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Doação para PT, PSDB, DEM e PMDB subiu 997% em 2008
Em ano eleitoral, financiador usou brecha na lei para doar indiretamente a candidatos
Arrecadação das 4 principais siglas aumentou 77,4% em relação a 2006; bancos, construtoras e empresas de lixo lideram contribuições
FERNANDA ODILLA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A arrecadação dos quatro
principais partidos políticos do
Brasil explodiu em 2008 com
doações recebidas de empresas
que exacerbaram, no ano passado, o mecanismo usado para
ocultar a identificação dos reais
financiadores dos candidatos a
cargos públicos.
De acordo com a prestação
de contas entregue na quinta-feira ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e obtida pela Folha, PT, PSDB, DEM e PMDB
arrecadaram R$ 240,5 milhões
em 2008, ano das eleições municipais, sendo que 57% desse
total veio de doações.
O valor das contribuições recebidas pelos quatro partidos é
997% maior do que o que foi
destinado a eles em 2007, ano
em que não houve eleições; e
77,4% acima do que arrecadaram em 2006, ano das eleições
para presidente, governador,
Congresso e Assembleias Legislativas (em valores já corrigidos pela inflação do período).
Os recursos recebidos pelos
partidos em 2008 foram em
quase sua totalidade direcionadas aos candidatos que concorreram naquele ano a prefeito e
a vereador. Essa forma de doação indireta, que é legal, é usada
pelas empresas para que seus
nomes não sejam vinculados a
esse ou aquele político.
Na prestação de contas dos
partidos, não é possível saber
qual candidato exatamente foi
beneficiado pelo recurso doado
por determinada empresa.
Construtoras, bancos e empresas de coleta e tratamento de lixo aparecem na lista dos maiores colaboradores das legendas.
As principais doadoras dos
quatro partidos foram as construtoras Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, que colaboraram com R$ 8,7 milhões cada
uma. Os valores são referentes
a dois CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) listados
em nome das companhias nas
prestações de contas dos partidos, ou seja, não inclui eventuais outros CNPJs ou doações
de empresas controladas ou associadas.
Ao consultar os dois CNPJs
na prestação de contas dos candidatos de 2008, verifica-se que
as doações diretas foram inferiores ao valor destinado aos
partidos. Só o CNPJ da Queiroz
Galvão apresenta registro de
doação: R$ 20 mil a Luiz Marinho (PT), que venceu a disputa
pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, e R$ 2,7 milhões
a comitês eleitorais.
O maior indicativo de que as
doações aos partidos são destinadas quase que exclusivamente às eleições reside nos números arrecadados em 2007,
quando não houve disputa eleitoral. DEM e PMDB, por exemplo, declararam ter recebido
zero de doações. Já as doações
de PT e PSDB não fazem sombra ao que receberam no ano
eleitoral de 2008 -550% e
1.062% a mais do que em 2007,
respectivamente.
Dos quatro grandes partidos,
quem mais arrecadou doações
foi o PT (R$ 61,1 milhões), situação que repete o verificado
nos últimos anos. Ainda assim,
foi o único dos quatro que fechou no vermelho, acumulando um déficit de quase R$ 1 milhão no ano passado. Os CNPJs
que aparecem como os maiores
doadores do partido são os da
Vale Manganês (empresa do
grupo Vale) e da construtora
Andrade Gutierrez, com R$ 5,7
milhões cada uma.
Em seguida, aparece o PSDB,
com R$ 37,2 milhões arrecadados em doações, sendo que os
principais CNPJs doadores aos
tucanos são os das construtoras
Andrade Gutierrez (R$ 3,7 milhões) e Camargo Corrêa (R$
2,5 milhões).
O DEM recebeu R$ 32 milhões em doações e o PMDB,
R$ R$ 7,9 milhões. Em relação
às duas legendas, as maiores
doações estão registradas em
nome de um CNPJ da construtora Queiroz Galvão.
Representantes dos partidos
admitem ter recebido recursos
de empresas que, para não atrelar o próprio nome ao candidato, optaram pelo repasse indireto, via legenda.
Distribuição
O presidente do PT, Ricardo
Berzoini, afirma que muitos
doadores indicaram os nomes
de "candidatos que gostariam
de ajudar". Mas o petista ressalva que o critério de distribuição
foi exclusivo do partido.
No DEM, 80% das doações tiveram destino pré-definido, segundo o tesoureiro da sigla
Saulo Queiroz. "Sejamos honestos, o modelo atual protege
o doador que não quer se expor
ou se indispor com os candidatos", afirma Queiroz.
No PMDB não foi diferente.
O deputado federal Eunício
Oliveira (PMDB-CE), que controla a tesouraria peemedebista, também admite que a sigla
repassou parte das doações seguindo orientação dos colaboradores. "Quando o doador não
indicou o candidato, o partido
selecionou quem receberia os
recursos", disse.
Nem todo o dinheiro arrecadado pelo PSDB foi usado nas
campanhas. O partido repassou
aos candidatos R$ 20 milhões,
ou 53% do total de doações. O
restante foi usado para quitar
as dívidas do partido.
Apesar de ter fechado as contas de 2008 no azul, o PSDB
ainda deve cerca de R$ 6 milhões a fornecedores. "A arrecadação foi abaixo da esperada.
A gente acreditava que seria
possível quitar toda a dívida",
disse Eduardo Jorge, vice-presidente executivo do PSDB.
Só PMN e o PCO não apresentaram a prestação de contas
ao TSE e serão intimados a entregar, em 20 dias, os comprovantes de receita e despesas referentes ao ano de 2008. Caso contrário, terão suspensos os
repasses do Fundo Partidário.
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