|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Minc diz que vai apreender "bois piratas" na Amazônia
Ministro admite estouro da meta de desmatamento e alerta que "o pior está por vir"
Minc agora diz que se sente
"prestigiado" por Lula e que
este se opõe à ampliação do
limite de desmatamento de
propriedades na Amazônia
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em resposta à alta do desmatamento na Amazônia, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) anunciou ontem a decisão
de apreender gado criado em
áreas desmatadas ilegalmente.
Minc batizou a operação de
"Boi pirata" e atribuiu à pecuária parte da responsabilidade
pelo avanço de mais 1.124 km2
devastação da floresta em abril,
segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A Amazônia Legal já reúne
36% do rebanho bovino do
país. "É um recado de combate
à impunidade do crime ambiental", disse o ministro, sinalizando que a medida terá um
efeito mais simbólico.
O confronto aberto com o
agronegócio começou na última semana de maio, quando o
Ibama apreendeu 4,3 mil toneladas de grãos, principalmente
soja e milho, nos Estados do
Pará e do Mato Grosso. Foi a
primeira vez que o governo
agiu contra a produção em
áreas embargadas por desmatamento ilegal na Amazônia.
O produto das apreensões
será leiloado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o dinheiro obtido irá
para programas sociais mantidos pelo governo federal.
Minc tomara conhecimento
dos dados do Inpe antes de tomar posse, mas combinou com
o instituto o momento mais
oportuno de divulgar os números. Em abril, os satélites do Inpe captaram desmatamento
superior aos meses de novembro e dezembro, que justificaram o alerta do início do ano.
"O dado é preocupante e não
vamos brigar com o termômetro. Vamos agir", disse o ministro, numa referência ao sistema de detecção do desmatamento em tempo real do Inpe,
cujos resultados vêm sendo
contestados pelo governador
de Mato Grosso, Blairo Maggi.
O número oficial da área devastada na Amazônia entre
agosto de 2007 e julho de 2008
será divulgado no final do ano,
mas Minc já espera o descumprimento da meta fixada pelo
governo em janeiro, de limitar
o desmatamento do ano aos
mesmos 11,2 mil quilômetros
quadrados registrados entre
agosto de 2006 e julho de 2007.
Os sinais do estouro da meta
são claros e foram captados pelo sistema de detecção do desmatamento em tempo real
-que é mais rápido, embora
menos preciso que o sistema
Prodes, que calcula a área oficial da devastação. Entre agosto de 2007 e abril de 2008, o
Deter já captou o corte raso ou
a degradação avançada de
5.850 km2 de floresta, contra
4.974 km2 medidos no período
anterior de 12 meses.
"Não queremos chorar sobre
a seiva derramada", disse o ministro. Ele destacou o registro
do ritmo acelerado das motosseras ocorreu num período de
chuvas na Amazônia, e é nos
meses de estiagem que a devastação costuma crescer, a partir
de junho: "O pior está por vir".
Preço das commodities
Ao analisar o ritmo da devastação, Minc repetiu a avaliação
feita pela ex-ministra Marina
Silva e relacionou o desmatamento ao aumento do preço de
commodities: "O preço da carne e da soja dispararam e há
uma relação histórica entre
preços e desmatamento".
Minc insistiu em que as medidas adotadas no início do ano
estão corretas, mas demoram a
dar resultado. Uma das medidas com que o ministro conta é
o bloqueio do crédito rural a
produtores que não comprovem regularidade ambiental. A
resolução do Banco Central,
contestada pelo agronegócio,
entra em vigor em 1º de julho.
Questionado se pediria demissão caso a medida venha a
ser suspensa, o ministro disse
que se sente "prestigiado" pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Minc disse ainda que o
presidente é contra a proposta
que aumenta de 20% para 50%
o limite de desmatamento de
propriedades na Amazônia.
Texto Anterior: Comentário: Senhor Minc, o senhor é um fanfarrão Próximo Texto: Ataque: Ministro é "debilóide", afirma presidente de entidade de produtores Índice
|