São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Delúbio montou bunker em hotel

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo com residência fixa e endereço de trabalho em São Paulo, o tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, transformou um hotel a três quadras de sua casa num bunker para reuniões na reta final da campanha de 2004.
De agosto a dezembro, foram 18 as reservas registradas no hotel Intercontinental. O gasto com a hospedagem -oficialmente declarado como "locação de salas e despesas com alimentação para reunião do Sr. Delúbio Soares"- foi de R$ 11,7 mil.
Além dessas, a Secretaria de Finanças e Planejamento do PT fez mais 20 reservas em hotéis destinadas às reuniões. O custo foi de R$ 8.000. Outros dois hotéis ocupados -o Blue Tree Towers Paulista e o Condomínio Edifício Paulista Capita- ficam no mesmo bairro onde Delúbio mora. Ainda em São Paulo, foram usadas as dependências do Braston, Transamérica e do Sofitel.
Embora lançadas num documento interno do partido em benefício de Delúbio, as reservas não foram feitas em seu nome, mas nos de sua secretária, Carolina Vivanco, ou de Elizabeth Scomparin, encarregada de eventos do PT. Em pelo menos dois casos -nos dias 8 e 14 de setembro-, foram ocupados dois apartamentos pela Secretaria de Finanças e Planejamento do PT (SF&P). Segundo os registros do hotel, no dia 15, por exemplo, foram os de número 401 e 611. Mas, como a reserva está em nome de Beth Scomparin, não é possível identificar seus ocupantes.

Campanha eleitoral
O artifício coincide com o momento em que, exposto, Delúbio se queixava da dificuldade de abordar empresários para obter recursos para financiamento das campanhas nos municípios. A maior concentração está nos meses de agosto e setembro.
De acordo com a prestação de contas do partido ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foram 25 lançamentos de despesas somente entre agosto e outubro do ano passado. No Intercontinental, o menor gasto foi no dia 7 de dezembro (R$ 412,50). O maior desembolso ocorreu no dia 25 de agosto: R$ 1.081,15. O Intercontinental não foi o único refúgio de Delúbio e seus interlocutores. Nos dias 8 de junho e 1º de setembro, foi o Sofitel. No dia 14 de setembro, por exemplo, foi o Condomínio Paulista Capita (R$ 454,26). No dia 20, foi o Blue Tree (R$ 350). No 21, o hotel Transamérica.
Em setembro, houve registro de locação dia após dia, como 15, 16, 17 e 18. Outro integrante do comando do PT que, apesar de morar em São Paulo, se hospedou em hotéis, foi o hoje secretário-geral do partido, Sílvio Pereira.
No dia 2 de julho, o partido alugou um apartamento -a R$ 445 - para as reuniões de Silvinho. No dia 18 de novembro, ele se hospedou no Gran Meliá Mofarrej. O gasto foi de R$ 767,80. No dia 12 de abril, ele consumiu R$ 319,00 numa reunião no Maksould Plaza, também em Cerqueira César. As despesas do PT sob o título "reuniões de secretarias e comissões" somaram R$ 154.057,73 no ano passado.
Segundo prestação de contas do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a prática é adotada desde 2003. No dia 3 de dezembro, por exemplo, foram pagos R$ 826,10 referentes a reuniões em novembro. Os gastos somaram R$ 258.912,91 no ano passado.
Em 2003, o Sofitel foi um dos mais usados para a organização de reuniões privadas, como no dia 22 de agosto, a R$ 375,50, por Delúbio Soares. A Secretaria de Finanças também fez reservas em hotéis da rede Accor. Procurado pela Folha, Delúbio não quis comentar os dados da reportagem.


Texto Anterior: Escândalo do mensalão/ conexão: Agendas de Delúbio e Valério coincidem
Próximo Texto: Escândalo do mensalão/ o alvo: Oposição se mexe para tentar cassar Dirceu
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.