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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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PT X PT

Deputados petistas pró-reforma decidem enfrentar esquerda do partido

Moderados abortam reunião de Dirceu com neo-rebeldes

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os moderados do PT abortaram audiência que José Dirceu daria ao grupo de 30 deputados petistas que lançaram um manifesto com críticas ao governo, na quinta-feira passada, e também acertaram com o ministro da Casa Civil o compromisso de faturar politicamente eventuais concessões ao Congresso para aprovar as reformas tributária e previdenciária.
Os moderados, cerca de 60 deputados, tiveram aval do presidente do PT, José Genoino, para enfrentar o grupo que lançou o manifesto "Tomar o Rumo do Crescimento Já!". O documento atacou a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e pediu que o debate sobre reforma da Previdência tenha a "marca substantiva da inclusão social e ampliação de direitos". Os moderados defendem Palocci e a reforma do governo.
Acionado pelos moderados, Dirceu cancelou a audiência. O grupo moderado teme ficar na defesa intransigente do governo e ver a esquerda petista faturar politicamente, caso venham a ocorrer eventuais concessões para suavizar as reformas, principalmente a previdenciária.
Exemplo de concessão em estudo: pelo projeto de reforma da Previdência, o servidor público, no caso dos homens, precisará ter idade mínima de 60 anos e 35 anos de contribuição para poder se aposentar. Para as mulheres, a regra prevê 55 anos de idade mínima e 30 de contribuição.
Como as regras atuais estabelecem idade mínima de 53 anos para o homem e de 48 para a mulher, os moderados sugerem nos bastidores que o governo aceite criar uma regra de transição. A medida, que agradaria bastante o funcionalismo, um dos mais tradicionais setores da base social petista, teria a paternidade atribuída aos moderados.
A intenção do governo, porém, ainda é insistir na manutenção integral dos textos de reforma tributária e previdenciária que enviou ao Congresso.
Mas, se durante a tramitação houver endurecimento de setores da Câmara, Dirceu tentará negociar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva algum tipo de concessão.

Manifesto
Dirceu marcará audiência com os moderados para receber apoio deles à política econômica do governo. O grupo estuda levar, no mesmo dia, um manifesto a favor do ministro Palocci, inclusive com assinaturas de alguns dos que subscreveram o documento da esquerda petista.
Na semana passada, um grupo de 30 parlamentares, capitaneado por deputados da esquerda petista, lançou o manifesto com o cuidado de não coletar assinaturas dos chamados radicais do partido, a fim de dar ao documento caráter mais amplo do que de chiadeira de tendências petistas.

Clima azedo
O manifesto da esquerda petista provocou uma crise na bancada. O enfrentamento com os moderados deverá se acirrar agora que as reformas passam à fase decisiva: tramitação nas comissões especiais, nas quais se discutem os méritos das propostas.
O líder da bancada do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), tem ameaçada sua influência. Moderados descobriram que, antes do lançamento do manifesto, ele pediu ao ministro José Dirceu que recebesse o grupo de 30 deputados que assinou o documento.
Pellegrino não assinou, mas seu movimento antes do lançamento deixou os moderados ressabiados. A idéia é começar a decidir as grandes questões da bancada passando por cima de Pellegrino. Como tem maioria, a ala moderada insistirá no respeito às regras internas do PT para conduzir as reformas do seu modo.


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