São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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JANIO DE FREITAS

Conversas de todo dia


Alencar apenas levou ao microfone radiofônico o assunto cuja constância não permite surpresa a ninguém

O TOM GERAL entre surpresa e crítica, nas reações de políticos à menção do vice José Alencar a "mais tempo" para Lula, tem muito de encenação e, quando inclui, pouco de sinceridade. Como preocupação, sondagem ou como discreta aprovação, esse é o tema em que todas as cabeças políticas se encontram e para o qual convergem, mais cedo ou mais tarde, todas as conversas que se introduzem na (possível) sucessão de 2010, no uso propagandístico do Programa de Aceleração do Crescimento, nas viagens extravagantes de Lula, nos seus discursos cada vez mais agressivos e mais insinuantes de messianismo.
O vice Alencar apenas levou ao microfone radiofônico, como sua opinião ("de democrata", fez questão de ressaltar), o assunto cuja constância, entre os que convivem com política, não permite surpresa a ninguém.
Nesse caso raro de comunhão temática é ampla uma espécie de velada certeza do propósito de Lula, expressa nas especulações divergentes sobre a forma de realização do continuísmo, mas sempre continuísmo: por meio plebiscito que autorize a candidatura para terceiro mandato; ou com emenda constitucional direta como foi feita para Fernando Cardoso, ou ainda com mais dois mandatos depois de um interregno, entre 2011 e 2014, preenchido por um(a) sucessor(a) de plena lealdade.
As duas primeiras hipóteses suscitam o desdobramento especulativo entre as vias para facilitá-las. A mais explícita, com propostas específicas ao Congresso, ou o terceiro mandato metido em um desvão de projeto de reforma política.
Por acaso ou não -faça no fim a sua escolha-, no dia em que o vice Alencar fala da "preferência dos brasileiros" por "mais tempo para Lula", uma segunda fala inesperada o complementou. Diante dos grandes empresários e outros que integram o populoso Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (mas não Político), o próprio Lula, mesmo sem saber "se caberia aqui propor" tal tema, pediu "uma discussão sobre reforma política". A reforma que qualificou como "a mais importante de todas elas".
Diante dessa importância, Lula não sabe "por que as pessoas não querem fazer, a gente percebe a fragilidade dos partidos, as debilidades, e as pessoas não querem fazer".
Mas Lula sabe por que quer fazê-la.

Reconhecimento
A atribuição que os governistas fazem a "um tucano" infiltrado no Planalto, para divulgar o tal dossiê, é de uma pobreza mental que chega a ser insultuosa. Mas tem um lado aproveitável: é uma acusação à escolha incompetente de assessorias palacianas e, como complemento, da Abin com suas depurações dos cadastros para nomeações. E a Presidência ainda recusa a divulgação de seus gastos "porque ameaçaria a segurança presidencial".


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