|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REGIME MILITAR
Imagens da perícia contestam tese de inquérito militar sobre local da explosão da bomba em 1981, no Rio
Fotos reforçam suspeita sobre Riocentro
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Fotos guardadas há 18 anos no
Instituto de Criminalística Carlos
Éboli, da Polícia Civil do Rio, reforçam a suspeita de que o IPM
(Inquérito Policial Militar) feito
pelo Exército para apurar o caso
Riocentro apresentou conclusões
forjadas.
As fotografias mostram a barriga
e os órgãos genitais do sargento do
Exército Guilherme do Rosário
completamente destruídos. Também mostram que estavam intactos o braço direito do militar e a lateral do banco onde ele sentava.
A abertura do IPM foi motivada
pela explosão, na noite de 30 de
abril de 1981, de uma bomba dentro de um Puma estacionado no
pátio do Riocentro, na zona oeste
carioca, onde ocorria um show de
música em comemoração do Dia
do Trabalho.
Na explosão, morreu o sargento,
que estava no assento ao lado do
motorista, Wilson Machado, à
época capitão e hoje tenente-coronel do Exército. Machado teve ferimentos graves na barriga, mas se
recuperou.
Presidido pelo então coronel e
hoje general da reserva Job Lorena
de Sant'Anna, o IPM concluiu que
os militares foram vítimas de um
ataque terrorista.
O IPM foi arquivado porque Sant'Anna informou não ter conseguido identificar os responsáveis pelo
suposto atentado. Ele assegurou
que a bomba explodira no espaço
entre o banco do carona e a porta
do carro.
Não é o que as fotografias mostram. Também não é o que concluiu o autor das fotos, o engenheiro civil Luiz César da Veiga Pires,
que trabalhava, na ocasião, como
perito do Instituto de Criminalística Carlos Éboli.
"Fui bem claro no meu laudo. A
bomba explodiu em algum ponto
acima do banco. Possivelmente no
colo do sargento, mas isso não poderia afirmar porque não periciei o
corpo. Fui responsável pela perícia
do carro e do local", disse Pires, 65.
De acordo com o perito, se a
bomba tivesse explodido onde o
Exército informou, "o banco seria
destroçado lateralmente", e o braço direito do sargento possivelmente teria sido arrancado.
"Meu laudo não foi considerado
pelo responsável pelo IPM, que o
recebeu", afirmou Pires. Cópias
das fotos guardadas no Instituto
de Criminalística foram enviadas
para o Exército à época do IPM.
O perito foi uma das 11 pessoas
interrogadas nos últimos meses
pelo procurador-geral da Justiça
Militar, Kléber Coêlho, que determinou ao Exército a abertura de
um novo IPM para apurar a autoria da explosão.
A Folha tentou ouvir o general
Sant'Anna sobre as suspeitas de
que a conclusão do IPM foi manipulada para inocentar os militares.
"Não adianta insistir. Eu não dou
entrevistas", disse o general à Folha, na portaria do prédio em que
mora, na zona sul do Rio.
Qualidade
No total, Pires tirou 14 fotografias em preto e branco, todas de
qualidade ruim, muito desfocadas.
"Odeio essas fotos. Eu fotografo
bem, mas naquela noite usei uma
máquina Yashica pequena, de foco
fixo. Era a disponível na perícia.
Infelizmente, não tínhamos bom
material. Saiu tudo uma droga",
lamentou Pires.
O perito também fotografou a
casa de forças do Riocentro, onde
houve a explosão de uma segunda
bomba, que não causou vítimas.
"Essa bomba ou era de menor intensidade ou teve sua força dissipada por ter explodido ao ar livre.
A casa de forças não chegou a ser
danificada. Ficou apenas o buraco
no chão causado pela explosão."
Texto Anterior: Governo pode perder R$ 378 mi com Vasp Próximo Texto: Viúva de cabo quer indenização da União Índice
|