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JANIO DE FREITAS
O descontrole
A desmilitarização não é mágica. Ou será um processo racional ou será um misto
de bagunça e leviandade
A MELHORA DA situação nos aeroportos contribuiu para a
aparência menos inquietante
da crise, mas o ambiente e as tendências nos círculos ressentidos
contrariam aquelas aparências, com
novos motivos de contraposição,
com os reflexos na Marinha e no
Exército e, ainda, com o acréscimo
de um fato de enorme gravidade -o
abandono da direção do controle aéreo pela FAB, deixado em mãos dos
funcionários subalternos.
Com tal atitude, altiva como resposta à desautorização dos comandos da Aeronáutica por Lula, em termos funcionais a FAB criou ou aumentou o risco de acidentes aéreos,
risco a que ficam sujeitados milhares de pessoas. O controle aéreo não
pode ter eficácia, nem mesmo a minimamente indispensável, sem as
funções de coordenação, direção e
relações autorizadas com os setores
complementares, por exemplo, de
apoio em informática, em comunicações e de material.
Em termos militares, o abandono
do serviço implica a oficialidade e
seu comando na recusa a atividade
que lhe está atribuída pela legislação. É ilegalidade equivalente à dos
seus subordinados grevistas. Se o
Ministério Público Militar entrou,
como lhe compete, com pedido de
inquérito policial-militar contra os
sargentos insubordinados, o que lhe
cabe quanto aos responsáveis pela
atividade de controle não é, por
princípio, diferente.
A contribuição negativa de Lula
persiste com declarações de rearrumação da face. E tem, hoje, um dia
que suscita expectativas entre os
controladores: a terça-feira foi o dia
marcado por Lula, em afirmações
ainda nos Estados Unidos, para
apresentar "a solução definitiva" da
crise. Como poderia fazê-lo, com
tantos problemas diferentes envolvidos na questão, não se pode sequer
imaginar. Além da data-chave, ficou
marcada para hoje uma reunião de
representantes do governo e dos
controladores.
Embora tenham abrandado sua
atitude pública, inclusive retirando
a chantagem de nova greve na Semana Santa, os controlores se dispõem a manter hoje as exigências de
desmilitarização apressada do controle. Mas a desmilitarização não é
mágica. Ou, no caso, será um processo racional ou será um misto de bagunça e leviandade. Não há muito o
que os satisfaça de verdade, a esse
respeito, na promessa inconsciente
de Lula.
A propósito de reunião, uma outra
deu indicação clara de reflexos da
crise nos outras dois segmentos militares. Reunião convocada por Lula
para ontem contaria, na informação
palaciana, com os ministros Dilma
Rousseff, Waldir Pires e Paulo Bernardo e, comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Juniti Saito. A meio
do dia, chamados para conversar
com Lula passaram a ser os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
A crise ainda não adquiriu clareza
alguma. O governo não se mostra
menos aturdido do que se viu em
suas primeiras e mal conduzidas
reações. As partes em confronto direto não apresentam sinal de possível composição entre seus objetivos.
O que se percebe é uma série de problemas a se projetarem com estilhaços explosivos no futuro. Como a
contradição entre a previsível sentença punitiva dos controladores,
pela Justiça Militar, e a promessa de
Lula de que a greve não levaria a punições. Ou as previstas dificuldades
da indispensável colaboração da Aeronáutica para a desmilitarização
eficiente do controle, caso Lula não
a relegue para recompor suas relações com os militares. E assim há várias.
Mas se o ônus deixa de recair sobre milhares de pessoas alheias às
causas da crise, já é alguma melhora.
Bem, não alguma, senão a única.
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