São Paulo, domingo, 03 de junho de 2001

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OCASO BAIANO
Emissora estuda trocar de afiliada; mudança seria um duro golpe nas pretensões políticas do ex-senador pefelista

Parceria de ACM com a Rede Globo está sob ameaça

WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Se, nos últimos meses, o mandato de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) andou por um fio no Senado, agora é seu império empresarial que corre o mesmo risco. A parceria da TV Bahia, de ACM, com a Rede Globo nunca esteve tão ameaçada.
Para o carlismo, o rompimento com o maior grupo de comunicação do país seria um golpe talvez tão duro quanto a cassação evitada pela renúncia do ex-senador.
Além de responder por cerca de 80% do faturamento das empresas de ACM -que soma R$ 200 milhões por ano -, só a TV é capaz de permitir a ele algo de que precisa mais do que nunca para se reabilitar na política: votos.
A relação entre os filhos de Roberto Marinho e a família Magalhães, que já andava estremecida desde 2000 (leia texto na página seguinte), piorou após a Globo passar a fustigar ACM em sua programação, com sátiras no Casseta & Planeta e na novela das oito e reportagens nos telejornais.
Em troca, o departamento de jornalismo da TV Bahia censurou reportagem sobre manifestações anti-carlistas. A agressão da Polícia Militar a estudantes, por exemplo, só foi ao ar no Jornal Nacional em 10 de maio porque a Globo obteve cópia da gravação feita pelo Sindicato dos Bancários da Bahia. "A TV Bahia não só não tinha as imagens, como também negou-se a transmitir nossa fita. Tivemos que mandar via Embratel", conta o presidente do sindicato, Álvaro Gomes.
Diante das câmeras e do público, ninguém na Globo e na TV Bahia esconde as desavenças. Nos bastidores, uma negociação muito discreta está em andamento.
Na semana passada, o vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, encontrou-se em São Paulo com o dono da TV Aratu, Roberto Coelho.
A TV Aratu transmite a programação do SBT em Salvador. Mas, entre 1969 e 1987, era o canal da Globo na Bahia. O contrato foi rompido quando ACM, então ministro das Comunicações no governo Sarney, convenceu Roberto Marinho a trocar de afiliada.
Roberto Coelho é irmão do ex-governador e deputado federal Nilo Coelho (PSDB-BA), e com ele divide a propriedade da Aratu. Estão muito interessados em ouvir o que a Globo tem a dizer.
"Estão dizendo que vocês vão comprar a Aratu", disse Roberto Coelho a Evandro Guimarães, logo no início do encontro, segundo relato de executivo próximo aos dois. Coelho exibia uma nota de revista que dava conta do novo ímpeto da Globo. "Não podemos comprar [a Globo tem cinco televisões, o máximo permitido por lei". Mas você também não precisa desmentir. Se o jornalismo da TV Bahia não mudar logo, vamos tomar providências", respondeu Guimarães, confirmando a expectativa de mudanças na relação com o carlismo.
A família Coelho já avisou à Globo que aceita figurar como dona da TV Aratu e que pode acolher, sem resistências, indicações do Rio para as diretorias de administração e jornalismo. Mas, enquanto não há definição, Roberto Coelho mantém o discurso ensaiado para resistir à artilharia carlista. "Isso tudo é boato", desconversa.
Boato ou não, a Aratu investiu como nunca nos últimos seis meses. Neste mês, inaugura uma nova antena e passará a utilizar o sinal da Embratel para chegar a quase todo o Estado. Também acaba de reformar todo o departamento de jornalismo: a redação está informatizada e o maquinário foi substituído por equipamentos mais modernos.
Foi gasto R$ 1,2 milhão nas melhorias. Muito para quem há anos não investia um centavo no negócio. Mas pouco se comparado aos mais de R$ 5 milhões desembolsados para indenizar um sócio minoritário, Joaci Góes, que deixou a empresa há dois meses para dar à família Coelho total liberdade de negociação à frente da TV.
Entre os funcionários e colaboradores da Aratu, a aliança com a Globo é vista como iminente. A possibilidade tem renovado o ânimo da combalida equipe da TV, que há anos ouve a Aratu gabar-se em seu slogan por ser "vice-campeã absoluta (sic) de audiência".


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