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OCASO BAIANO
Emissora estuda trocar de afiliada; mudança seria um duro golpe nas pretensões políticas do ex-senador pefelista
Parceria de ACM com a Rede Globo está sob ameaça
WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Se, nos últimos meses, o mandato de Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) andou por um fio no
Senado, agora é seu império empresarial que corre o mesmo risco. A parceria da TV Bahia, de
ACM, com a Rede Globo nunca
esteve tão ameaçada.
Para o carlismo, o rompimento
com o maior grupo de comunicação do país seria um golpe talvez
tão duro quanto a cassação evitada pela renúncia do ex-senador.
Além de responder por cerca de
80% do faturamento das empresas de ACM -que soma R$ 200
milhões por ano -, só a TV é capaz de permitir a ele algo de que
precisa mais do que nunca para se
reabilitar na política: votos.
A relação entre os filhos de Roberto Marinho e a família Magalhães, que já andava estremecida
desde 2000 (leia texto na página
seguinte), piorou após a Globo
passar a fustigar ACM em sua
programação, com sátiras no Casseta & Planeta e na novela das oito e reportagens nos telejornais.
Em troca, o departamento de
jornalismo da TV Bahia censurou
reportagem sobre manifestações
anti-carlistas. A agressão da Polícia Militar a estudantes, por
exemplo, só foi ao ar no Jornal
Nacional em 10 de maio porque a
Globo obteve cópia da gravação
feita pelo Sindicato dos Bancários
da Bahia. "A TV Bahia não só não
tinha as imagens, como também
negou-se a transmitir nossa fita.
Tivemos que mandar via Embratel", conta o presidente do sindicato, Álvaro Gomes.
Diante das câmeras e do público, ninguém na Globo e na TV Bahia esconde as desavenças. Nos
bastidores, uma negociação muito discreta está em andamento.
Na semana passada, o vice-presidente de Relações Institucionais
das Organizações Globo, Evandro
Guimarães, encontrou-se em São
Paulo com o dono da TV Aratu,
Roberto Coelho.
A TV Aratu transmite a programação do SBT em Salvador. Mas,
entre 1969 e 1987, era o canal da
Globo na Bahia. O contrato foi
rompido quando ACM, então ministro das Comunicações no governo Sarney, convenceu Roberto
Marinho a trocar de afiliada.
Roberto Coelho é irmão do ex-governador e deputado federal
Nilo Coelho (PSDB-BA), e com
ele divide a propriedade da Aratu.
Estão muito interessados em ouvir o que a Globo tem a dizer.
"Estão dizendo que vocês vão
comprar a Aratu", disse Roberto
Coelho a Evandro Guimarães, logo no início do encontro, segundo
relato de executivo próximo aos
dois. Coelho exibia uma nota de
revista que dava conta do novo
ímpeto da Globo. "Não podemos
comprar [a Globo tem cinco televisões, o máximo permitido por
lei". Mas você também não precisa desmentir. Se o jornalismo da
TV Bahia não mudar logo, vamos
tomar providências", respondeu
Guimarães, confirmando a expectativa de mudanças na relação
com o carlismo.
A família Coelho já avisou à
Globo que aceita figurar como
dona da TV Aratu e que pode acolher, sem resistências, indicações
do Rio para as diretorias de administração e jornalismo. Mas, enquanto não há definição, Roberto
Coelho mantém o discurso ensaiado para resistir à artilharia
carlista. "Isso tudo é boato", desconversa.
Boato ou não, a Aratu investiu
como nunca nos últimos seis meses. Neste mês, inaugura uma nova antena e passará a utilizar o sinal da Embratel para chegar a
quase todo o Estado. Também
acaba de reformar todo o departamento de jornalismo: a redação
está informatizada e o maquinário foi substituído por equipamentos mais modernos.
Foi gasto R$ 1,2 milhão nas melhorias. Muito para quem há anos
não investia um centavo no negócio. Mas pouco se comparado aos
mais de R$ 5 milhões desembolsados para indenizar um sócio
minoritário, Joaci Góes, que deixou a empresa há dois meses para
dar à família Coelho total liberdade de negociação à frente da TV.
Entre os funcionários e colaboradores da Aratu, a aliança com a
Globo é vista como iminente. A
possibilidade tem renovado o ânimo da combalida equipe da TV,
que há anos ouve a Aratu gabar-se
em seu slogan por ser "vice-campeã absoluta (sic) de audiência".
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