São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

TCE examina irregularidades em compra de 17 milhões de fraldas de empresa de presidente de associação de pastores pelo governo do Rio

Tribunal investiga elo Rosinha-evangélicos

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Um negócio que envolve R$ 10,54 milhões e 17 milhões de fraldas geriátricas, o programa Farmácia Popular (produtos a R$ 1) e uma entidade de pastores evangélicos ligada ao pré-candidato à Presidência Anthony Garotinho (PMDB) está sob investigação do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio de Janeiro.
A fim de abastecer as farmácias populares, o governo Rosinha Matheus (mulher de Garotinho) comprou as fraldas produzidas pela Aloés Industria e Comércio, cujo diretor-presidente é o pastor Altomir Régis Cunha, vice-presidente da Adhonep (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno). O contrato foi fechado em 30 de janeiro deste ano.
Régis Cunha é um dos homens de confiança de Garotinho no mundo evangélico. Católico, Garotinho se converteu ao protestantismo depois de um acidente de carro sofrido na rodovia Dutra (Rio-São Paulo) durante a campanha eleitoral de 1994. Ele chegou a escrever o livro "Virou o Carro, Virou Minha Vida", sucesso de vendas entre evangélicos.
Na campanha presidencial de 2002, Garotinho disse que parte de suas viagens pelo país foram custeadas pela Adhonep. Na atual pré-campanha, ele não vinculou os pagamentos à entidade.
Auxiliar de Garotinho e ex-coordenador do programa do governo estadual Cheque-Cidadão (distribuição de cheques de R$ 100), o pastor Everaldo Dias Pereira disse que alguns deslocamentos foram pagos por pastores ligados à Adhonep. Essas viagens teriam objetivos religiosos. Convidado por líderes evangélicos locais, o pré-candidato teria participado de cultos e palestras.
O processo aberto no TCE (número 103055-1/06) apura se há irregularidades no contrato para o fornecimento das fraldas, firmado com o Instituto Vital Brazil -órgão vinculado ao governo do Estado, com sede em Niterói.
Os documentos encaminhados pelo Vital Brazil ao TCE indicam que a Aloés foi contratada pelo modelo de concorrência "licitação em pregão", prevista pela legislação federal. Esse tipo de licitação acontece quando as propostas são apresentadas em reunião da qual participam representantes das empresas interessadas em oferecer serviços.
O preço apresentado pela Aloés teria sido menor do que as dos concorrentes, as empresas Barrier e Santos Land Comércio. Os valores não foram revelados nem pelo TCE nem pelo governo Rosinha.

Governadora visita
Com sede na rodovia Amaral Peixoto (ligação entre Niterói e o norte fluminense), na altura do município de São Gonçalo (região metropolitana), a Aloés Indústria e Comércio é a terceira no país na produção de fraldas infantis e geriátricas e de absorventes íntimos.
Há dois anos a empresa abriu uma fábrica no município de Piraí (a 80 quilômetros do Rio). A governadora Rosinha Matheus compareceu à inauguração, acompanhada do então prefeito Luiz Fernando Pezão.
Pezão é uma liderança peemedebista no interior do Estado do Rio. Hoje, é secretário estadual de Governo. Assumiu a secretaria quando o titular Anthony Garotinho se desincompatibilizou para disputar pela segunda vez a eleição para presidente da República.

Visita retribuída
A Folha tentou ouvir o pastor Régis Cunha. Na Aloés e na Adhonep, assessores informavam que ele participava de reuniões externas. Até a conclusão desta edição, ele não havia respondido aos recados deixados pela Folha.
Em setembro do ano passado, na companhia de Anthony Garotinho e de Rosinha, o pastor participou no Rio de Janeiro de uma recepção oferecida pela ADVB (Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing) ao deputado federal Michel Temer (SP), presidente nacional do PMDB.


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