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""MST vai dar troco", afirma líder
EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha
Às vésperas de ser julgado
por duplo homicídio, José Rainha Júnior, 39, dá um recado
que soa como ameaça caso ele
saia condenado do tribunal. "O
MST dará o troco à altura, se
houver condenação".
O dirigente diz ser "difícil
prever" a reação dos movimentos sociais se for condenado, mas usa uma metáfora para
dizer que não ficará preso. "Se
eu for para a cadeia, a sociedade estará com a chave".
Caravanas do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra já estão a caminho de Vitória para acompanhar o julgamento de um dos maiores líderes da organização.
Rainha acredita ser uma vítima de perseguição política.
Alega inocência no caso. Diz
que não estava em Pedro Canário (ES) na época do crime.
Ele afirmou que nos últimos
dias recebeu dois telefonemas e
um telegrama anônimos dizendo que seria condenado.
Não soube precisar de quem
poderiam ser as ameaças.
A seguir, leia os principais
trechos de sua entrevista.
Agência Folha - O sr. acredita na Justiça brasileira?
José Rainha Júnior - Acredito que haverá justiça. O Brasil
não pode continuar com a impunidade. Não pode passar para o Primeiro Mundo a imagem de um país que só coloca
na cadeia pobres, negros e desempregados.
Agência Folha - O senhor se
considera um réu político?
Rainha - Existe uma perseguição política. Todo mundo
sabe da minha inocência, que
eu não estava na região de Pedro Canário há mais de um
ano.
Agência Folha - Existe algum interesse na sua condenação? De quem?
Rainha - Sim. Dos latifundiários, da elite atrasada que não
quer o desenvolvimento. Esses,
sim, querem me botar na cadeia, querem colocar na cadeia
quem ousa lutar por um Brasil
melhor.
Existe interesse dessa ordem
podre que está aí, que só beneficia meia dúzia de privilegiados e condena a ampla maioria
do nosso povo a viver na escravidão.
Agência Folha - O sr. acha
que o governo teria algum interesse na sua condenação?
Rainha - Não creio. Não interessa para o governo a condenação de uma liderança nesse
país.
Agência Folha - Qual será a
reação do MST se o senhor for
para a cadeia?
Rainha - É difícil prever. O
MST não vai ficar quieto. Os
movimentos sociais também
não. Aqueles que lutam por
justiça vão reagir. Se eu for para
a cadeia, a sociedade estará
com a chave.
Agência Folha - Que tipo de
reação pode haver?
Rainha - É difícil imaginar.
Pode haver grandes mobilizações por justiça. O MST é um
nome muito forte no Brasil e
no exterior. Suas lideranças
têm história nas lutas em defesa dos direitos humanos e da
vida.
Certamente, muitas pessoas
vão sair do anonimato em defesa da justiça, do MST, daqueles que estão sendo condenados injustamente.
Agência Folha - Uma eventual condenação no julgamento em Vitória pode abalar a estrutura do movimento
dos sem-terra?
Rainha - Pelo contrário. Uma
condenação reacende os ânimos da indignação e anima
muita gente a lutar. O MST dará o troco à altura, se houver
condenação.
Agência Folha - O sr. recebeu algum tipo de ameaça ultimamente?
Rainha - Sim. As perguntas
que me fizeram em dois telefonemas e em um telegrama estão relacionadas com o julgamento. São provocações de
pessoas que querem tumultuar, que não têm provas.
Estou consciente do meu papel, da minha inocência. Por isso não temo nenhuma ameaça
e vou estar no Tribunal do Júri.
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