São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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BASE GOVERNISTA
PSDB e PMDB se unem contra o PFL, criticado pelo presidente
Aliança que sustenta FHC vive período de romance e traição

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

A aliança política que sustenta o presidente Fernando Henrique Cardoso vive dias de romance e traição. Um namoro de conveniência aproxima cada vez mais dois dos partidos da base governista -o PSDB e o PMDB, empenhados em garantir uma fatia maior de poder na aliança.
No último programa da dupla, tucanos e peemedebistas se uniram para tentar esvaziar a figura do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a quem o presidente FHC vem atribuindo há vários meses quase todas as mazelas do governo.
O presidente do Senado vem incomodando os aliados com sua bandeira de combate à pobreza e com a defesa de um salário mínimo de US$ 100.
São ares de oposição, reclamam os demais aliados de FHC, dispostos a amargar certa dose de impopularidade se isso for necessário para permanecer no poder e, quem sabe, para desfrutar mais tarde da recuperação do desenvolvimento econômico.
""Não dá para ele passar atestado de bobo e de insensível ao PMDB e ficar como o salvador da pátria", disse o senador Jader Barbalho (PA), presidente e líder do partido. ""Não dá para ele ganhar popularidade às custas do desgaste do governo."
Coube ao senador protagonizar a tentativa de conter os arroubos verbais de ACM, ao travar com o cacique pefelista um duelo pelos microfones do Senado. O Planalto soube antes do que aconteceria no plenário.
Naquela altura, a paciência de FHC com ACM já havia chegado ao limite. O pefelista já havia abalado o humor palaciano em 1999 com a sua defesa de um fundo com dinheiro garantido para o combate à pobreza.
Antes disso, foi a idéia do senador baiano de criar uma CPI para investigar o Judiciário que levou à criação de uma CPI dos bancos pelo PMDB, bagunçando os planos do governo. No intervalo, ACM condenou reajustes dos preços da gasolina.
A performance da última quinta nos microfones do Senado rendeu a Barbalho alguns pontos a mais no namoro com o PSDB. No que depender dos tucanos, ninguém vai tirar de Jader a cadeira de ACM na próxima eleição para a presidência do Senado, em fevereiro.
Nos planos do PSDB, Jader será presidente do Senado. O deputado Aécio Neves (MG), ou outro tucano, ocupará a presidência da Câmara. Seria rompida assim uma regra que vem se mantendo desde o início do governo FHC, segundo a qual PMDB e PFL se revezam no comando das Casas do Congresso.
O PFL não se conforma com a expectativa de perder poder. Desde 1995, vem ocupando o lugar de parceiro preferencial do PSDB. O inconformismo com as manobras dos tucanos por mais espaço no comando do Congresso justifica em parte a campanha dos pefelistas pelo salário mínimo equivalente a US$ 100.
Em conversas reservadas, peemedebistas e tucanos deixam claro que o namoro iniciado em 1999 sob a supervisão do ministro José Serra (Saúde) está mais para caso passageiro do que para promessa de casamento.
Jader Barbalho nem gosta de chamar de namoro o relacionamento entre PMDB e PSDB. ""Namoro pressupõe afeto, e não é o caso", diz.
Convém a FHC um aliado para se contrapor aos constrangimentos que o cacique pefelista vem impondo ao governo, embora não convenha a FHC excluir o PFL da base de apoio do Planalto tão cedo. Convém ainda mais aos tucanos, preocupados com o jogo da sucessão presidencial, tentar transformar FHC no homem que dará as cartas, marcará os principais lances da próxima disputa pelo Planalto.
A disputa na base aliada promete espantar o tédio nas próximas semanas. Neste mês, a pré-candidata do PFL à sucessão de FHC, Roseana Sarney, começa a viajar pelo Brasil. É possível que esteja em curso também o fim da aliança. Tudo vai depender das conveniências.


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