|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA DA 2ª
JOHN ZOGBY
Hillary está em séria desvantagem, mas eleitor desafia senso comum
Pesquisador de eleições americanas acredita que vencerá o candidato que conseguir tirar latinos e jovens de casa
SEJA QUEM for o vencedor das primárias de
amanhã, em quatro Estados americanos
(Texas, Ohio, Rhode Island e Vermont), o
mais provável é que Barack Obama seja escolhido o candidato democrata. Se a disputa for mesmo
entre ele e o republicano John McCain em 4 de novembro, o senador negro vencerá se conseguir fazer
com que jovens e latinos saiam de casa para votar. Essas são as conclusões de John Zogby, um dos principais pesquisadores de eleições presidenciais dos Estados Unidos e dono do instituto de pesquisas que leva seu sobrenome. Zogby falou com exclusividade à Folha, por telefone, de seu escritório em Utica, no Estado de Nova York.
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)
FOLHA - Baseado no que o sr. levantou até agora, quem vai ser o
candidato dos democratas?
ZOGBY - Aprendi a não fazer esse tipo de previsão [risos].
Quando faço, as pessoas me levam muito a sério, o que sempre resulta em problemas para
mim. No momento em que
conversamos, o mais longe que
posso ir é dizer que está claro
que Barack Obama tem uma
vantagem. E que Hillary Clinton está em séria desvantagem.
Mas os eleitores têm desafiado
o senso comum na corrida presidencial deste ano, então tudo
pode acontecer.
FOLHA - O que leva à próxima pergunta: por que as pesquisas têm ido
tão mal nestas eleições?
ZOGBY - Há várias razões, mas
a principal é o índice recorde de
comparecimento. Há muito
eleitor novo comparecendo às
urnas, e nem sempre é possível
captar essa dinâmica nas pesquisas. Em segundo lugar, há
um grande número de pessoas
que decide o voto só no dia. Nas
prévias de New Hampshire, foram 18% os que decidiram no
dia. É muito. A terceira razão
tem a ver com o mundo em que
vivemos em 2008.
Nas outras eleições, as pessoas ouviam o noticiário e, em
48 horas, reagiam a ele. Então
talvez houvesse uma mudança
na opinião pública. Hoje, as
pessoas têm acesso à informação tão rápida e facilmente que
é possível que Hillary Clinton
apareça com olhos lacrimejantes numa segunda-feira de manhã, as pessoas a vejam à tarde,
e isso tenha impacto no jeito
que elas votam na terça-feira.
[Ao episódio em que Hillary se
emocionou antes das prévias e
após a derrota em Iowa é atribuída grande parte de sua vitória em New Hampshire. Antes
disso, ela aparecia atrás de Obama nas pesquisas eleitorais.]
FOLHA - O sr. não acha que o fenômeno recente dos sites agregadores
de pesquisas, como o RealClearPolitics, ajuda essa confusão? Muitos
juntam no mesmo saco levantamentos feitos em datas diferentes e
com metodologia e universos diferentes, o que gera uma distorção.
ZOGBY - É preciso entender
que as pesquisas não são um fenômeno perfeito, temos de ter
uma expectativa realista em relação a elas. Na maior parte das
vezes, fazemos um bom trabalho e, de vez em quando, não
tão bom. Mas não fazemos previsão, não somos adivinhos, só
mostramos uma foto que captura um momento específico
da corrida. Assim, não vejo
grandes problemas nos agregadores de pesquisas, especialmente se usam pesquisas feitas
muito próximo do dia da eleição. O problema é quando pegam uma feita hoje e uma há
seis semanas e tiram a média.
FOLHA - Suas pesquisas confirmam
a impressão de que Obama parece
entrar cada vez mais em redutos tradicionais de Hillary, como o universo
das mulheres brancas mais velhas e
o dos eleitores de baixa renda.
ZOGBY - Sim, mas há outro fenômeno que captamos e que é
pouco comentado. É seguro dizer que, nas eleições gerais, a
maior parte dos eleitores que
hoje vota na senadora migrará
para Obama se for o escolhido
do partido. O mesmo não pode
ser dito na situação oposta.
