São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2007

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Aliados querem esfriar CPI com "aula" sobre espaço aéreo

Primeiras duas sessões devem ter participação de representantes de Anac e Aeronáutica

Roteiro para adiar discussão sobre Infraero na comissão foi feito por governistas, maioria na CPI, com ajuda direta do Palácio do Planalto


FÁBIO ZANINI
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em articulação que teve a participação direta do Planalto, a base do governo na Câmara traçou um roteiro para abafar logo no início a CPI do Apagão Aéreo, que deverá ser instalada hoje à tarde. O governo terá 15 dos 24 integrantes da comissão, uma margem confortável para controlar ritmo e alcance.
PT e PMDB, partidos que devem ficar com a relatoria e a presidência, respectivamente, devem divulgar os deputados que comporão a comissão somente hoje pela manhã, ignorando um apelo do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), de que isso ocorresse até a meia-noite de ontem.
O mapa traçado pelo governo prevê que as primeiras duas sessões sejam uma espécie de "aula magna" sobre como funciona o espaço aéreo brasileiro, segundo a Folha apurou.
Um representante da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e outro da Aeronáutica explicariam aos deputados como funciona o espaço aéreo brasileiro e como são divididas as responsabilidades entre os diversos órgãos envolvidos.
A partir daí, a comissão pararia por ao menos uma sessão para detalhar os procedimentos. O primeiro foco seria o acidente com avião da Gol no ano passado, que matou 154 pessoas. Um dos primeiros convocados deve ser o delegado da Polícia Federal Renato Sayão, de Cuiabá (MT), responsável pela investigação do acidente.
A justificativa dos governistas é que o acidente foi o fato que desencadeou toda a crise. Numa segunda fase, o foco mudaria para os vários atrasos nos aeroportos e para o motim dos controladores de vôo.
Isso seria suficiente, segundo esperam governistas, para esfriar as acusações contra a Infraero. O governo sabe que é inevitável entrar nesse assunto em algum momento, mas quer adiá-lo o quanto puder. O argumento será que investigar a Infraero fugiria do escopo da CPI, previsto em sua criação.
O dia ontem foi de reuniões para definir os membros e a estratégia de atuação dos partidos. Marcelo Castro (PMDB-PI) ficará na presidência e a tendência é que o petista Marco Maia (RS) ocupe a relatoria.
No final da tarde, o líder do PT, Luiz Sérgio (RJ), saiu de uma reunião com sua bancada para um encontro com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.
"Não podemos deixar que o "mico" da CPI dos Bingos se repita", declarou Sérgio, sobre a comissão de 2006 que trabalhou em mais de dez frentes.
O governador Jaques Wagner (BA) disse, após ter se reunido com o presidente Lula, que "dificilmente qualquer CPI terá o impacto que tiveram as CPIs de 2005 e 2006". "Essas tinham um objetivo do embate eleitoral." Segundo ele, "agora, os governantes querem ter uma relação com Lula para resolver os problemas".
A oposição promete lutar para ter um dos postos-chave da CPI, mas sabe que é batalha perdida. "O correto seria que tivéssemos pelo menos a relatoria", disse o líder da oposição, Júlio Redecker (PSDB-RS). A oposição estuda lançar candidatura de protesto para relator, que seria a de Vanderlei Macris (PSDB). Porém, a prioridade agora, como diz o presidente do DEM (ex-PFL), Rodrigo Maia, é pela instalação da CPI.


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