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PMDB vence no Congresso e estabelece latifúndio de poder
Com triunfo de Sarney no Senado e Temer na Câmara, partido se fortalece para 2010
Resultado é "contribuição
à governabilidade", afirma
Dilma; ao assumir, Sarney
anuncia que vai cortar 10%
do orçamento do Senado
Lula Marques/Folha Imagem
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Sarney, ao lado de Renan Calheiros, recebe os cumprimentos do ex-presidente Fernando Collor
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de 16 anos e com o
apoio do presidente Lula, o
PMDB reconquistou as presidências da Câmara e do Senado. As vitórias dão ao partido
poder extra para buscar mais
espaço dentro do governo, no
qual já atua com a indicação política de seis ministros.
Na Câmara, venceu o deputado Michel Temer (PMDB-SP).
Ele teve 304 votos e superou
seus dois adversários -Ciro
Nogueira (PP-PI), que teve 129
apoios, e Aldo Rebelo (PC do B-SP), com 76 votos. A Câmara
tem 513 deputados e o quórum
ontem foi de 509.
No Senado, o vitorioso foi José Sarney (PMDB-AP). Ele havia passado os últimos dois meses tentando ser o candidato
único. A estratégia não deu certo. Ele teve de ir para a disputa
contra Tião Viana (PT-AC)
-venceu por 49 a 32, totalizando as 81 cadeiras do Senado.
Essas vitórias de Temer e de
Sarney conferem aos dois grande poder para influir no governo Lula, em especial na sucessão de 2010. A presidenciável
Dilma Rousseff, ministra da
Casa Civil, tentou desconversar
ao comentar a eleição. "A base
do governo foi vitoriosa", disse.
Questionada sobre uma vaga
de vice em sua eventual chapa,
afirmou: "Estamos falando de
2009. E essa vitória é em 2009
e tem que ser vista como uma
contribuição à governabilidade". Sob a ótica da oposição, o
presidenciável José Serra
(PSDB-SP) tem em Temer um
aliado potencial e em Sarney
um desafeto.
Apesar desse poder, nem Sarney nem Temer tiveram os
apoios que alardeavam.
No caso da Câmara, a aliança
formada pelo peemedebista tinha 15 partidos e um total de
425 deputados -o maior bloco
já criado dentro do Congresso.
Desses, 121 (28,3%) acabaram
traindo Temer na hora do voto.
No Senado, sarneyzistas começaram contando 58 votos, e
o número final foi desidratado
para 49. Muito da redução do
apoio se deu em decorrência de
uma decisão inusitada do
PSDB, cujo apoio oficial foi para Viana. Como a votação é secreta, não se pode mapear com
precisão as defecções.
A conquista de Temer se cristalizou apenas nas 72 horas anteriores à disputa. O peemedebista teve grande ajuda com a
saída de Osmar Serraglio
(PMDB-PR) do páreo, anteontem à noite. Primeiro, quase todos os seus votos migraram para Temer. Segundo, propagou-se um desânimo nas campanhas de Ciro e Aldo.
Temer, 68, e Sarney, 78, são
veteranos no comando do Congresso. Ambos começaram ontem o seus terceiros mandatos
nas presidências de Câmara e
Senado. O deputado foi eleito
pela primeira vez em 1997 e
reeleito em 1999. O maranhense, que agora se elege pelo Amapá, teve sua primeira eleição
para presidir o Senado em 1995
e a segunda em 2003.
O PMDB é descendente direto do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido de
oposição consentida durante a
ditadura militar (1964-1985).
Na volta do país à democracia, a
sigla comandou o Congresso
inteiro por vários anos seguidos. Na década de 90, começou
a entrar em decadência.
A última vez que dois peemedebistas estiveram à frente de
Câmara e Senado, no biênio
1991-1992, o país passou por
uma de suas maiores crises políticas. O então presidente da
República, Fernando Collor de
Mello, sofreu um processo de
impeachment. No Congresso, o
chamado escândalo dos anões
do Orçamento provocou a perda de vários mandatos.
Agora, o PMDB assumirá o
poder no Congresso em meio a
uma crise econômica e assediado pelo PT e pelo PSDB para
formar uma aliança nas eleições de 2010. A sigla também
continua fracionada.
Ao tomar posse, Sarney
anunciou um corte linear de
10% do orçamento do Senado
(de R$ 2,7 bilhões neste ano).
Também prometeu criar uma
comissão para discutir a crise.
"Não me chamem de um homem retrógrado, como se eu
fosse um velho que está chegando aqui, querendo, como
um macróbio [aquele que vive
muito], não renovar o Senado",
disse ele. Ex-presidente da República (1985-1990) e com 33
anos de mandato de senador,
Sarney será o 63º presidente do
Senado. O posto também lhe
confere o comando da presidência do Congresso Nacional,
formado por todos os senadores e deputados.
O principal articulador sarneyzista foi o senador Renan
Calheiros (PMDB-AL), que
reassumiu a liderança da bancada do PMDB. Além do seu
partido, Sarney contou com o
apoio oficial de DEM, PTB, PP e
PR. Os aliados do derrotado
Tião Viana foram PT, PSOL,
PRB, PDT, PSB e PSDB -este
último teria lhe dado 12 votos.
Na Câmara, a primeira promessa de Temer foi a de regulamentar a Constituição. Também anunciou a criação de uma
procuradoria parlamentar feminina -para garantir às 44
deputadas direito de voz e voto
nas reuniões de líderes.
Ele tentará dar maior visibilidade ao trabalho dos congressistas nos Estados, em especial
nos finais de semana. "Me insurgirei àqueles que disserem
que nós só trabalhamos de terça a quinta. Temos que lembrar
que Brasília é o Brasil formal e
que o Brasil real está lá fora, nas
nossas bases", discursou.
(FERNANDO RODRIGUES, LETÍCIA SANDER, MARIA CLARA CABRAL,
FERNANDA ODILLA E ADRIANO CEOLIN)
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