São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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""MST vai dar troco", afirma líder

EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha

Às vésperas de ser julgado por duplo homicídio, José Rainha Júnior, 39, dá um recado que soa como ameaça caso ele saia condenado do tribunal. "O MST dará o troco à altura, se houver condenação".
O dirigente diz ser "difícil prever" a reação dos movimentos sociais se for condenado, mas usa uma metáfora para dizer que não ficará preso. "Se eu for para a cadeia, a sociedade estará com a chave".
Caravanas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra já estão a caminho de Vitória para acompanhar o julgamento de um dos maiores líderes da organização.
Rainha acredita ser uma vítima de perseguição política. Alega inocência no caso. Diz que não estava em Pedro Canário (ES) na época do crime.
Ele afirmou que nos últimos dias recebeu dois telefonemas e um telegrama anônimos dizendo que seria condenado. Não soube precisar de quem poderiam ser as ameaças.
A seguir, leia os principais trechos de sua entrevista.

Agência Folha - O sr. acredita na Justiça brasileira?
José Rainha Júnior -
Acredito que haverá justiça. O Brasil não pode continuar com a impunidade. Não pode passar para o Primeiro Mundo a imagem de um país que só coloca na cadeia pobres, negros e desempregados.

Agência Folha - O senhor se considera um réu político?
Rainha -
Existe uma perseguição política. Todo mundo sabe da minha inocência, que eu não estava na região de Pedro Canário há mais de um ano.

Agência Folha - Existe algum interesse na sua condenação? De quem?
Rainha -
Sim. Dos latifundiários, da elite atrasada que não quer o desenvolvimento. Esses, sim, querem me botar na cadeia, querem colocar na cadeia quem ousa lutar por um Brasil melhor.
Existe interesse dessa ordem podre que está aí, que só beneficia meia dúzia de privilegiados e condena a ampla maioria do nosso povo a viver na escravidão.

Agência Folha - O sr. acha que o governo teria algum interesse na sua condenação?
Rainha -
Não creio. Não interessa para o governo a condenação de uma liderança nesse país.

Agência Folha - Qual será a reação do MST se o senhor for para a cadeia?
Rainha -
É difícil prever. O MST não vai ficar quieto. Os movimentos sociais também não. Aqueles que lutam por justiça vão reagir. Se eu for para a cadeia, a sociedade estará com a chave.

Agência Folha - Que tipo de reação pode haver?
Rainha -
É difícil imaginar. Pode haver grandes mobilizações por justiça. O MST é um nome muito forte no Brasil e no exterior. Suas lideranças têm história nas lutas em defesa dos direitos humanos e da vida.
Certamente, muitas pessoas vão sair do anonimato em defesa da justiça, do MST, daqueles que estão sendo condenados injustamente.

Agência Folha - Uma eventual condenação no julgamento em Vitória pode abalar a estrutura do movimento dos sem-terra?
Rainha -
Pelo contrário. Uma condenação reacende os ânimos da indignação e anima muita gente a lutar. O MST dará o troco à altura, se houver condenação.

Agência Folha - O sr. recebeu algum tipo de ameaça ultimamente?
Rainha -
Sim. As perguntas que me fizeram em dois telefonemas e em um telegrama estão relacionadas com o julgamento. São provocações de pessoas que querem tumultuar, que não têm provas.
Estou consciente do meu papel, da minha inocência. Por isso não temo nenhuma ameaça e vou estar no Tribunal do Júri.



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