|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDO
Em meio à crise, presidente reabre canal de diálogo com tucanos; governo teme piora da situação, com contágio da economia
Lula tenta estabelecer ponte com FHC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio à maior crise política
de seu governo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva reabriu um
canal com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Há forte possibilidade de que tenham
uma conversa em breve, se for
preciso dar sinais públicos de algum entendimento entre PT e
PSDB, em caso de a gravidade da
situação, no entendimento de
ambos, assim o exigir.
A pedido de Lula, o ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
foi o emissário que procurou
FHC. O ministro visitou o tucano
em seu apartamento em São Paulo, no domingo passado.
Levou a mensagem de que o governo, por meio da Polícia Federal, investigaria seriamente as denúncias de corrupção e de que
Lula já estava pulando fora da tese
petista de um golpe das elites contra o governo.
Polido, FHC se dispôs a conversar com Lula diretamente, se o
presidente quiser. A iniciativa,
porém, teria de partir claramente
do petista. O ex-presidente afirmou que não tem interesse num
agravamento da crise que resulte
num eventual impeachment de
Lula ou noutro tipo de forte turbulência institucional.
Ambos concordaram que era
conveniente manter a economia a
salvo de um eventual contágio pela crise política.
Ao lado das articulações de
Thomaz Bastos, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho,
atuou para recuperar pontes com
o PSDB e o PFL. Palocci tem se
reunido e telefonado com parlamentares da oposição, especialmente do Senado. Palocci tenta
evitar "pane política", segundo
expressão ouvida pela Folha no
Palácio do Planalto. Mas há resistência no PT a uma reaproximação com os tucanos, bem como
em setores do PSDB. As seções
paulistas de ambos os partidos
são as mais refratárias à reabertura de conversações.
Palocci tenta convencer Lula a
fazer acenos para o PSDB -por
exemplo, declaração pública explícita de que precisa da oposição
para evitar que a crise política
contamine a economia. Thomaz
Bastos insiste no mesmo.
O senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) disse à Folha que os
maiores obstáculos a um entendimento entre PT e PSDB para uma
administração mais tranquila da
crise vêm do PT. "Será que eles
realmente têm interesse. Eu vejo
algumas ações no Congresso que
não ajudam", diz o tucano, referindo-se a ameaças de petistas de
investigar supostos casos de corrupção do governo FHC (1995-2002).
O governador Aécio Neves
(PSDB-MG), que esteve com Lula
na segunda-feira, concorda com
Tasso. "É preciso que o PT deixe
[Lula ser ajudado pelo PSDB]",
afirmou. Aécio se mostrou disposto a fazer articulações com outros governadores em julho para
que seja retomada em agosto uma
agenda de votações no Congresso. Isso evitaria que apenas a crise
política seja notícia.
Prazo
Palocci gostaria de estipular um
prazo para o fim das investigações
de corrupção (novembro ou dezembro) e um procedimento que
as torne menos tensas. Não há ilusão de que seja possível controlar
as apurações, pois os fatos ganharam dinâmica própria, avaliaram
Palocci e Aécio.
Hoje, há várias frentes desfavoráveis ao governo no Congresso.
Além da CPI dos Correios e de outras que podem ser instaladas, as
investigações da Câmara concentram seu foco no "mensalão".
Foi Palocci quem convidou Aécio para falar com Lula na segunda-feira. Durante a semana, o ministro da Fazenda atendeu ontem
pleitos administrativos de senadores da oposição em seis Estados. O eventual acordo com o
PSDB não envolveria cargos, mas
boa vontade com suas administrações.
Texto Anterior: Outro lado: Empresário não quis responder sobre Globalprev Próximo Texto: Disputa dentro do PSDB cresce em meio à crise Índice
|