São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Minc diz que vai apreender "bois piratas" na Amazônia

Ministro admite estouro da meta de desmatamento e alerta que "o pior está por vir"

Minc agora diz que se sente "prestigiado" por Lula e que este se opõe à ampliação do limite de desmatamento de propriedades na Amazônia


MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em resposta à alta do desmatamento na Amazônia, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) anunciou ontem a decisão de apreender gado criado em áreas desmatadas ilegalmente.
Minc batizou a operação de "Boi pirata" e atribuiu à pecuária parte da responsabilidade pelo avanço de mais 1.124 km2 devastação da floresta em abril, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A Amazônia Legal já reúne 36% do rebanho bovino do país. "É um recado de combate à impunidade do crime ambiental", disse o ministro, sinalizando que a medida terá um efeito mais simbólico.
O confronto aberto com o agronegócio começou na última semana de maio, quando o Ibama apreendeu 4,3 mil toneladas de grãos, principalmente soja e milho, nos Estados do Pará e do Mato Grosso. Foi a primeira vez que o governo agiu contra a produção em áreas embargadas por desmatamento ilegal na Amazônia.
O produto das apreensões será leiloado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o dinheiro obtido irá para programas sociais mantidos pelo governo federal.
Minc tomara conhecimento dos dados do Inpe antes de tomar posse, mas combinou com o instituto o momento mais oportuno de divulgar os números. Em abril, os satélites do Inpe captaram desmatamento superior aos meses de novembro e dezembro, que justificaram o alerta do início do ano.
"O dado é preocupante e não vamos brigar com o termômetro. Vamos agir", disse o ministro, numa referência ao sistema de detecção do desmatamento em tempo real do Inpe, cujos resultados vêm sendo contestados pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.
O número oficial da área devastada na Amazônia entre agosto de 2007 e julho de 2008 será divulgado no final do ano, mas Minc já espera o descumprimento da meta fixada pelo governo em janeiro, de limitar o desmatamento do ano aos mesmos 11,2 mil quilômetros quadrados registrados entre agosto de 2006 e julho de 2007.
Os sinais do estouro da meta são claros e foram captados pelo sistema de detecção do desmatamento em tempo real -que é mais rápido, embora menos preciso que o sistema Prodes, que calcula a área oficial da devastação. Entre agosto de 2007 e abril de 2008, o Deter já captou o corte raso ou a degradação avançada de 5.850 km2 de floresta, contra 4.974 km2 medidos no período anterior de 12 meses.
"Não queremos chorar sobre a seiva derramada", disse o ministro. Ele destacou o registro do ritmo acelerado das motosseras ocorreu num período de chuvas na Amazônia, e é nos meses de estiagem que a devastação costuma crescer, a partir de junho: "O pior está por vir".

Preço das commodities
Ao analisar o ritmo da devastação, Minc repetiu a avaliação feita pela ex-ministra Marina Silva e relacionou o desmatamento ao aumento do preço de commodities: "O preço da carne e da soja dispararam e há uma relação histórica entre preços e desmatamento".
Minc insistiu em que as medidas adotadas no início do ano estão corretas, mas demoram a dar resultado. Uma das medidas com que o ministro conta é o bloqueio do crédito rural a produtores que não comprovem regularidade ambiental. A resolução do Banco Central, contestada pelo agronegócio, entra em vigor em 1º de julho.
Questionado se pediria demissão caso a medida venha a ser suspensa, o ministro disse que se sente "prestigiado" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Minc disse ainda que o presidente é contra a proposta que aumenta de 20% para 50% o limite de desmatamento de propriedades na Amazônia.


Texto Anterior: Comentário: Senhor Minc, o senhor é um fanfarrão
Próximo Texto: Ataque: Ministro é "debilóide", afirma presidente de entidade de produtores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.