São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líder ruralista cobra de Lula demissão de Minc

"Está havendo falta de atitude e de pulso por parte do governo", diz Kátia Abreu

Em resposta, ministro, que havia chamado produtores rurais de "vigaristas", afirma que "presidente do Brasil não é a Kátia Abreu, é o Lula"


MARTA SALOMON
HUDSON CORREA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), cobrou ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demissão do ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), por ele ter chamado os grandes produtores rurais de "vigaristas", na quarta-feira passada.
"Está havendo falta de atitude e de pulso por parte do governo. O presidente não pode permitir isso. Eu quero que ele [Minc] seja punido. Eu não sou a patroa dele; se fosse, ele seria demitido", afirmou a senadora.
Kátia Abreu liderou a reação ao comportamento do ministro, também criticado ontem por colegas de governo.
Minutos antes, ela mandara protocolar uma denúncia contra Minc na Comissão de Ética Pública do governo e uma representação na Procuradoria Geral da República pedindo a abertura de processo por crime de responsabilidade.
Ontem, a Comissão de Agricultura da Câmara aprovou requerimento que convoca o ministro para, no dia 17, esclarecer a declaração.
Ao saber da reação da CNA, Minc não demonstrou preocupação. E ironizou: "Imagina! O presidente do Brasil não é a Kátia Abreu, é o Lula. Se fosse, a gente não ia ter Bolsa Família, ia ter Bolsa Latifúndio".
Minc e Abreu estão em lados opostos do debate de mudanças no Código Florestal, que define limites de desmatamento.
Nas ações protocoladas ontem, a CNA reproduz as palavras do ministro durante manifestação da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Minc buscava o apoio de pequenos agricultores contra mudanças na legislação ambiental.
Os textos encaminhados à Comissão de Ética Pública e à Procuradoria Geral também criticam o fato de o ministro não reconhecer mudanças na legislação ambiental adotadas pelo Estado de Santa Catarina.
"Ao revelar posição hostil aos produtores do setor rural, evidencia a parcialidade com que tem se conduzido à frente do ministério", afirma a representação enviada ao procurador-geral Antonio Fernando Souza, que não se manifestou ontem sobre a ação.
Minc apresentou ontem novos dados sobre desmatamento na Amazônia de fevereiro a abril. A área devastada alcançou 197 km2 contra 1.992 km2 no mesmo período de 2008.
Ou seja, houve redução de 90%, mas, de acordo com o ministro, a maior quantidade de nuvens neste ano pode ter impedido a captação de imagens de novas áreas desmatadas.

Licenças ambientais
Sem citar o nome de Minc, o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) afirmou que, assim como propôs a regularização fundiária da Amazônia, defenderá "dinâmica de regularização ambiental que enfrente problemas do mundo real e não uma batalha de rótulos ideológicos".
Os ministros Reinhold Stephanes (Agricultura) e Alfredo Nascimento (Transportes), acusados por Minc de tentativa de sabotar a lei ambiental, não se manifestaram. Uma das razões da divergência entre Minc e Nascimento é a licença para o asfaltamento da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho.
O diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot, disse que a licença não sai por motivo "tipicamente ideológico, não tem um milímetro a ver com preservação ambiental".


Texto Anterior: Senado 2: Ex-diretor recua de acusação feita sobre corrupção
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.