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CELSO PINTO
Quem ganha com a reforma
Os municípios podem ter um
expressivo aumento de arrecadação com a reforma tributária, se prevalecer uma das fórmulas que estão sendo discutidas na comissão do Congresso.
Seria uma maneira de aplainar as resistências políticas
dos municípios à reforma.
A avaliação de alguns deputados da comissão, como Antonio Kandir (PSDB-SP), é que
o foco de resistência política
dos municípios pode ser ainda
maior do que o dos Estados. A
principal razão são as eleições
municipais do próximo ano,
que mobilizam, diretamente,
os interesses de metade dos 513
deputados.
Na verdade, a reforma tributária mexe com tantos interesses delicados que existe grande
ceticismo, dentro do próprio
governo, sobre sua viabilidade. O ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, por
exemplo, é a favor de só tocar a
reforma tributária depois de
aprovar a reforma política.
É um xadrez, que mexe em
todas as peças, mas com o
princípio de não prejudicar
ninguém. A comissão acha que
pode botar a reforma de pé até
setembro, mas tem um "plano
B" pronto: se ficar claro que
não dá para manter a arquitetura ou que o governo federal
sairá perdedor, a reforma volta para a gaveta.
A resistência dos Estados,
principalmente de São Paulo,
não é pequena, mas as discussões estão mais avançadas. A
proposta que está sendo discutida substitui o IPI, o ICMS e o
ISS por um novo imposto
(ICMS), compartilhado pela
União e pelos Estados. Reúne
todas as contribuições (Cofins,
CSLL, PIS-Pasep, salário-educação, contribuições tipo Sesc,
Senai, Senac e Sesi) em um novo imposto que não é mais "em
cascata" e não onera as exportações. O novo ICMS passa a
ser cobrado no destino, e não
mais na origem, acabando
com a "guerra fiscal" entre Estados.
Faz sentido que o imposto
sobre valor adicionado, o novo
ICMS, abranja também o setor
de serviços, o que mais cresce,
e seja arrecadado pelas máquinas federal e estadual, mas
isso significa tirar o ISS dos
municípios. Também faz sentido cobrar o ICMS no destino
(onde o produto é consumido),
mas isso vai dar um tombo nos
Estados que mais produzem.
São Paulo arrecada uns R$
20 bilhões com o ICMS e vai
perder uns R$ 4 bilhões com
essa mudança. Quer compensação, mas não confia em propostas de criação de fundos de
compensação que podem ser
mudados no futuro. Uma alternativa seria criar um novo
imposto sobre venda (IVV),
dividido entre Estados e municípios, para compensar a perda.
Outra, seria permitir aos Estados cobrar até 20% a mais
na alíquota do ICMS para
compensar a perda. Kandir
prefere essa opção, porque
abriria espaço para deixar o
IVV como um novo imposto
municipal. É nessa hipótese
que os municípios poderiam
sair lucrando com a reforma.
Os municípios, na conta de
Kandir, arrecadam hoje R$
13,148 bilhões, dos quais R$ 5
bilhões por meio do ISS e R$
3,8 bilhões via IPTU (imposto
territorial urbano). Ganham
mais R$ 13,043 bilhões em
transferências federais e R$
18,566 bilhões em transferências estaduais.
A receita própria dos municípios, portanto, equivale a
apenas 29% do total das receitas. O economista Eduardo
Giannetti da Fonseca tem números ainda mais impressionantes. Os municípios com
menos de 50 mil habitantes representam 91% do total de
5.513 municípios (dos quais
1.022 foram criados depois da
Constituição de 88, para aproveitar-se das transferências).
Nesses municípios, apenas
13% dos gastos são cobertos
por receita própria.
Kandir calcula o consumo
das famílias em R$ 572 bilhões. Imaginando que seja
possível cobrar o novo IVV sobre metade disso, a parte tributável seria de R$ 286 bilhões. Com uma alíquota de
4%, imaginada por ele, o IVV
arrecadaria R$ 11,440 bilhões,
mais do que o dobro dos R$ 5
bilhões arrecadados pelo ISS
hoje. Representaria um aumento de 50% nas receitas
próprias dos municípios e 14%
a mais na receita global, supondo que as transferências
federais e estaduais permanecessem idênticas.
É uma cenoura atraente,
mas tem um preço. Kandir calcula que o novo ICMS teria
que ter uma alíquota de 11,7%,
dos quais 2,5% seriam a fatia
federal. Somada à alíquota de
7,2% do novo imposto sobre
contribuição social (supondo
que o imposto sobre o cheque
poderia ser deduzido das despesas com INSS), a alíquota
global iria para 18,9%. A tudo
isso se somariam os 4% do IVV
municipal.
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