São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Outra vez

Começou no sábado, com o "Página 12" destacando um encontro do chanceler Rafael Bielsa com outros diplomatas argentinos, sobre os conflitos com o Brasil.
A longa reportagem já trazia a tirada do presidente Néstor Kirchner, ontem reproduzida por todo lado, de que o Brasil "quis fazer até o papa".
Mas o "Página 12" não ecoou e ontem o "Clarín", diário mais próximo de Kirchner, deu em manchete que "está tensa outra vez a relação" e que "o governo estuda endurecer".
A reação de bate-pronto no Brasil, nos canais de notícias, beirou a patriotada.
A Globo News saiu dizendo que "o irascível Kirchner está melindrado" e o "Clarín" não passa de "porta-voz extra-oficial do governo atual". Para a Band News, Kirchner "quer assumir a liderança" da região.
Nos telejornais, o Jornal da Band prosseguiu:
- O presidente da Argentina está enciumado com as ações do Brasil na América Latina.
 
Desde sábado, no entanto, o "Página 12" já dizia que "o nome de Rafael Bielsa, paralelamente, está sendo pesquisado para se candidatar na capital".
É ano eleitoral por lá -e ele deve encabeçar a campanha dos peronistas de Kirchner para a Câmara, ao lado da mulher do presidente, Cristina, que sairia candidata ao Senado.
O próprio "Clarín" observou que a crítica feita pelo governo à Comunidade Sul-Americana, apoiada por Lula, "dá à questão, por razões óbvias, dimensão de política interna".
As "razões óbvias" são que o maior defensor da Comunidade na Argentina é o ex-presidente Eduardo Duhalde, que disputa o peronismo com Kirchner. E sua mulher, "Chiche" Duhalde, vai enfrentar Cristina Kirchner pela vaga para o Senado.
 
De todo modo, não demorou para, dos dois lados, começar o esforço diplomático de "baixar o tom", na expressão do maior site argentino -a chancelaria, noticiou o Infobae, "rechaçou que vá endurecer".
No Brasil, a Folha Online deu que o governo Lula "considera excelentes as relações".
Mais um pouco e o chanceler argentino, nos sites do "Clarín" e outros, dizia que o problema é avançar antes no Mercosul e só depois na Comunidade.
Mais um pouco e apareceu o secretário de Comércio Exterior do Brasil, na Globo News e nos sites, para anunciar o encontro bilateral daqui a duas semanas em Buenos Aires, para revisar e equilibrar o Mercosul.
Por fim, na manchete de Boris Casoy, na Record:
- Celso Amorim nega crise entre Brasil e Argentina.
É, pode ser, mas o ano eleitoral está apenas começando, ao sul, no vizinho preferido.

OS MUÇULMANOS

Globo/Reprodução
Árabe ensina bons modos, em Brasília


O chanceler Celso Amorim se declarou surpreso, segundo a Band, com as críticas argentinas ao Brasil. Afinal, o presidente Néstor Kirchner "confirmou presença na reunião com países árabes". A própria cobertura na Argentina estranhava ontem que, "em meio às tensões, Kirchner vai ao encontro de cúpula entre árabes e sul-americanos".
Sob ataque argentino, com negociação nuclear nos EUA e comercial na Europa, ainda assim a diplomacia brasileira não tem outra prioridade, só a cúpula no fim de semana. A Globo iniciou esforço de cobertura:
- Chefes de Estado em Brasília não são novidade. Mas [vem aí] uma delegação com hábitos bem diferentes: são governantes e empresários muçulmanos.
Entre outras coisas, a cidade já aprende que "mulheres não devem estender as mãos" para cumprimentar.

Escalada global
O "Wall Street Journal" deu longa reportagem -e a mídia brasileira ecoou, inclusive JN- com o título "Brasil rejeita as condições e recusa fundos dos EUA contra a Aids".
Segundo o "WSJ", "a decisão inicia a escalada da luta global contra amarras morais que o presidente George W. Bush e os aliados conservadores impõem à ajuda externa".

Guerra sangrenta
E ontem foi a vez de o "Miami Herald" dar longa reportagem de demolição da imagem do Rio, por conta da violência -em especial da chacina mais recente. O jornal descreve uma "guerra sangrenta" ao tráfico, da parte da polícia, que é acusada de "corrupção e tendência a ser rápida no gatilho":
- Não pense que o fardo dos policiais tem maior simpatia.

O MEDO DE LULA

Severino Cavalcanti, diante de Paulo Maluf, disse que "estupro é acidente horrendo" e foi para as manchetes da Folha Online ao Globo Online. Mas o JN não acha mais graça e puxou, da sabatina, a provocação severina de que "Lula não fez a reforma ministerial que deveria porque teve medo de enfrentar os partidos".

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


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