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CONFLITO AGRÁRIO
Em Alagoas, MST invadiu 2 prédios públicos; em Mato Grosso, outro grupo de sem-terra, o MTA, invadiu sede do Incra
Sem-terra bloqueiam rodovias em Minas
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Cerca de 150 trabalhadores rurais ligados ao movimento denominado "Unidos Venceremos",
com atuação no noroeste de Minas Gerais, bloqueavam no início
da noite de ontem o entroncamento das rodovias MG-400 e
BR-030, no trevo de acesso à cidade de Buritis, impedindo o transito de veículos. O bloqueio durava
quase 24 horas.
Na noite de anteontem, os sem-terra colocaram pneus, madeiras
e blocos de pedras nas rodovias.
Empunhando foices e enxadas,
eles exigiam a presença de representantes do Incra (Instituo Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) para negociar.
No final da tarde, representantes do Incra chegaram ao local e
iniciaram os entendimentos.
Gildário Carlos Néri, um dos
coordenadores do movimento,
disse que o bloqueio era para chamar a atenção das autoridades para a falta de repasses de recursos
para a agricultura familiar e cobrar cestas básicas e agilidade na
desapropriação de terras.
Néri disse que o "Unidos Venceremos" coordena atualmente
cerca de 500 famílias, aproximadamente 2.000 pessoas, que estão
em três fazendas já desapropriadas, mas ainda sem a emissão de
posse pela Justiça -situação confirmada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário-, e em
mais cinco acampamentos.
A Polícia Militar acompanhava
desde a noite de anteontem o bloqueio da rodovia. Os policiais tentaram convencê-los a liberar as
rodovias, mas os sem-terra não
cederam. Não houve confronto.
Com as rodovias bloqueadas, o
trânsito para as cidades de Buritis,
Arinos e Cabeceira de Goiás estava sendo feito por uma estrada de
terra. O desvio, segundo a Polícia
Militar, impediu que a estrada ficasse congestionada.
Invasão em Cuiabá
Sem-terra ligados ao MTA (Movimento dos Trabalhadores Rurais Acampados e Assentados) invadiram ontem às 15h o prédio do
Incra em Cuiabá (MT). Até o início da noite, a sede permanecia
invadida.
Foi a quarta invasão no prédio
do Incra em Cuiabá por sem-terra
neste ano -três pelo MTA e uma
pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Segundo a direção do Incra,
cem sem-terra fizeram a invasão.
O MTA informou que são 400.
O mesmo grupo invadiu o prédio há uma semana e, após a desocupação no mesmo dia, acampou do lado de fora da sede.
Um dos líderes do MTA, José
Oliveira, disse que a invasão foi
motivada pela demora do Incra
em tomar posse de áreas desapropriadas pelo governo federal.
Segundo ele, são seis fazendas
nas quais podem ser assentadas
1.400 famílias das 5.900 que o movimento coordena no Estado.
O superintendente do Incra
Leonel Wohlfahrt afirmou que
três fazendas declaradas de interesse para reforma agrária pelo
governo Lula em Mato Grosso estão em fase de desapropriação.
"Mas isso tem um rito, uma lógica e uma demora", disse.
Wohlfahrt afirma que em uma
das fazendas o Incra ainda avalia,
a pedido do próprio MTA, o pagamento da indenização, cujo valor seria muito alto.
Até o início da noite, Wohlfahrt
não havia recebido comunicado
sobre os motivos que levaram o
MTA a invadir o prédio.
O MTA surgiu a partir de uma
divisão do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), do qual se tornou rival.
O coordenador do MTA disse
que a invasão nada tem a ver com
a reunião ontem do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva com os
líderes do MST.
Companhia Energética
Em outra ação de sem-terra,
desta vez em Alagoas, o MST invadiu o escritório da Companhia
Energética de Alagoas e as dependências da Companhia de Água e
Saneamento do Estado, ambas na
cidade de Delmiro Gouveia (277
km de Maceió).
Segundo informações do Incra,
os sem-terra estavam armados
com facões e pedaços de madeira
no momento da ação.
O MST reivindicava a distribuição de água e energia elétrica para
os assentamentos.
No início da tarde, os prédios
foram desocupados depois de negociação entre os sem-terra e o
Incra. Não houve conflito nem
prejuízos durante a invasão.
Ficou acertado que, no próximo
dia 10, haverá uma reunião entre
lideranças do movimento e o governo para que seja negociada a
distribuição de água e energia elétrica para os assentamentos.
Em contrapartida, o movimento disse que não promoveria mais
protestos envolvendo os sem-terra em questão até a reunião.
Colaboraram TIAGO ORNAGHI e HUDSON CORRÊA, da Agência Folha
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