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Produtores pedem R$ 90 mi de indenização para deixar a área
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Os arrozeiros que resistem
em sair da reserva indígena Raposa/Serra do Sol deixaram o
Sul do país e chegaram a Roraima a partir da década de 70.
Mas foi a partir dos anos 90 que
a monocultura do arroz cresceu na região. Além de uma terra propícia para o cultivo do arroz, eles encontraram um ambiente fértil para os interesses
econômicos e políticos.
Hoje querem indenização
acima de R$ 90 milhões para
deixar a terra, segundo avaliações de peritos contratados pelos próprios arrozeiros. A Funai (Fundação Nacional do Índio) pagou R$ 2,2 milhões, já
depositados na Justiça, em razão das benfeitorias instaladas
na área. Ação que questiona o
valor ainda tramita na Justiça.
Para os arrozeiros, a próxima
semana é crucial quanto à sua
permanência nas terras, pois
apostam que o STF (Supremo
Tribunal Federal) se manifestará a favor dos não-índios.
"Não queremos ser mal interpretados com os valores das
indenizações. Nós queremos é
produzir e ficar na terra. Sabemos que o STF fará justiça",
afirmou o paranaense Nelson
Massami Itikawa, 55, proprietário da marca Arroz Itikawa,
plantado nas fazendas Vizeu e
Carnaúba, dentro da reserva.
Ele pleiteia uma indenização
de R$ 8,4 milhões e agora aproveita a alta nos alimentos para
criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Lula se elegeu com a bandeira do Fome
Zero. Agora, quando o mundo
anuncia escassez de alimentos,
quer esmagar um setor que
produz arroz. Isso é estúpido."
A reportagem entrevistou
outros cinco arrozeiros do total
de sete que estão na lista de 32
ocupantes não-índios que devem deixar a terra por determinação do governo federal e pleiteiam indenizações.
Eles e suas famílias não moram dentro da reserva. As fazendas que estão dentro da reserva são administradas por
empregados ou parentes. As sete propriedades foram adquiridas por cerca de R$ 3 milhões
de antigos proprietários. Alguns tinham títulos definitivos,
segundo os arrozeiros.
O primeiro plantador a chegar a Roraima, em 1976, foi o
agrônomo Paulo César Quartiero, 55, de Passo Fundo (RS).
"Minha família é de plantadores de terras arrendadas. O negócio não prosperou. Decidi ir
para um lugar onde tinha terra", disse ele. Hoje Quartiero é
prefeito de Pacaraima e presidente do diretório municipal
do DEM. Ele quer indenização
de R$ 53 milhões por duas fazendas que estão na reserva.
Luiz Afonso Faccio, 65, também é político. Filiado ao PDT,
esse gaúcho de Erechim já foi
deputado estadual (1990-1994)
e candidato a vice-governador.
Faccio estudou filosofia e
teologia antes de chegar a Roraima, em 1978, pelo Projeto
Rondon. Diz que comprou as
fazendas Canadá e Guanabara
por R$ 380 mil, em 1989. Quer
indenização de R$ 14,5 milhões. "Não queremos indenização. Queremos trazer comida
para a população."
Em 1980, chegou Ivalcir Centenaro, 52. "Vim convidado pelo governador Ottomar Pinto
[morto em 2007]. Na minha
terra [RS] sempre trabalhei na
agricultura." Na fazenda Praia
Grande, ele produz o arroz da
marca Pajé. Disse ainda ser arrendatário das fazendas Iemanjá, Milagre e Realeza. Pede
indenização de R$ 3,7 milhões.
Outro gaúcho, o técnico agrícola Ivo Barilli, 48, da fazenda
Tatu, pleiteia indenização de
R$ 9,4 milhões. Ele questiona a
ocupação de índios na sede da
antiga fazenda. "Depois que homologou [a terra] é que eles [índios] invadiram a sede."
Já o catarinense Natalício
Mayer, 56, arrenda a fazenda
Conceição do Maú. Os herdeiros do local pedem R$ 1,8 milhão de indenização -Mayer
deixou a Raposa. "Parei de
plantar arroz em 2005 [ano da
homologação]. Cansei das denúncias da Funai, dos padres,
do Ibama. É uma pressão muito
grande, fui obrigado a sair."
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