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Lula "estarrece", afirma presidente do TSE
Apesar de considerar a troca de ataques com o petista um "episódio superado", Marco Aurélio sugere que governo descumpre a lei
Ministro, que julgará no STF se "Territórios da Cidadania é "eleitoreiro", diz que lei veta criação e ampliação de programas em ano eleitoral
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após a troca de farpas com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na semana passada, Marco Aurélio Mello, presidente do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), disse ontem que o petista "estarrece" ao
falar de improviso e sugeriu
que o novo programa social do
governo, o Territórios da Cidadania, fere a lei eleitoral.
"Sou uma pessoa que preconiza a liberdade de expressão e
homenageia a espontaneidade.
Só que a espontaneidade deve
se fazer em um ambiente sadio,
em um ambiente de equilíbrio,
em alto nível, sem agressões e
menos agressões pessoais", disse, acrescentando em seguida:
"Conhecemos o estilo do presidente. Às vezes, quando deixa o
script e parte para o improviso,
ele não nos surpreende, ele nos
estarrece, como nos estarreceu
agora por último".
Em mais uma resposta a Lula, que recomendou a Marco
Aurélio que renunciasse ao cargo de ministro do Supremo e se
candidatasse a um cargo público caso quisesse "falar bobagens", o presidente do TSE afirmou que "as bobagens não são
uma primazia dos políticos".
Na última quinta-feira, em
fala de improviso em Aracaju
(SE), Lula afirmou que "seria
tão bom se o Poder Judiciário
metesse o nariz apenas nas coisas deles, o Legislativo apenas
nas coisas deles e o Executivo
apenas nas coisas deles". No dia
seguinte, disse que "não existe
crise de Poderes no país" e que
tem o direito "de dar palpites e
julgar os palpites dos outros".
A declaração de Lula sobre o
Judiciário foi uma resposta ao
presidente do TSE, que, dias
antes, havia dito que o novo
programa de combate à pobreza rural poderia ser contestado
judicialmente. Ontem, Marco
Aurélio disse que o episódio está superado. "Creio que os fatos
ficaram esclarecidos e houve
uma exacerbação, essa exacerbação foi escancarada e se buscou uma correção de rumos."
Programa social
Centro da polêmica e lançado por Lula na semana passada,
o Territórios da Cidadania vai
atender 7,8 milhões de pessoas
que vivem na zona rural de 958
municípios de todos os Estados. A marca "Territórios da
Cidadania" é nova e irá agrupar
ações já existentes. Não há recursos novos ao programa.
Ontem, Marco Aurélio sugeriu que o programa poderá ser
contestado por descumprir a
Lei 9.504: "Se a lei não permite
sequer o elastecimento [de programas], ela também não permite a criação, que é algo de envergadura maior, não é?".
A lei proíbe, em ano eleitoral,
"a distribuição gratuita de
bens, valores ou benefícios por
parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de
emergência ou de programas
sociais autorizados em lei e já
em execução orçamentária no
exercício anterior".
"O que se obstaculiza é o aumento desse programa e a criação de novos programas", disse.
Para Marco Aurélio, "as regras
do certames eleitorais" têm de
ser cumpridas. "Absolutamente ninguém, num Estado democrático de direito, pode tudo,
nem mesmo o presidente."
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