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TRIBUTÁRIA
Planalto desiste de incluir no projeto da reforma permissão para que governadores gastem livremente 20% de suas receitas
Governo recua de acerto feito com Estados
RANIER BRAGON
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de reações negativas na
oposição e na própria base aliada,
o governo decidiu recuar do acerto feito com os governadores para
incluir no projeto de reforma tributária a permissão para que os
Estados gastem livremente 20%
de suas receitas.
Pelo entendimento, o Congresso alteraria a reforma para estender aos Estados as regras da DRU
(Desvinculação de Receitas da
União), que desde 94 livra o governo federal de cumprir os gastos obrigatórios determinados
pela Constituição -em saúde e
educação, por exemplo.
A proposta já foi apresentada na
comissão especial da Câmara que
analisa a reforma e, até anteontem, contava com o apoio declarado do relator do projeto, Virgílio Guimarães (PT-MG), e uma
concordância mais discreta do
Palácio do Planalto.
Ontem, o discurso mudou. "Já
compramos muitas brigas em nome dos governadores e não vamos criar mais uma frente de batalha", disse o deputado Professor
Luizinho (PT-SP), vice-líder do
governo na Câmara.
Foi uma referência às críticas de
políticos ligados à área social, para os quais a regra, destinada a aliviar o caixa dos Estados, equivale
a menos recursos para o setor -o
mesmíssimo argumento utilizado
pelo PT, nos anos de oposição, ao
votar contra a DRU.
Se o recuo visa atenuar o desgaste da projeto, pode criar novos
problemas entre o governo e seus
interlocutores preferenciais nas
negociações para as reformas.
"Esse é um ponto importante
para os Estados, porque 90% dos
nossos Orçamentos estão vinculados [comprometidos com gastos obrigatórios]", disse Albérico
Mascarenhas, da Bahia, secretário-executivo do Confaz, o conselho que reúne os 27 secretários estaduais da Fazenda.
Segundo ele, o assunto voltará à
tona na reunião marcada para
sexta-feira com o relator da reforma. "Os Estados precisam de
mais recursos para investir em segurança e infra-estrutura."
O recuo do governo foi decidido
num encontro ontem pela manhã
entre o ministro José Dirceu (Casa Civil) e os líderes do governo e
dos partidos aliados, na casa do
presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP).
Diante de críticas e polêmicas
crescentes envolvendo a reforma,
decidiu-se intervir para evitar que
temas controversos atrasem a tramitação do projeto -foi fixado
um prazo até o próximo dia 14 para a conclusão do relatório de
Guimarães.
Segundo a Folha apurou, os governistas querem encerrar as discussões em torno de dois dos temas que mais despertam interesses na comissão.
ICMS
O primeiro envolve a forma de
cobrança do ICMS, principal fonte de receita dos Estados. A maior
parte dos governadores e dos empresários quer que a receita do tributo fique com os Estados onde
as mercadorias são consumidas.
Estados produtores, como São
Paulo, são contra.
Os líderes partidários relataram
que, nas palavras de Dirceu, a disputa pode "embaralhar" as negociações para a aprovação da reforma. O ministro afirmou que, só
para compensar as perdas de São
Paulo, seriam necessários R$ 5,5
bilhões anuais.
Outra decisão foi barrar um
pleito do empresariado, que quer
passar do Confaz para o Senado a
palavra final na definição das alíquotas do ICMS -entregar tal
poder aos Estados, dizem os empresários, resultará em aumento
de impostos. O governo, porém,
não quer mais um atrito com os
governadores.
Guimarães adotou tom cauteloso. "Todos os assuntos da reforma são importantes e complexos,
por isso não saiu reforma até hoje.
Para que saia, é importante separar os assuntos importantes e os
essenciais", afirmou.
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