São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Firma de laranja do Senado também atuou na Câmara

Empresa de crédito consignado em nome da ex-babá de Zoghbi recebeu R$ 3 milhões

O ex-diretor de Recursos Humanos do Senado afirma que não tem relação com as empresas da ex-babá e diz que elas são de seu filho

ALAN GRIPP
FÁBIO ZANINI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O esquema de uso de laranjas para negociar crédito consignado no Senado também funcionou na Câmara. Uma empresa registrada em nome de uma ex-babá com o objetivo de ocultar seus donos agenciou empréstimos com desconto em folha e recebeu comissão por isso.
A BM Assessoria de Crédito Ltda. fechou contratos com servidores da Câmara durante o ano de 2008, como ela própria admitiu à Folha. A empresa tem como maior acionista Maria Izabel Gomes, ama de leite de João Carlos Zoghbi, afastado do cargo de diretor de Recursos Humanos do Senado.
Zoghbi é investigado pela Polícia Federal pela suspeita de ser o real dono da BM e de outras quatro empresas registradas em nome da ex-babá. Maria Izabel não tem renda.
O diretor afastado também é responsabilizado pela publicação de parte dos 663 atos secretos revelados no Senado.
Na Câmara, a BM negociou empréstimos no papel de correspondente bancário (intermediário) do banco Bancred S.A., autorizado a vender crédito a servidores e a deputados.
Procurada pela Folha, a empresa confirmou ter atuado na Câmara, mas disse ter fechado apenas "por volta de 15" empréstimos. Não informou quanto recebeu de comissão do Bancred nem quanto faturou. A Câmara diz desconhecer a ação de intermediários e que fecha convênio só com bancos.
Outras duas firmas da ex-babá, a BC Assessoria de Crédito e a Contact, também eram correspondentes do Bancred na Câmara, mas não há notícia de que tenham fechado contratos.
O Bancred pertence hoje 100% ao Itaú Unibanco, mas, no período dos empréstimos, o controle do banco era dividido com o Banco Cruzeiro do Sul. Nenhuma das três instituições financeiras quis falar do caso.
Segundo a revista "Época", o Bancred deu um salto em seus negócios com o Senado depois de autorizar a BM a operar crédito consignado em seu nome. Em 2007, a carteira do Bancred era de R$ 4 milhões; em 2008, subiu para R$ 91 milhões.
Lá, as empresas da ex-babá de Zoghbi são suspeitas de terem recebido cerca de R$ 3 milhões em comissões referentes a empréstimos a funcionários. Só o Cruzeiro do Sul pagou R$ 2,5 milhões à Contact.
Zoghbi diz não ter relação com as empresas, que pertencem a seu filho Marcelo Zogbhi. Eles são investigados pela PF e pelo Ministério Público.
Desde o final de 2007, o mercado de crédito consignado na Câmara é explorado quase que totalmente por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Mas bancos privados ainda conseguem clientes que precisam de empréstimos elevados ou que não preenchem requisitos exigidos pelas instituições públicas, como nome limpo.
O contrato da Bancred com a Câmara ainda está em vigor: vence em agosto de 2010.
Em março, Zoghbi perdeu o cargo de diretor após a revelação de que ele vive em uma casa da alto padrão em Brasília, mas não abriu mão do apartamento funcional, onde deixou um filho morando de graça. Ele integrava o grupo do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, exonerado do cargo.


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