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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

Em Alagoas, MST invadiu 2 prédios públicos; em Mato Grosso, outro grupo de sem-terra, o MTA, invadiu sede do Incra

Sem-terra bloqueiam rodovias em Minas

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Cerca de 150 trabalhadores rurais ligados ao movimento denominado "Unidos Venceremos", com atuação no noroeste de Minas Gerais, bloqueavam no início da noite de ontem o entroncamento das rodovias MG-400 e BR-030, no trevo de acesso à cidade de Buritis, impedindo o transito de veículos. O bloqueio durava quase 24 horas.
Na noite de anteontem, os sem-terra colocaram pneus, madeiras e blocos de pedras nas rodovias. Empunhando foices e enxadas, eles exigiam a presença de representantes do Incra (Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para negociar.
No final da tarde, representantes do Incra chegaram ao local e iniciaram os entendimentos.
Gildário Carlos Néri, um dos coordenadores do movimento, disse que o bloqueio era para chamar a atenção das autoridades para a falta de repasses de recursos para a agricultura familiar e cobrar cestas básicas e agilidade na desapropriação de terras.
Néri disse que o "Unidos Venceremos" coordena atualmente cerca de 500 famílias, aproximadamente 2.000 pessoas, que estão em três fazendas já desapropriadas, mas ainda sem a emissão de posse pela Justiça -situação confirmada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário-, e em mais cinco acampamentos.
A Polícia Militar acompanhava desde a noite de anteontem o bloqueio da rodovia. Os policiais tentaram convencê-los a liberar as rodovias, mas os sem-terra não cederam. Não houve confronto.
Com as rodovias bloqueadas, o trânsito para as cidades de Buritis, Arinos e Cabeceira de Goiás estava sendo feito por uma estrada de terra. O desvio, segundo a Polícia Militar, impediu que a estrada ficasse congestionada.

Invasão em Cuiabá
Sem-terra ligados ao MTA (Movimento dos Trabalhadores Rurais Acampados e Assentados) invadiram ontem às 15h o prédio do Incra em Cuiabá (MT). Até o início da noite, a sede permanecia invadida.
Foi a quarta invasão no prédio do Incra em Cuiabá por sem-terra neste ano -três pelo MTA e uma pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Segundo a direção do Incra, cem sem-terra fizeram a invasão. O MTA informou que são 400.
O mesmo grupo invadiu o prédio há uma semana e, após a desocupação no mesmo dia, acampou do lado de fora da sede.
Um dos líderes do MTA, José Oliveira, disse que a invasão foi motivada pela demora do Incra em tomar posse de áreas desapropriadas pelo governo federal.
Segundo ele, são seis fazendas nas quais podem ser assentadas 1.400 famílias das 5.900 que o movimento coordena no Estado.
O superintendente do Incra Leonel Wohlfahrt afirmou que três fazendas declaradas de interesse para reforma agrária pelo governo Lula em Mato Grosso estão em fase de desapropriação.
"Mas isso tem um rito, uma lógica e uma demora", disse.
Wohlfahrt afirma que em uma das fazendas o Incra ainda avalia, a pedido do próprio MTA, o pagamento da indenização, cujo valor seria muito alto.
Até o início da noite, Wohlfahrt não havia recebido comunicado sobre os motivos que levaram o MTA a invadir o prédio.
O MTA surgiu a partir de uma divisão do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), do qual se tornou rival.
O coordenador do MTA disse que a invasão nada tem a ver com a reunião ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os líderes do MST.

Companhia Energética
Em outra ação de sem-terra, desta vez em Alagoas, o MST invadiu o escritório da Companhia Energética de Alagoas e as dependências da Companhia de Água e Saneamento do Estado, ambas na cidade de Delmiro Gouveia (277 km de Maceió).
Segundo informações do Incra, os sem-terra estavam armados com facões e pedaços de madeira no momento da ação.
O MST reivindicava a distribuição de água e energia elétrica para os assentamentos.
No início da tarde, os prédios foram desocupados depois de negociação entre os sem-terra e o Incra. Não houve conflito nem prejuízos durante a invasão.
Ficou acertado que, no próximo dia 10, haverá uma reunião entre lideranças do movimento e o governo para que seja negociada a distribuição de água e energia elétrica para os assentamentos.
Em contrapartida, o movimento disse que não promoveria mais protestos envolvendo os sem-terra em questão até a reunião.


Colaboraram TIAGO ORNAGHI e HUDSON CORRÊA, da Agência Folha


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