São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDO

Em meio à crise, presidente reabre canal de diálogo com tucanos; governo teme piora da situação, com contágio da economia

Lula tenta estabelecer ponte com FHC

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio à maior crise política de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reabriu um canal com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Há forte possibilidade de que tenham uma conversa em breve, se for preciso dar sinais públicos de algum entendimento entre PT e PSDB, em caso de a gravidade da situação, no entendimento de ambos, assim o exigir.
A pedido de Lula, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi o emissário que procurou FHC. O ministro visitou o tucano em seu apartamento em São Paulo, no domingo passado.
Levou a mensagem de que o governo, por meio da Polícia Federal, investigaria seriamente as denúncias de corrupção e de que Lula já estava pulando fora da tese petista de um golpe das elites contra o governo.
Polido, FHC se dispôs a conversar com Lula diretamente, se o presidente quiser. A iniciativa, porém, teria de partir claramente do petista. O ex-presidente afirmou que não tem interesse num agravamento da crise que resulte num eventual impeachment de Lula ou noutro tipo de forte turbulência institucional.
Ambos concordaram que era conveniente manter a economia a salvo de um eventual contágio pela crise política.
Ao lado das articulações de Thomaz Bastos, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, atuou para recuperar pontes com o PSDB e o PFL. Palocci tem se reunido e telefonado com parlamentares da oposição, especialmente do Senado. Palocci tenta evitar "pane política", segundo expressão ouvida pela Folha no Palácio do Planalto. Mas há resistência no PT a uma reaproximação com os tucanos, bem como em setores do PSDB. As seções paulistas de ambos os partidos são as mais refratárias à reabertura de conversações.
Palocci tenta convencer Lula a fazer acenos para o PSDB -por exemplo, declaração pública explícita de que precisa da oposição para evitar que a crise política contamine a economia. Thomaz Bastos insiste no mesmo.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse à Folha que os maiores obstáculos a um entendimento entre PT e PSDB para uma administração mais tranquila da crise vêm do PT. "Será que eles realmente têm interesse. Eu vejo algumas ações no Congresso que não ajudam", diz o tucano, referindo-se a ameaças de petistas de investigar supostos casos de corrupção do governo FHC (1995-2002).
O governador Aécio Neves (PSDB-MG), que esteve com Lula na segunda-feira, concorda com Tasso. "É preciso que o PT deixe [Lula ser ajudado pelo PSDB]", afirmou. Aécio se mostrou disposto a fazer articulações com outros governadores em julho para que seja retomada em agosto uma agenda de votações no Congresso. Isso evitaria que apenas a crise política seja notícia.

Prazo
Palocci gostaria de estipular um prazo para o fim das investigações de corrupção (novembro ou dezembro) e um procedimento que as torne menos tensas. Não há ilusão de que seja possível controlar as apurações, pois os fatos ganharam dinâmica própria, avaliaram Palocci e Aécio.
Hoje, há várias frentes desfavoráveis ao governo no Congresso. Além da CPI dos Correios e de outras que podem ser instaladas, as investigações da Câmara concentram seu foco no "mensalão".
Foi Palocci quem convidou Aécio para falar com Lula na segunda-feira. Durante a semana, o ministro da Fazenda atendeu ontem pleitos administrativos de senadores da oposição em seis Estados. O eventual acordo com o PSDB não envolveria cargos, mas boa vontade com suas administrações.


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