São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Senado pagar fretamento de jato é prática usual, diz Tasso

Senador afirma ter sido "transparente" ao converter sobras de sua cota de passagens

Tucano nega ter pedido uma autorização especial para fretar aviões; diretor-geral avalia que regulamento é "omisso" sobre o assunto

Alan Marques/Folha Imagem
O senador Tasso Jereissati, do PSDB, no plenário do Senado

FÁBIO ZANINI
FERNANDO RODRIGUES
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso de quase três horas ontem, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse ter sido "transparente" ao pedir o fretamento de jatinhos com as sobras de sua cota de passagens aéreas e que a prática é comum entre congressistas.
"Essa prática do fretamento, eu fui ver, pelo menos há 20 anos é utilizada por vários senadores desta Casa. Tive o cuidado de ver na Câmara também, é usada por vários deputados", afirmou, sem dar nomes.
Em aparte ao discurso, o senador Mário Couto (PSDB-PA) disse que já adotou o mesmo expediente. "Que erro cometemos?" Jefferson Praia (PDT-AM) também admitiu a prática.
A Folha revelou ontem que há quatro anos Tasso pede a conversão de passagens não utilizadas em crédito para fretamento de jatos executivos.
A prática não é permitida pelo ato da Mesa Diretora nº 62, de 1988, que regulamenta as cotas mensais de passagens dos senadores e foi autorizada, em todos os casos, pelo então primeiro-secretário da Casa, Efraim Morais (DEM-PB).
Tasso afirmou que jamais pediu autorização especial para fretar os jatos. "Eu não pedi, isso é mentira", disse o tucano. "Apenas utilizei a burocracia normal, pública, transparente, fazendo ofícios ao diretor-geral, perguntando e colocando que a minha cota de viagem, naquele mês respectivo, fosse paga à empresa TAM", disse.
Anteontem, o senador apresentou 11 ofícios destinados ao então diretor-geral, Agaciel Maia, pedindo que fosse feita a conversão de passagens em pagamento de jatos. As autorizações foram dadas por Efraim.
No discurso, Tasso fez diversas referências à Folha. "[Fui] surpreendido com uma série de insinuações e questionamentos que desembocaram numa reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo e que visaram, objetivamente, manchar toda essa vida e essa história que tenho como um dos meus bens mais sagrados."
Ele afirmou ainda que a conversão de passagens é uma "ferramenta colocada à disposição dos senadores". "Se essa ferramenta deveria ser colocada ou não, é outra discussão."
Tasso não negou que tenha usado o jato pago pelo Senado para atividades partidárias quando presidia o PSDB, em 2005 e 2006. Disse apenas que "a vida de um senador não se resume a viagens entre Brasília e seu Estado natal".
Mostrando indignação, Tasso atribuiu a acusação ao que chamou de guerra política estabelecida entre grupos dentro da Casa há dois meses.
"O que queriam é, dentro da maldade e do espírito que permeou determinado grupo neste Senado, insinuar que esse recurso não era para pagar a empresa de fretamento, eram recursos com que eu faria uma tramoia, para desviar recursos para pagar o combustível do meu próprio avião", afirmou. "Eu, homem público, político, cearense, brasileiro, honesto, branco de olhos azuis, não sou responsável por essa crise causada no Senado."
Ele prometeu devolver em dobro os valores caso se identifiquem irregularidades. E disse ter "prejuízo" com a atividade de senador -o salário de um congressista é de R$ 16.512,09.
Antes de sua defesa, foi divulgada nota do diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo. Ele diz que "a questão apresenta absoluto caráter de legalidade" porque o regulamento é "omisso" sobre a conversão.
Em defesa a Tasso, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), afirmou ontem que o senador é um homem correto e que é preciso separar "o joio do trigo". Para ele, não há nada ilegal nem imoral na prática.


Colaborou a Agência Folha, em Belo Horizonte


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