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Ciro descarta assinar acordo antes de eleição
OTÁVIO CABRAL
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
O candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes,
descartou ontem a possibilidade
de participar de qualquer pacto
para garantir a governabilidade
do final do mandato de Fernando
Henrique Cardoso. Ciro disse que
não assinará acordo ou carta de
intenções com o Fundo Monetário Internacional antes da eleição.
Segundo Ciro, se ele se comprometer com qualquer movimento
que vise manter o atual sistema
econômico, estará traindo o seu
eleitorado, que é de oposição e deseja modificar totalmente os rumos da economia na era FHC.
"Se assumisse isso [o pacto de
governabilidade" estaria malversando uma imensa expressão de
vontade de mudança que vejo no
país", declarou ontem em Salvador, onde passou o dia em campanha ao lado do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL).
"Sou candidato de oposição. De
oposição a esse modelo econômico que nos oprime."
O candidato trabalhista criticou
as conversas entre o PT e o governo para a aprovação de uma medida provisória que regule as
ações do mercado financeiro. "É
absolutamente inusitado, esdrúxulo mesmo, que candidatos que
nem sabem se vão dormir já comecem a armar as redes."
A possibilidade de conversar
com dirigentes do FMI para assinar um acordo de ajuda econômica ao Brasil que dure até 2003
também foi criticada. Para ele, a
responsabilidade de assinar acordos e tratados internacionais é do
atual governo. Se ele for eleito, aí
poderá firmar novos acordos e
cumprir ou não os que foram
acertados no mandato anterior.
Disse, porém, que nada fará para prejudicar os entendimentos
entre o Brasil e o FMI: "Confio no
espírito público dos negociadores
brasileiros. Seria a última pessoa a
atrapalhar um entendimento que
viesse para consertar o desastre
produzido pelo atual governo".
O presidenciável jogou toda a
culpa pela crise econômica que o
país atravessa em FHC e seus aliados, principalmente José Serra.
Para ele, a oposição não pode ser
responsabilizada pela crise.
"O candidato oficial, desesperado, começa a semear boatos sobre
a oposição para, usando o destino
do país, tentar mudar uma equação de impopularidade que eles
mesmos produziram." Serra, para Ciro, também é responsável pelo atual desgaste econômico.
Criticou editorial do jornal
"Washington Post", que culpa a
oposição pela crise: "Sou um homem prudente, mas sempre que a
prudência põe em xeque a soberania nacional, eu fico com a
guarda da soberania nacional".
Embora negue estar preocupado em agradar o mercado, Ciro
admitiu modificar alguns pontos
polêmicos de seu programa de
governo, como o que prevê a convocação de eleições em caso de
crise sistêmica, que, segundo ele,
nem está no programa, mas em
um livro que escreveu em 95 ao
lado de Roberto Mangabeira Unger: "Não sou FHC, não vou pedir
que esqueçam o que escrevi e o
que falei. Mas nem tudo que escrevi estará em meu programa".
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