São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

FHC institui corregedora-geral, com o status de ministro

Após abafar CPI, presidente cria cargo anticorrupção

KENNEDY ALENCAR
LEILA SUWWAN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de abafar a CPI no Congresso e ver a imagem do governo associada à corrupção, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou ontem a Corregedoria Geral da União, para coordenar as investigações de denúncias na administração, e atacou indiretamente o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e a oposição, que defendem a comissão parlamentar de inquérito.
FHC decidiu criar a corregedoria após analisar pesquisas de opinião. O objetivo é dar uma resposta a fim de tentar dissociar a imagem do governo do "clima fictício de "mar de lama" " -expressão do próprio presidente.
Segundo o Datafolha, 84% dos pesquisados são a favor de CPI. Para 71%, há casos de corrupção no governo e 56% acham que FHC não tem combatido a corrupção.
FHC afirmou que seu governo tem "preocupação permanente com a corrupção" e que todos os temas que a CPI deseja apurar já estão sendo investigados, seja pelo governo (Polícia Federal e Advocacia Geral da União), seja pelo Ministério Público.
No Congresso, a oposição avalia que tem pouca chance de instaurar a CPI, que seria mista (deputados federais e senadores). Faltam duas assinaturas no Senado e quase 40 na Câmara.
Antes de anunciar que a subprocuradora da República aposentada Anadyr de Mendonça Rodrigues chefiaria com status de ministra a Corregedoria Geral da União, FHC usou o discurso para fazer suas críticas e um balanço de medidas anticorrupção que tomou desde o primeiro mandato.
"Ela (Anadyr) vai ter carta branca para atuar com status de ministro e para avançar nas investigações sem quaisquer empecilhos, de forma que o presidente não tenha de vir explicar o que já vem sendo feito e para que quem gosta de fazer barulho não faça com o trabalho dos outros", disse FHC.
Em relação à oposição, disse que a CPI da corrupção tem "conotação política, pré-eleitoral". No governo, diz-se que o principal beneficiado seria o PT, que deve lançar a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva pela quarta vez.
O presidente afirmou que, na democracia, não se pode instituir "um paredão moral de fuzilamento". Afirmou que ainda que a CPI misturaria "alhos com bugalhos" e se transformaria em "bandeira de campanha eleitoral".


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