribunal. O trabalho real, no entanto, era cuidar do pai do conselheiro, Waldemar Bittencourt de Carvalho, que morreu há cerca de cinco anos aos 91 anos de idade.
Em entrevista gravada, Silva disse à Folha que, durante sete anos, ficou dia e noite ao lado de Waldemar. "Eu trabalhava 24 horas, sem feriado nem sábado nem domingo." O nutricionista ainda recebe pelo tribunal, mesmo sem trabalhar.
"Ganho R$ 1.800 líquidos por mês, é um salário mixo, mal dá para me sustentar", disse Silva, que mora de graça em uma casa de Bittencourt. Sobre o fato de não ir ao TCE, afirmou fazer "trabalho externo".
Ruy Imparato, 68, foi secretário particular de Bittencourt por pelo menos dez anos. Ele também foi pago pelo TCE. A nomeação como auxiliar de gabinete foi publicada no "Diário Oficial" de 14 abril de 1991.
"Eu não exercia as funções do cargo. Ficava na casa do Eduardo, prestava serviço pessoal para ele e a família, pagava escola, dentista, médico, coisas assim", disse à Promotoria.
No depoimento, Imparato citou o nutricionista como outro caso de pagamento indevido pelo TCE. "Durante muitos anos, Petrúcio recebeu dinheiro dos cofres públicos estaduais, mas prestou serviços particulares a Bittencourt."

Laranja
O Ministério Público de São Paulo investiga a possibilidade de Bittencourt ter usado o pai Waldemar como eventual laranja. Segundo o nutricionista e o ex-secretário, a pedido de Bittencourt, o pai assinava inúmeros cheques e documentos.
"Ele não tinha muita capacidade de discernimento, estava bem velho. Quando assinava, não tinha muita consciência, não. O filho mandava e ele concordava. Bittencourt era filho único", afirmou o nutricionista.
O ex-acompanhante disse ainda que estranhava a prática. Segundo ele, se não era Bittencourt, era algum motorista que levava os papéis. "Era estranho porque o pai dele não era rico", afirmou. "O pai se aposentou como fiscal do café do porto de Santos e a mãe, que era muito trabalhadora, era doméstica. E o pai reclamava, dizia que não agüentava mais assinar tantos cheques." O ex-secretário particular de Bittencourt também afirmou, em depoimento, que, "até sua morte, Waldemar foi laranja de Bittencourt, pois muitos bens foram transferidos para o nome dele".
O Ministério Público recebeu o número de uma conta corrente e de uma poupança que supostamente pertenciam ao pai de Bittencourt. "Waldemar não era uma pessoa rica, como poderá demonstrar a movimentação das referidas contas", afirmou o ex-secretário.


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