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Empreiteiras fazem "doações ocultas" para financiar candidatos
Em vez de destinar dinheiro diretamente aos políticos que apóiam, construtoras preferem contribuir com os partidos
Esse expediente permite aumentar valor das doações e impede que construtora tenha seu nome vinculado
ao do político beneficiado
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As prestações de contas de
2006, entregues pelos partidos
políticos no mês passado ao
Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), mostram que as empreiteiras apreciam o expediente
da "doação oculta", uma artimanha que vem se popularizando entre grandes doadores.
As empreiteiras figuram entre as campeãs de doações para
os partidos. Em 2006, contribuíram com R$ 28,4 milhões
para PT, PSDB, DEM (na época
PFL), PMDB e PP. É mais do
que deram para as campanhas
de todos os deputados federais
e senadores eleitos no ano passado (R$ 24,3 milhões).
As doações para partidos, em
tese, deveriam se destinar exclusivamente a suas despesas
do dia-a-dia, como viagens,
congressos e pagamento de
pessoal. No mundo real, o doador, aproveitando uma brecha
da lei, repassa o dinheiro para o
partido político, que, por sua
vez, canaliza a seus candidatos.
Essa doação indireta proporciona duas vantagens aos doadores: permite que se contorne
o limite imposto pela lei para
contribuições para campanhas,
de 2% do faturamento bruto no
ano anterior ao do pleito, e evita que seja feita uma relação direta entre doador e candidato.
A Andrade Gutierrez praticamente só contribuiu nessa modalidade, no ano passado. Foram R$ 12,5 milhões dados a
PT, PSDB, DEM e PP. Em comparação, doou apenas R$ 1.000
pelos meios tradicionais, que
foram destinados à vitoriosa
campanha de Yeda Crusius
(PSDB) ao governo gaúcho.
Já a Camargo Correa deu R$
7,35 milhões para partidos,
quase o mesmo que doou para
todos os candidatos (R$ 8,22
milhões). A OAS deu R$ 1,1 milhão aos partidos, e a Odebrecht entrou com R$ 950 mil.
O PT é o partido que mais obteve recursos de empreiteiras:
R$ 12,47 milhões, ou 29,49% de
tudo o que recebeu de empresas privadas. Proporcionalmente, fica atrás das outras legendas. O PSDB teve 59,60%
das doações de empresas bancadas por empreiteiras, o DEM,
75,98% e o PP, 76,92%. Já o
PMDB teve um ano fraco de
doações por não ter lançado
candidato a presidente. A única
que recebeu, de R$ 500 mil,
veio de uma empreiteira, a EIT
Empresa Industrial Técnica.
Responsáveis por grandes
obras em todos os Estados, as
empreiteiras são ecléticas em
suas doações, pois os parlamentares são os responsáveis
por colocarem emendas no Orçamento para viabilizar obras.
A construção civil não é o
único setor a adotar a manobra
da doação para partidos. Também usam o expediente os setores financeiro, siderúrgico e
de mineração. Os bancos deram R$ 8,8 milhões ao PT, R$
1,39 milhão para o PSDB, R$
720 mil para o DEM e R$ 180
mil para o PP. Já as siderúrgicas repassaram R$ 4,3 milhões
ao PT e R$ 1,5 milhão ao PSDB.
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