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Suíça bloqueia outra conta na investigação do caso Alstom
Autoridades suspeitam de banqueiro que ajudou a montar contrato com a Eletropaulo
Executivo representava o banco Societé Générale; documentos obtidos por procuradores sugerem que banqueiro recebeu propina
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Autoridades da Suíça bloquearam uma conta atribuída
ao banqueiro aposentado francês Jean Marie Lannelongue
por terem encontrado indícios
de que ele recebeu o pagamento de comissões ilegais da multinacional francesa Alstom.
Lannelongue, que vive no
Brasil desde os anos 80, representava o banco Societé Générale no país e ajudou a montar a
engenharia financeira que permitiu que a Alstom fechasse
um contrato com a Eletropaulo
de R$ 110 milhões em valores
de 2001 -hoje seriam R$ 221
milhões, quando se corrige o
contrato pelo IGP-M (Índice
Geral de Preços do Mercado, da
Fundação Getulio Vargas).
Na semana passada, a Folha
revelou que o Ministério Público da Suíça bloqueara uma
conta atribuída a Robson Marinho, conselheiro do Tribunal
de Contas do Estado de São
Paulo. Marinho é suspeito de
ter recebido propina da Alstom
para ajudar a empresa a fechar
o negócio com a Eletropaulo.
Ele ocupou o segundo cargo
mais importante no governo de
Mário Covas (PSDB): Marinho
foi chefe da Casa Civil entre
março de 1995 e abril de 1997.
O conselheiro do TCE paulista
nega ter conta na Suíça ou em
outro país.
O contrato de R$ 110 milhões
faz parte de uma novela que remonta a 1990. Naquele ano, a
Eletropaulo e a Cogelex (empresa formada pela junção da
Alstom com a Cegelec) assinaram o aditivo de número dez de
um projeto chamado Gisel
(Grupo Industrial para o Sistema da Eletropaulo).
Transmissão de energia
O objetivo do projeto era modernizar o sistema de transmissão de energia. O aditivo dez visava a construção de subestações de energia em dois bairros
da cidade de São Paulo: Cambuci e Aclimação, no centro.
Como o país passava por crises econômicas em série, com
inflação estratosférica e corte
de crédito internacional, o contrato com a Eletropaulo não
saiu do papel até 1998.
No ano anterior, o governo
francês decidira financiar o
projeto da Eletropaulo porque
o contrato representava ganhos de divisas para a França.
O banco Sociéte Générale foi a
instituição escolhida para cuidar do financiamento.
Intermediações desse tipo
são corriqueiras no mundo dos
negócios. O problema, segundo
os promotores suíços, é que
Lannelongue não se restringiu
a dar consultoria financeira à
Eletropaulo e à Alstom. Ele teria recebido recursos da Alstom
que podem ser caracterizados
como propina, ainda de acordo
com a visão da Promotoria.
Offshore
Um dos indícios que o banqueiro recebeu propina está em
documentos da Alstom coletados pelos promotores suíços.
Outro indício foi encontrado
nas movimentações de uma
empresa offshore de Lannelongue -a Splendore y Associados.
A Splendore foi uma das empresas pelas quais passou parte
das propinas pagas pela Alstom, segundo a Promotoria suíça. A Suíça diz que um grupo de
offshores recebeu comissões
que somam 34 milhões de francos franceses (equivalentes hoje a cerca de R$ 13,5 milhões).
Offshore é um tipo de empresa aberta em paraíso fiscal por
duas razões: paga menos impostos e há um grau de sigilo
sobre os seus proprietários
muito maior do que numa empresa regular.
Lannelongue é figura influente entre a comunidade
francesa que vive em São Paulo.
Ele foi presidente da Câmara
de Comércio França-Brasil até
março de 2005 e é presidente
de honra da entidade.
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