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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
TCE examina irregularidades em compra de 17 milhões de fraldas de empresa de presidente de associação de pastores pelo governo do Rio
Tribunal investiga elo Rosinha-evangélicos
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Um negócio que envolve
R$ 10,54 milhões e 17 milhões de
fraldas geriátricas, o programa
Farmácia Popular (produtos a
R$ 1) e uma entidade de pastores
evangélicos ligada ao pré-candidato à Presidência Anthony Garotinho (PMDB) está sob investigação do TCE (Tribunal de Contas
do Estado) do Rio de Janeiro.
A fim de abastecer as farmácias
populares, o governo Rosinha
Matheus (mulher de Garotinho)
comprou as fraldas produzidas
pela Aloés Industria e Comércio,
cujo diretor-presidente é o pastor
Altomir Régis Cunha, vice-presidente da Adhonep (Associação
dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno). O contrato foi fechado em 30 de janeiro deste ano.
Régis Cunha é um dos homens
de confiança de Garotinho no
mundo evangélico. Católico, Garotinho se converteu ao protestantismo depois de um acidente
de carro sofrido na rodovia Dutra
(Rio-São Paulo) durante a campanha eleitoral de 1994. Ele chegou a escrever o livro "Virou o
Carro, Virou Minha Vida", sucesso de vendas entre evangélicos.
Na campanha presidencial de
2002, Garotinho disse que parte
de suas viagens pelo país foram
custeadas pela Adhonep. Na atual
pré-campanha, ele não vinculou
os pagamentos à entidade.
Auxiliar de Garotinho e ex-coordenador do programa do governo estadual Cheque-Cidadão
(distribuição de cheques de
R$ 100), o pastor Everaldo Dias
Pereira disse que alguns deslocamentos foram pagos por pastores
ligados à Adhonep. Essas viagens
teriam objetivos religiosos. Convidado por líderes evangélicos locais, o pré-candidato teria participado de cultos e palestras.
O processo aberto no TCE (número 103055-1/06) apura se há irregularidades no contrato para o
fornecimento das fraldas, firmado com o Instituto Vital Brazil
-órgão vinculado ao governo do
Estado, com sede em Niterói.
Os documentos encaminhados
pelo Vital Brazil ao TCE indicam
que a Aloés foi contratada pelo
modelo de concorrência "licitação em pregão", prevista pela legislação federal. Esse tipo de licitação acontece quando as propostas são apresentadas em reunião
da qual participam representantes das empresas interessadas em
oferecer serviços.
O preço apresentado pela Aloés
teria sido menor do que as dos
concorrentes, as empresas Barrier
e Santos Land Comércio. Os valores não foram revelados nem pelo
TCE nem pelo governo Rosinha.
Governadora visita
Com sede na rodovia Amaral
Peixoto (ligação entre Niterói e o
norte fluminense), na altura do
município de São Gonçalo (região
metropolitana), a Aloés Indústria
e Comércio é a terceira no país na
produção de fraldas infantis e geriátricas e de absorventes íntimos.
Há dois anos a empresa abriu
uma fábrica no município de Piraí
(a 80 quilômetros do Rio). A governadora Rosinha Matheus
compareceu à inauguração,
acompanhada do então prefeito
Luiz Fernando Pezão.
Pezão é uma liderança peemedebista no interior do Estado do
Rio. Hoje, é secretário estadual de
Governo. Assumiu a secretaria
quando o titular Anthony Garotinho se desincompatibilizou para
disputar pela segunda vez a eleição para presidente da República.
Visita retribuída
A Folha tentou ouvir o pastor
Régis Cunha. Na Aloés e na Adhonep, assessores informavam que
ele participava de reuniões externas. Até a conclusão desta edição,
ele não havia respondido aos recados deixados pela Folha.
Em setembro do ano passado,
na companhia de Anthony Garotinho e de Rosinha, o pastor participou no Rio de Janeiro de uma
recepção oferecida pela ADVB
(Associação de Dirigentes de
Vendas e Marketing) ao deputado
federal Michel Temer (SP), presidente nacional do PMDB.
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