FOLHA - O senador gosta de dizer
que tem a capacidade de transformar Estados historicamente "vermelhos" (republicanos) em "azuis"
(democratas) e assim bater McCain.
O sr. concorda?
ZOGBY - Não sei se ele tem a capacidade de mudar a cor dos
Estados, mas sei que muitos
Estados tradicionalmente republicanos terão dificuldade
em votar em John McCain,
pois ele é muito progressista.
Talvez Obama aproveite isso.
Isso pode ser verdade especialmente no sul, tradicionalmente
republicano, onde a questão racial pode influir também.
FOLHA - Fala-se muito também
que o voto latino e o voto jovem podem decidir essas eleições. O que há
de verdade nisso?
ZOGBY - Muita, nos dois casos.
Só depende do índice de comparecimento nas eleições de
novembro desses dois grupos,
que é historicamente baixo. E
ambos são votos fortemente
democratas no momento. Ou
seja, o democrata que conseguir tirar latinos e jovens de casa para votar poderá virar a
eleição a seu favor. Ele vai precisar muito desse voto, de um
comparecimento em massa.
FOLHA - Nas eleições presidenciais
de 2004, vários grupos conservadores conseguiram colocar nas cédulas
estaduais plebiscitos sobre casamento de mesmo sexo e direito ao
aborto como maneira de tirar o eleitor conservador de casa para votar
contra. Isso ajudou a dar a vitória a
Bush. O sr. vê o mesmo acontecendo
nestas eleições em relação à questão dos imigrantes ilegais?
ZOGBY - Se acontecer, os dois
grupos de que falamos ganharão ainda mais importância.
Uma proposta antiimigração
poderá levar a uma retaliação,
uma resposta entre os latinos e
os jovens, que são mais progressistas -e aí tirará esses
dois grupos de casa para votar.
Pode vir a ser um tiro pela culatra para os republicanos.
FOLHA - Ao mesmo tempo, segundo pesquisa recente de seu instituto,
a maioria dos eleitores norte-americanos vê a imigração ilegal sob uma
ótica negativa. Isso não pode influenciar a postura dos candidatos?
ZOGBY - Não creio. Primeiro
porque, ironicamente, de todos
os pré-candidatos republicanos, os eleitores escolheram o
mais progressista em relação
ao tema, que é John McCain.
Segundo porque sempre achei
que a questão da imigração ilegal é "perdedora" por natureza
para os conservadores.
O candidato que defende
uma posição mais dura em relação a ela pode ganhar votos em
alguns distritos congressionais
fortemente conservadores,
mas esse pequeno ganho é nada
comparado ao que ele perderá
entre o voto latino. E esse voto
teve um crescimento não só em
número absoluto mas também
em energia e mobilização.
Lembro-me sempre da reação que os latinos tiveram em
1994 na Califórnia, quando os
eleitores tiveram de votar sim
ou não à chamada proposta 187,
que proibia imigrantes ilegais
de ter acesso a serviços públicos como escola e hospitais. A
proposta passou com vitória
apertada, virou lei, mas foi revogada pela Justiça por inconstitucional. Só que o Partido Republicano na Califórnia ficaria
marcado para sempre por ela.
FOLHA - Ainda assim, pesquisas de
boca-de-urna feitas nas principais
primárias até agora mostram que a
preocupação principal do eleitor não
é a imigração ilegal, mas a economia, seguida num distante segundo
lugar pela Guerra do Iraque. A imigração vem em terceiro.
ZOGBY - É verdade. Mas há um
elemento da questão imigratória que se confunde com a economia. É difícil separar, embora haja também um elemento
que tem a ver com justiça e tradição. O principal aspecto desse tema, no entanto, não é tanto
o número de pessoas que o escolhe como uma questão importante, mas a intensidade entre os que o escolhem. É muito
intenso no lado conservador e
igualmente no hispânico.
FOLHA - Por fim, em quais pesquisas o sr. confia mais, nas nacionais
ou nas locais?
ZOGBY - De modo geral, se você
olha ao longo dos anos, há uma
estabilidade maior entre o eleitor nacional que entre o eleitor
eventual de uma primária.
Texto Anterior: Campo minado: Fazenda que será loteada é invadida pelo MST, em Itatiba Próximo Texto: Frases Índice
|