São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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Lula vê "chantagem política" contra Dilma no caso dossiê

Presidente diz que investigação para saber origem do vazamento pode fracassar

Petista sugere que imprensa diga de quem recebeu as informações sobre gastos da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso

Alan Marques/Folha Imagem
Presidente Lula cumprimenta crianças de escolas públicas de Brasília que acompanhavam cerimônia no Palácio do Planalto

LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é vítima de "chantagem política" no episódio do vazamento e divulgação de dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em entrevista no Itamaraty, após almoçar com o presidente da Eslovênia, Danilo Türk, ele isentou a ministra de suspeições e minimizou o impacto das informações do dossiê.
O petista disse que a impressão que tem do episódio -classificado por ele como lamentável- é que "alguém encontrou um osso de galinha e tentou vender para a imprensa que tinha encontrado uma ossada de dinossauro. Na hora que foi montar para saber o tamanho do dinossauro percebeu que era um franguinho".
"Eu acho que a pessoa que tem a história da Dilma, a pessoa que presta um serviço ao país que a Dilma presta, não pode ser vítima de uma chantagem política de uma figura que eu não sei quem é, que roubou peças de um documento de um banco de dados e vendeu a idéia para alguém que era um dossiê.
Eu não posso em algum momento ter um milésimo de suspeita contra a ministra Dilma, porque conheço ela, sei da história dela e sei que serviço ela presta ao país", afirmou.
Apesar de o governo ter aberto uma sindicância para apurar o responsável pelo vazamento, Lula reconheceu que o Planalto pode não chegar a conclusão nenhuma e sugeriu que mais fácil seria se a imprensa dissesse de quem recebeu os dados.
"Estamos tranqüilos, obviamente que tristes porque quem recebeu na imprensa sabe quem foi. E nós vamos ter que fazer uma investigação e, possivelmente, nunca saberemos quem foi que pegou o documento de um banco de dados e vendeu como se fosse dossiê." Lula disse que "foi uma leviandade clandestina". "Se tivesse caráter, não seria clandestino."
"Não quero acusar ninguém, porque é muito ruim você acusar sem saber. Hoje tem jornais que já dizem que teve senadores que participaram disso. Eu ainda não li a matéria, mas acho lamentável", afirmou.
Numa defesa veemente da principal ministra de seu governo, tida como candidata à sucessão em 2010, Lula disse que "não é justo" que alguém submeta Dilma a essa situação.
E afirmou que a ministra tem "compromisso com este país 24 horas por dia". "Porque pode ter neste planeta alguém que trabalhe igual, mas mais do que a Dilma trabalha, com a responsabilidade que ela tem... Ou seja, não é justo que alguém faça isso com ela."
O presidente disse ainda que, como "seres políticos", ele e Dilma têm de "suportar essas coisas até que a verdade venha à tona". "Só tem algumas pessoas que sabem: os jornalistas que receberam o tal documento que era do tal banco de dados e foi transformado em dossiê e o cidadão, a cidadã, sei lá quem, que pegou esse documento."
Também afirmou que não é a primeira, nem a segunda, e não será a última vez na história do Brasil "que alguém tenta roubar documento de um jeito para vendê-lo de outro".
Disse que sua orientação diante do episódio é de "não parar de trabalhar um só minuto" e acrescentou que ele e Dilma vão continuar viajando pelo Brasil, a despeito de críticas sobre suposta atuação "eleitoreira" em eventos pelo país.
"Temos obrigação com este país, lançamos um programa de investimentos, agora as obras estão começando a acontecer, vou continuar viajando pelo Brasil, a Dilma continuará viajando pelo Brasil e as pessoas que estão na CPI que apurem e dêem um jeito de evitar que essas coisas voltem a acontecer."


Colaborou ELIANE CANTANHÊDE , colunista da Folha


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