São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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REGIME MILITAR
Imagens da perícia contestam tese de inquérito militar sobre local da explosão da bomba em 1981, no Rio
Fotos reforçam suspeita sobre Riocentro

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Fotos guardadas há 18 anos no Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Polícia Civil do Rio, reforçam a suspeita de que o IPM (Inquérito Policial Militar) feito pelo Exército para apurar o caso Riocentro apresentou conclusões forjadas.
As fotografias mostram a barriga e os órgãos genitais do sargento do Exército Guilherme do Rosário completamente destruídos. Também mostram que estavam intactos o braço direito do militar e a lateral do banco onde ele sentava.
A abertura do IPM foi motivada pela explosão, na noite de 30 de abril de 1981, de uma bomba dentro de um Puma estacionado no pátio do Riocentro, na zona oeste carioca, onde ocorria um show de música em comemoração do Dia do Trabalho.
Na explosão, morreu o sargento, que estava no assento ao lado do motorista, Wilson Machado, à época capitão e hoje tenente-coronel do Exército. Machado teve ferimentos graves na barriga, mas se recuperou.
Presidido pelo então coronel e hoje general da reserva Job Lorena de Sant'Anna, o IPM concluiu que os militares foram vítimas de um ataque terrorista.
O IPM foi arquivado porque Sant'Anna informou não ter conseguido identificar os responsáveis pelo suposto atentado. Ele assegurou que a bomba explodira no espaço entre o banco do carona e a porta do carro.
Não é o que as fotografias mostram. Também não é o que concluiu o autor das fotos, o engenheiro civil Luiz César da Veiga Pires, que trabalhava, na ocasião, como perito do Instituto de Criminalística Carlos Éboli.
"Fui bem claro no meu laudo. A bomba explodiu em algum ponto acima do banco. Possivelmente no colo do sargento, mas isso não poderia afirmar porque não periciei o corpo. Fui responsável pela perícia do carro e do local", disse Pires, 65.
De acordo com o perito, se a bomba tivesse explodido onde o Exército informou, "o banco seria destroçado lateralmente", e o braço direito do sargento possivelmente teria sido arrancado.
"Meu laudo não foi considerado pelo responsável pelo IPM, que o recebeu", afirmou Pires. Cópias das fotos guardadas no Instituto de Criminalística foram enviadas para o Exército à época do IPM.
O perito foi uma das 11 pessoas interrogadas nos últimos meses pelo procurador-geral da Justiça Militar, Kléber Coêlho, que determinou ao Exército a abertura de um novo IPM para apurar a autoria da explosão.
A Folha tentou ouvir o general Sant'Anna sobre as suspeitas de que a conclusão do IPM foi manipulada para inocentar os militares.
"Não adianta insistir. Eu não dou entrevistas", disse o general à Folha, na portaria do prédio em que mora, na zona sul do Rio.

Qualidade
No total, Pires tirou 14 fotografias em preto e branco, todas de qualidade ruim, muito desfocadas.
"Odeio essas fotos. Eu fotografo bem, mas naquela noite usei uma máquina Yashica pequena, de foco fixo. Era a disponível na perícia. Infelizmente, não tínhamos bom material. Saiu tudo uma droga", lamentou Pires.
O perito também fotografou a casa de forças do Riocentro, onde houve a explosão de uma segunda bomba, que não causou vítimas.
"Essa bomba ou era de menor intensidade ou teve sua força dissipada por ter explodido ao ar livre. A casa de forças não chegou a ser danificada. Ficou apenas o buraco no chão causado pela explosão."



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